O roubo de cargas anda amedrontando transportadoras e motoristas no Paraná. Não há dados para comprovar o aumento ou para mapear os casos no estado, mas a percepção geral dos trabalhadores do setor é de que, no ano passado, houve um crescimento significativo de episódios, especialmente na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Entidades representativas do setor pedem dados mais precisos, uma delegacia especial para esse tipo de roubo e a regulamentação da Lei 121/2006, conhecida como Negromonte e que visa coibir esse tipo de crime.
Apesar de não existirem dados oficiais de roubos de cargas no Paraná, há números que mostram o cenário nacional. Os zeros assustam: em 2010, quase R$ 1 bilhão foi perdido para ladrões de cargas em todo o Brasil, segundo levantamento da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística. Entretanto, o prejuízo pode ser ainda maior devido a uma subnotificação de casos. Ainda não foram divulgados os números de 2011.
A maioria dos crimes ocorre na região Sudeste, principalmente no estado de São Paulo. Do total, 81,3% dos roubos aconteceram nesta região, por onde circulam as mercadorias mais visadas do Brasil. No Sul, o prejuízo foi de R$ 107 milhões. O valor da carga roubada na região é proporcionalmente mais alto do que a média nacional, já que os três estados concentraram apenas 8,6% das ocorrências. Entidades representativas do setor apontam, ainda, que a concentração no Sudeste está diminuindo, e que os ladrões de carga estão vindo para o Paraná.
Aumento
Segundo o presidente da Federação das Transportadoras de Cargas do Paraná (Fetranspar), coronel Sérgio Malucelli, esse crescimento recente assusta, principalmente, porque se trata de um fenômeno relativamente novo no Paraná. "Antes, tínhamos um dos índices mais baixos, mas os roubos cresceram muito nos últimos anos", comenta. Segundo Malucelli, a situação piorou nos meses de outubro, novembro e dezembro de 2011.
Presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas no Estado do Paraná (Setcepar), Gilberto Antônio Cantú também afirma que o número de reclamações vindas dos associados aumentou significativamente no último ano. O local onde esse tipo de crime tem acontecido com mais frequência é na RMC, especialmente ao longo do Contorno Leste, que vai da Zona Sul de Curitiba até Quatro Barras, a nordeste da capital.
A falta de dados precisos dificulta o mapeamento das ocorrências e, por consequência, o combate a esse crime. Segundo a Secretaria de Estado de Segurança do Paraná (Sesp-PR), o registro de roubo de carga varia de acordo com o boletim de ocorrência. Quando o caminhão é roubado junto, configura-se roubo de veículo. Se apenas a carga é levada, o crime é tipificado como roubo comum.
Alvos
Atualmente, os alvos favoritos dos ladrões são cargas com um valor intermediário, já que os produtos mais caros tendem a ser também mais vigiados. Segundo o presidente da corretora de seguros Convoy, Heleno Gomes Farias, são mais visados cigarros, eletrônicos e medicamentos, produtos que são relativamente fáceis de serem revendidos.
Entidades pedem delegacia exclusiva
Entidades do setor de transportes de cargas e corretoras de seguros especializadas pedem a criação de uma delegacia exclusiva para investigar desvios de carga, como existe no Rio de Janeiro e em São Paulo. Para elas, o combate especializado poderia diminuir as ocorrências no Paraná.
Hoje, há uma Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas, ou seja, o roubo de cargas acaba "dividindo" as atenções com outros crimes. Segundo o delegado Cassiano Aufiero, já existem estudos para avaliar a viabilidade da proposta, mas ainda não se sabe se essa medida seria, de fato, eficiente no combate ao crime.
De acordo com o presidente da Federação das Transportadoras de Cargas do Paraná (Fetranspar), Sérgio Malucelli, porém, a medida ajudou bastante no combate a essa modalidade de crime em São Paulo, apesar de o estado ainda concentrar a maioria das ocorrências no Brasil.
Aufiero afirma que a separação dessas duas modalidades estelionato e desvio de carga está sendo discutida. Entretanto, ele argumenta que o combate de forma conjunta também é importante. O roubo de cargas é um crime sofisticado: para ser bem sucedido, o ladrão precisa de um receptor, que deve também cometer fraudes fiscais para conseguir repassar essa carga para o consumidor. Nessa cadeia, estelionatários e ladrões estariam intimamente ligados.
Legislação
Outra cobrança feita pelo setor é a regulamentação da Lei Negromonte, aprovada em 2006. Proposta pelo então deputado federal Mário Negromonte (PP-BA), a lei prevê a criação do Sistema Nacional de Prevenção, Fiscalização e Repressão ao Furto e Roubo de Veículos e Cargas. Apesar de aprovada, ela nunca foi regulamentada e, portanto, não funciona na prática.
A importância da integração da fiscalização proposta pela lei ocorre porque o roubo de cargas envolve outros delitos e as gangues não respeitam as delimitações territoriais do Brasil. Um exemplo é que a carga roubada no Paraná pode ser vendida em Santa Catarina, São Paulo, ou mesmo fora do país.