Da lista de contrapartidas entregue pela prefeitura aos administradores do Shopping Pátio Batel próximo a ser inaugurado , duas chamam a atenção por demandarem desobstrução de via pública. A interrupção de ruas, no entanto, é algo comum em Curitiba e os bloqueios são causados por condomínios, estacionamentos e até por simpáticos jardinetes.
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No Jardim Vista Alegre, por exemplo, a Rua Via Firenze praticamente desapareceu. Isso porque virou exclusividade do condomínio que, além de se apropriar do espaço físico, leva o mesmo nome da via. Moradores recém-chegados dizem nunca ter ouvido falar que ali passava uma rua, mas os antigos reclamam.
"Havia uma rua, sim. E era asfaltada. Agora, a gente entra por um lado da rua e sai pelo mesmo lado, isso se for autorizado", reclama Arildo Gomes dos Santos, 43 anos. Ele retornou ao Vista Alegre após 24 anos longe do bairro e conta ter se assustado com a presença do condomínio no lugar da via pública.
No caso das intervenções viárias do Pátio Batel, o shopping terá de se virar para fazer uma ligação entre as ruas Hermes Fontes e Bruno Filgueira sem cortar árvores do Bosque Gomm, área tombada pelo Patrimônio Histórico. Quem mora no bairro afirma que há, bem perto dali, uma solução menos traumática para desafogar o trânsito da região, mas essa solução esbarra em um jardinete construído na Rua Carmelo Rangel. De acordo com moradores de ruas próximas, o logradouro não foi construído pelo poder público. A prefeitura não confirma que o jardinete é iniciativa da população.
Outra intervenção polêmica é a abertura da Rua Abrão Lerner até a Avenida General Mário Tourinho. Para fazê-lo, o shopping Pátio Batel terá de desmontar o estacionamento de uma concessionária. De acordo com a prefeitura, o terreno é de domínio público e já há um entendimento com os lojistas que o ocupam.
O mesmo não se pode dizer do imbróglio em que se transformou, há cinco anos, a criação do binário Avenida Batel-Bispo Dom José e Hermes Fontes-Dom Pedro II. A Alameda Dom Pedro II é interrompida pelo condomínio Springfield. À época, apesar de considerar a intervenção viária importante para a região, a administração Beto Richa disse que que não havia verba para desapropriar o terreno.
O muro e a rua
Já bem longe do Batel, a construção de um muro nos fundos de um condomínio fechou a Rua Tapiranga, no São Braz. Pior do que a interrupção do tráfego, porém, foi um efeito inesperado: a sensação de insegurança. "Construíram o muro há um ano. Mas o problema maior é que ao redor ficou uma viela estreita, cheia de mato, que tem atraído usuários de drogas", reclama o mecânico Bruno do Amaral, 27 anos, que mora há dez anos em uma das casas da via bloqueada.
Piquenique e tapete vermelho em prol do Bosque Gomm
Um grupo de 60 manifestantes se reuniu na manhã de ontem, em frente ao Bosque da Casa Gomm, no Batel, para uma manifestação pela preservação da área. O local - que é tombado pelo Patrimônio Histórico - estaria ameaçado pela necessidade de abrir arruamento para escoar o trânsito do Shopping Pátio Batel.
A manifestação, denominada "Piquenique dos Sabiás", foi promovida pelo grupo "Salvemos o Bosque da Casa Gomm", que tem 1,7 mil fãs no Facebook. Por volta das 10 horas, foram servidos cerca de 500 bolinhos caseiros aos participantes, recepcionados com um tapete vermelho estendido na entrada do local. A chuva atrapalhou o protesto.No fim de junho, liminar da Justiça proibiu o Grupo Soifer responsável pela obra do Pátio Batel de realizar qualquer intervenção no Bosque da Casa Gomm. Originalmente, o imóvel centenário ocupava o espaço onde foi erguido o novo shopping e foi removido para os fundos do terreno, agora ameaçado.
Pequeno jardim público gera reclamação
Apesar de aprazível, um jardinete inaugurado em 1999 pelo então prefeito Cássio Taniguchi e que homenageia uma das fundadoras do movimento adventista sabatista, Ellen White (1827-1915) já gerou uma reclamação ao serviço 156 da prefeitura.
Motivo: o jardinete interrompe a Rua Celeste Santi, no Ahú, entre as ruas Mateus Leme e Vieira dos Santos. "Para quem não anda de carro, o local até que é bonito. Mas complica muito a vida de quem precisa pegar a Rua Mateus Leme", protesta o supervisor de vendas Reinaldo Chapanski, 57 anos.