Sábado e domingo é dia de acordar cedo para Jean Michel Santos, 6 anos, aluno da 1.ª série na Escola Municipal Laís Peretti. Ele está invicto no Comunidade Escola. Não falta nunca. Chega sozinho pela manhã, sai ao meio-dia para almoçar e às 13 horas já está a postos novamente. Jean chamado de mascote do programa não pode perder tempo: precisa se manter no posto de campeão mirim de xadrez nas bandas do Pirineus. "É duro ganhar dele", conforma-se Everson Taborda Chotte, 10, diante do xeque-mate anunciado pelo pequeno.
Ao lado dos dois competidores, Franciane Ketlin de Oliveira, 10, exibe três medalhas penduradas no peito. Ela fala das vitórias do colégio que ocupa uma honrosa vigésima nona colocação no ranking paranaense. "O xadrez deixa a gente mais inteligente", diz a menina, que quer ser desenhista. Jean, óbvio, avisa que será jogador de xadrez.
Nas mesas ao lado da que ocupa o trio, pelo menos seis duplas de revezam na caça à rainha. Numa delas está a zeladora Vani Maria Lisboa Carvalho, 25, mãe de Geílson, 8. Ela aplaude o programa, avisa que vem todo o sábado e que é um alívio ter um lugar para levar o menino. Sua história é conhecida: tem medo da rua, o espaço em casa é pequeno, lamenta a falta de segurança. Depois do almoço, junto com o mascote Jean, Vani é uma das primeiras a chegar para o segundo tempo. Nessa hora, dois guris apareceram à procura de um pastor alemão foragido. Não é bem um pastor, mas os meninos acham o guapeca e aproveitam para ficar por ali mesmo. Atrás deles, um mural vistoso anuncia para domingo oficinas de acordeão, violão e canto. Teve tricô. E costuma ter hip-hop, capoeira e percussão alternativa (em latas e afins, com Adão Andrade Jesus).
Enquanto em torno dos tabuleiros tudo é silêncio, na quadra a estudante de Educação Física Fabíola Luci Soares Pinheiro, 20 anos, moradora do Xaxim, divide o time de futebol de salão. Agitação. É um time modesto, com jogadores de roupas surradas e tênis em petição de miséria. Mas animado. "Já soltei uns berros", diverte-se a estudante do UnicenP. "Mas não quero por nada desse mundo trabalhar em academia. O pessoal da minha sala diz que sou louca."
Nada indica isso. Em poucos minutos de conversa, Fabíola mapeia o Pirineus, descreve a realidade de sua freguesia garotos de 9 a 13 anos e conta seus segredos. "No começo, alguns deles me testaram. Mas soube esperar. Hoje, conversam comigo. Estão criando um vínculo. É por aí." Sérgio Ribeiro, 51, que trabalha com manutenção hospitalar, também tem a vida do Pirineus na ponta da língua. É voluntário no Comunidade Escola. Mora ali desde 1981, gosta do bairro, mas critica a falta de estrutura do recanto do Pinheirinho que tem um único posto de saúde, o Concórdia, e onde o ônibus passa de hora em hora. De 1 a 10, ele daria 9 para a gravidade da situação da infância na área. "Drogadição, alcoolismo, gravidez adolescente... temos muitos problemas para discutir. Esse projeto da Unesco é um fato novo para a gente", resume.
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