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O jogo de tabuleiro “Jaguareté” começa com um encontro. Do branco europeu com as tribos indígenas que viviam no Sul do Brasil, por volta de 1.500. Também é o encontro dos jogadores com esta realidade. Como pensavam os portugueses, Tupinambás e Guaianás que viviam nesta época? Responder a esta pergunta é o ponto de partida para jogar o RPG, uma vez que o jogador deve incorporar o personagem, não apenas movimentá-lo sobre um tabuleiro.

Mitologia ajuda a tirar ensino indígena do papel

A antropologia contemporânea propõe estudar os indígenas a partir dos pontos de vistas destas populações sobre o mundo.

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Produzido ao longo de dois anos, o jogo é a menina dos olhos do ramo educativo do Museu de Arqueologia e Etnografia (MAE) da Universidade Federal do Paraná. Além de ser correto do ponto de vista etnográfico (ou seja, levam a sério as culturas indígenas), o jogo não perde em nada de seus similares comerciais, em termos de qualidade.

Exemplo disso são as ilustrações. Desenhadas por estudantes de artes plásticas da UFPR, que participaram do projeto, são fruto de estudo. A proporção de corpo do indígena é diferente da europeia, a mata que ele enfrenta é diferente do bosque da Chahpéuzinho Vermelho. E por aí vai. O mesmo vale para o mapa, que tomou uma certa liberdade para reconstruir o Brasil de 1.500, a partir de diferentes registros históricos.

Onde encontrar

Publicado como um jogo educacional, o RPG “Jaguareté: O encontro” não pode ser comercializado. No Paraná, edições impressas do jogo foram enviadas para todas as escolas estaduais. O MAE também fecha parcerias com secretarias de educação, tanto para impressão do jogo quanto para fazer treinamento com os professores da rede. Oficinas do gênero já foram feitas nas cidades de Paranaguá e Antonina, no Litoral paranaense. Além disso, o museu participa aos sábados das mesas de RPG da Biblioteca Pública do Paraná (BPP). Mas a ação é intermitente. Para confirmar a partida, entrar em contato com a reserva técnica do museu: (41) 3313-2042.

Entusiasta do RPG e professor na rede pública do Rio de Janeiro, Jorge dos Santos Valpaços já aplicou o jogo (“mestrou”, na gíria dos RPGistas) em eventos lúdicos. Mas o grande trunfo do jogo é ele ter, além de um guia de regras, um “caderno do professor”. É o que facilita sua aplicação em sala de aula. Enquanto muitos jogos de RPG são restritos a grupos de oito a 10 pessoas, o caderno possibilita um jogo com até 40 pessoas com certa tranquilidade. O material ainda traz orientação pedagógicas, com dicas, por exemplo, para o professor criar uma avaliação em cima do jogo.

Formanda em Ciências Sociais, Kelly Esteves aplicou o jogo para alunos do 2.º ano no Colégio Estadual Paulo Leminski, em Curitiba. Um aluno, que já mestrava RPG, “devorou o material, queria um para ele”. Os alunos começaram o jogo como europeus, por ser uma “zona de conforto”. Depois quiseram trocar para Tupinambás.

O RPG não cai longe do ensino da cultura indígena. O formato do jogo permite flexibilizar a história, mesclar mitos, trocar personagens. É o que prega a antropologia: a cultura está em constante mescla e transformação. O desafio é ensinar essa história em movimento a alunos muitas vezes acostumados a decorar apenas sequências de fatos.

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