Medo
População reclama da sensação de insegurança das ruas
A dona de casa Rosângela Mendes, 42 anos, voltava do mercado de bicicleta, por volta das 18 horas, no bairro Boqueirão, em Curitiba, quando foi parada por um grupo de jovens. Os quatro também estavam em bicicletas e pediram uma informação, na frente do terminal de ônibus do Carmo. "Eles tinham em torno de 18 anos. Logo depois de pedirem a informação, mostraram uma arma na cintura e levaram minha bicicleta. Eles roubam para trocar por droga", conta.
Sem saber o que fazer, entregou a bicicleta. "Tive de entregar. É uma sensação de estar desprotegida", comenta. O crime ocorreu em outubro do ano passado. Na época, Rosângela não registrou o boletim de ocorrência.
Manhã
Por volta das 5h30, quando saía para ir para universidade, Juliana Bortolato, 29 anos, estudante de Medicina Veterinária, foi abordada por um homem. "Ele foi logo dizendo que tinha Aids, que não queria esmola, só tudo que eu tinha na carteira", relata. O caso ocorreu em abril do ano passado, perto do terminal do Capão da Imbuia.
Sentimento
Em janeiro deste ano, um levantamento feito pela Paraná Pesquisas para a Gazeta do Povo revelou que, apesar de uma diminuição de 18% na taxa de homicídios no estado de 2007 para cá, 75% dos curitibanos sentem-se menos seguros hoje que a há cinco anos. Para os especialistas, são os crimes contra o patrimônio que colaboram para essa sensação.
O número de assaltos a comércio cresceu 10% no ano passado em Curitiba. O aumento se estendeu pelo restante do estado em torno de 8%, segundo números divulgados pela Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp-PR). Além disso, pelo segundo ano consecutivo, o roubo na rua superou o furto, o que revela uma tendência de aumento da violência nos crimes contra o patrimônio.
INFOGRÁFICO: Confira o total de furtos e roubos em Curitiba
"A supremacia do roubo nas ruas ante o furto é um fenômeno verificado também no Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Revela uma tendência de sofisticação no crime contra o patrimônio", afirma o sociólogo e ex-secretário da Segurança Pública de Minas Gerais, Luis Flávio Sapori. Na capital paulista, houve um aumento de 12% no número de roubos entre 2012 e 2013.
De acordo com o especialista, a gravidade desse quadro tende a piorar porque, com o uso da violência, aumenta a possibilidade de sucesso do criminoso e o risco de ocorrer o latrocínio (roubo seguido de morte). "Isso revela que a Segurança Pública não pode estar focada apenas no homicídio, como é comum. É preciso pensar nos crimes contra vida e contra o patrimônio juntos. São os roubos que provocam a sensação de insegurança na população", ressalta Sapori.
De acordo com o balanço da Sesp-PR, o ano passado terminou com 14.609 roubos a transeunte contra 11.921 furtos, em Curitiba. Em 2012, a diferença no total entre os dois crimes foi quase a mesma que em 2013. Apesar de haver um registro de queda de 11% no furto ocorrido nas ruas, o crescimento do roubo preocupa e demonstra que os criminosos têm usado mais violência para cometer o delito.
Boa notícia
Por outro lado, os roubos a residências diminuíram quase 12% em Curitiba. Um dos motivos da queda, segundo a polícia, foi a prisão de uma quadrilha especializada neste tipo de crime, em dezembro do ano passado. Na época, a Delegacia de Furtos e Roubos de Curitiba (DFR) informou que os quatorze suspeitos detidos eram responsáveis por todos os assaltos a residências de alto padrão ocorridos em Curitiba nos últimos dois meses. O roubo a residência caiu 7% em todo estado.
Prevenção
Na avaliação de Sapori, a diminuição dos crimes contra o patrimônio depende, na maior parte dos casos, da capacidade de resposta da polícia. "São poucos os assaltantes e esses cometem muitos assaltos, normalmente", explica. Segundo ele, se há aumento, é porque a polícia não está usando de forma eficaz as informações de inteligência para cobrir essas regiões com o efetivo necessário, tampouco conseguindo identificar e prender os autores dos crimes.
Usuários de crack são maioria dos bandidos, diz delegado
O delegado-chefe da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos, Francisco Caricati, explica que a maioria dos roubos ocorridos nas ruas de Curitiba tem sido cometidos por dependentes de crack. Na avaliação dele, isso torna o combate às ocorrências mais complexo. "É um tipo de crime mais difícil de reprimir. Podemos até identificar o suspeito, mas, como ele não tem residência fixa, dificulta a localização para prisão", comenta Caricati.
Ele conta ainda que tem se reunido com a prefeitura de Curitiba para programar um projeto para identificar os usuários nas ruas. "É um projeto da Polícia Civil, que contará com a ajuda da Guarda Municipal", destaca. De acordo com Caricati, quando o usuário tiver mandado de prisão em aberto, o trâmite padrão será o policial, com averiguação e prisão. Nos outros casos, a prefeitura dará o atendimento necessário, de reabilitação e encaminhamento a abrigos.
Queda
Caricati explica ainda que ocorreu um aumento de 16% no roubo a comércio de Curitibano primeiro semestre do ano passado. Para ele, as estatísticas divulgadas agora, com crescimento de 10%, representam, portanto, um freio no avanço desse tipo de crime na capital paranaense.
O delegado fala também em certa responsabilidade pelo aumento das estatísticas. Caricati conta que assumiu a DFR no segundo semestre de 2013 e explica que, desde então, focou nas grandes investigações de roubo a residências e na orientação de comerciantes. Segundo ele, é preciso também que os empresários melhorem a segurança privada de seus estabelecimentos.
"Nós também erramos, claro. Mas todos têm parcela de responsabilidade. É preciso também dificultar a ação do criminoso", diz o delegado. Ele frisa que o comportamento do empresário contribui para evitar o crime, assim como o trabalho da polícia. O delegado, no entanto, ressalta que é preciso um policiamento preventivo mais eficaz nas ruas.
PM
A reportagem solicitou entrevista à Polícia Militar (PM), mas a assessoria da instituição informou que o comando geral estava em reunião e, por isso, enviou uma nota. Segundo o texto, os números de furtos e roubos estão "na faixa da normalidade". Sobre a queda registrada nos furtos e roubos a residências, a nota explica que ela está relacionada também ao aumento da capacidade operacional da PM.
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