O governo russo entregou ontem ao Brasil um conjunto de documentos inéditos sobre o líder comunista brasileiro Luiz Carlos Prestes (1898-1990). Todo o material será enviado ao Arquivo Nacional que começará a digitalizá-los na próxima segunda-feira. Os documentos ficarão disponíveis na internet ou para pesquisa na sede do órgão, no Rio de Janeiro, nos próximos 30 dias. Entre eles há fotos, cartas para familiares, poemas, telegramas e anotações sobre a conjuntura política do Brasil: a maioria é dos anos 1931 a 1934, um dos períodos em que Prestes viveu exilado na então União Soviética.
Há atas de reuniões do Comitê Executivo da Internacional Comunista, recortes, fotos e fotocópias de jornais sobre a situação no Brasil; relatório sobre o apoio popular da França entre 1936 e 1938; documentos relacionados à campanha pela libertação de Prestes; declarações e manifestos assinados pelo líder comunista; subsídios técnicos para o projeto "Biografia de Prestes", seu prontuário, entre outros.
A liberação do material foi decidida durante uma reunião entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dmitri Medvedev, em maio passado, quando Luiz Carlos Prestes Filho, um dos filhos do líder comunista, acompanhou o presidente brasileiro em Moscou. Os documentos estavam no Arquivo do Estado Russo de História Política e Social.
O destino do material doado pela Rússia, no entanto, foi alvo de disputa familiar. A viúva Maria do Carmo Ribeiro Prestes, 80, com quem o líder comunista teve nove filhos, apelou para os arquivos serem encaminhados a uma instituição pública. Mas a historiadora Anita Leocádia Prestes, 73, filha do comunista com a alemã Olga Benário (1908-1942), reivindicou a entrega dos documentos ao Instituto Luiz Carlos Prestes, no Rio de Janeiro, que ela preside. A viúva ganhou a queda de braço. Todos os originais ficarão no Arquivo Nacional, mas serão encaminhadas cópias da documentação ao Instituto Luiz Carlos Prestes e ao Arquivo Edgard Leuenroth, da Unicamp.
A viúva agradeceu ao primeiro vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia, Andrey Denisov, a doação dos documentos e ao governo russo pela educação de seus filhos e alguns netos. Dona Maria do Carmo foi com Prestes e os nove filhos para a Rússia em 1970 e só retornou em 1980, com a anistia. A família não pediu que nenhum documento seja mantido em sigilo pelo Arquivo Nacional e que toda documentação seja liberada para pesquisa pública.