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Segurança

Roubo de cargas cresce no Paraná e assusta empresas

Aldemir Pires, gerente da empresa Bitway Computadores, em Piraquara: roubo de equipamentos parou linha de produção por falta de peças | Daniel Castellano / Gazeta do Povo
Aldemir Pires, gerente da empresa Bitway Computadores, em Piraquara: roubo de equipamentos parou linha de produção por falta de peças (Foto: Daniel Castellano / Gazeta do Povo)

O roubo de cargas anda amedrontando transportadoras e motoristas no Paraná. Não há dados para comprovar o aumento ou para ma­­pear os casos no estado, mas a percepção geral dos trabalhadores do setor é de que, no ano passado, hou­­ve um crescimento significativo de episódios, especialmente na Região Me­­tro­­politana de Curitiba (RMC). En­­tidades representativas do setor pe­­dem dados mais precisos, uma de­­legacia especial para esse tipo de rou­­bo e a regulamentação da Lei 121/2006, conhecida como Ne­­gromonte e que visa coibir esse ti­­po de crime.

Apesar de não existirem dados ofi­­ciais de roubos de cargas no Pa­­raná, há números que mostram o ce­­nário nacional. Os zeros assustam: em 2010, quase R$ 1 bilhão foi perdido para ladrões de cargas em todo o Brasil, segundo levantamento da Associação Nacional do Trans­porte de Cargas e Logística. En­­­­tretanto, o prejuízo po­­de ser ainda maior devido a uma sub­­­notificação de casos. Ainda não foram divulgados os números de 2011.

A maioria dos crimes ocorre na região Sudeste, principalmente no estado de São Paulo. Do total, 81,3% dos roubos aconteceram nesta região, por onde circulam as mer­­cadorias mais visadas do Bra­­sil. No Sul, o prejuízo foi de R$ 107 milhões. O valor da carga roubada na região é proporcionalmente mais alto do que a média nacional, já que os três estados concentraram apenas 8,6% das ocorrências. Entidades representativas do setor apontam, ainda, que a concentração no Sudeste está diminuindo, e que os ladrões de carga estão vindo para o Paraná.

Aumento

Segundo o presidente da Fede­ração das Transportadoras de Car­gas do Paraná (Fetranspar), coronel Sérgio Malucelli, esse crescimento recente assusta, principalmente, porque se trata de um fenômeno relativamente novo no Paraná. "Antes, tínhamos um dos índices mais baixos, mas os roubos cresceram muito nos últimos anos", co­­menta. Segundo Malu­celli, a situação piorou nos meses de outubro, novembro e dezembro de 2011.

Presidente do Sindicato das Em­­presas de Transportes de Cargas no Es­­tado do Paraná (Setcepar), Gil­­ber­­to Antônio Cantú também afirma que o número de reclamações vin­­das dos associados aumentou sig­­nificativamente no último ano. O local onde esse tipo de crime tem acon­­tecido com mais frequência é na RMC, especialmente ao longo do Contorno Leste, que vai da Zona Sul de Curitiba até Qua­­­­tro Barras, a nordeste da capital.

A falta de dados precisos dificul­­ta o mapeamento das ocorrências e, por consequência, o combate a esse crime. Segundo a Secretaria de Estado de Segurança do Paraná (Sesp-PR), o registro de roubo de carga varia de acordo com o boletim de ocorrência. Quando o caminhão é roubado junto, configura-se roubo de veículo. Se apenas a carga é levada, o crime é tipificado como roubo comum.

Alvos

Atualmente, os alvos favoritos dos ladrões são cargas com um valor intermediário, já que os produtos mais caros tendem a ser também mais vigiados. Segundo o presidente da corretora de seguros Con­voy, Heleno Gomes Farias, são mais visados cigarros, eletrônicos e medicamentos, produtos que são relativamente fáceis de serem re­­vendidos.

Entidades pedem delegacia exclusiva

Entidades do setor de transportes de cargas e corretoras de seguros es­­pe­­cializadas pedem a criação de uma delegacia exclusiva para in­­vestigar desvios de carga, como existe no Rio de Janeiro e em São Paulo. Para elas, o combate especializado poderia diminuir as ocorrências no Paraná.

Hoje, há uma Delegacia de Este­­lionato e Desvio de Cargas, ou seja, o roubo de cargas acaba "dividindo" as atenções com outros crimes. Se­gundo o delegado Cassiano Au­­fiero, já existem estudos para avaliar a viabilidade da proposta, mas ainda não se sabe se essa medida se­­ria, de fato, eficiente no combate ao crime.

De acordo com o presidente da Fe­­deração das Transportadoras de Cargas do Paraná (Fetranspar), Sérgio Malucelli, porém, a medida ajudou bastante no combate a essa modalidade de crime em São Paulo, apesar de o estado ainda con­­centrar a maioria das ocorrências no Brasil.

Aufiero afirma que a separação dessas duas modalidades – estelionato e desvio de carga – está sen­­do discutida. Entretanto, ele ar­­­gumenta que o combate de forma con­­junta também é importante. O roubo de cargas é um crime sofisticado: para ser bem sucedido, o ladrão precisa de um receptor, que deve também cometer fraudes fiscais para conseguir repassar essa carga para o consumidor. Nessa ca­­deia, estelionatários e ladrões estariam intimamente ligados.

Legislação

Outra cobrança feita pelo setor é a regulamentação da Lei Negro­monte, aprovada em 2006. Pro­­posta pelo então deputado federal Má­rio Negromonte (PP-BA), a lei pre­­vê a criação do Sistema Na­­cional de Prevenção, Fiscalização e Re­­pressão ao Furto e Roubo de Veí­­culos e Cargas. Apesar de aprovada, ela nunca foi regulamentada e, portanto, não funciona na prática.

A importância da integração da fis­­calização proposta pela lei ocorre porque o roubo de cargas envolve outros delitos e as gangues não respeitam as delimitações territoriais do Brasil. Um exemplo é que a carga roubada no Pa­­raná pode ser vendida em Santa Ca­­tarina, São Paulo, ou mesmo fora do país.

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