A falta de prevenção adequada pode levar o mundo a ter 76 milhões de pessoas cegas em 2020. Os números são da Organização Mundial de Saúde (OMS), que chama a atenção para o fato de que as principais causas que levam à cegueira são evitáveis em 80% dos casos. No Brasil, de acordo com informações do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, estima-se que 33 mil crianças ficaram cegas devido a doenças oculares que poderiam ser evitadas ou tratadas precocemente.
Os números alarmantes levaram à criação, em 1999, da iniciativa “Visão 2020 – O direito à visão”, coordenada pela Organização Mundial da Saúde e pela Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira. O objetivo é erradicar a cegueira por causas evitáveis até o ano de 2020. “Hoje, a oftalmologia moderna consegue tratar adequadamente a maioria dos problemas oculares. Entretanto, alguns, como o glaucoma, a retinopatia diabética e a degeneração macular só terão sucesso com o tratamento se forem descobertos na fase inicial. Por isso, a palavra de ordem para tratar os problemas da visão é a prevenção”, explica Carlos Moreira Júnior, professor titular de Oftalmologia da Universidade Federal do Paraná e chefe do Serviço de Retina do Hospital de Olhos do Paraná.
A prevenção deve começar desde o nascimento, de acordo com oftalmologista. Os recém-nascidos precisam fazer o teste do olhinho, que pode detectar a presença de doenças congênitas a serem tratadas com bons resultados, como a catarata congênita. Dos 3 aos 6 anos, é necessário saber se a visão é boa nos dois olhos por meio do exame de vista e se os olhos não têm desvios, como o estrabismo. Em jovens, os defeitos de refração, como miopia e astigmatismo, são os mais comuns.
Hoje a oftalmologia moderna consegue tratar adequadamente a maioria dos problemas oculares.
Carlos Augusto Moreira Júnior,professor da UFPR
Os adultos costumam apresentar com maior frequência a presbiopia (vista cansada) e podem desenvolver glaucoma e problemas de retina. Exames de rotina devem ser feitos para evitar os problemas visuais. A avaliação da pressão arterial e da glicemia. Cuidar da hipertensão arterial e da diabete também pode evitar problemas futuros.
CUIDADOS
Existem cuidados gerais que valem para todas as idades e cuidados específicos de acordo com o grupo etário. “Diria que se proteger da luz solar com óculos escuros, ter alimentação saudável e fazer exercícios físicos regularmente sempre ajudam. Está provado que pessoas que não se protegem da luz solar tem mais catarata e alterações da retina”, afirma o médico Carlos Moreira Junior.
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Os idosos são os que mais sofrem com os problemas da visão e apresentam as doenças mais preocupantes que podem levar à cegueira irreversível: glaucoma, degeneração da mácula relacionada à idade e a retinopatia diabética. “Todas essas doenças podem ser adequadamente tratadas se forem descobertas precocemente, especialmente o glaucoma e a degeneração macular. Por isso, para os idosos, exames de vista anuais são importantes”, explica Moreira Júnior.
Catarata é a única causa de cegueira que pode ser curada
A principal causa de cegueira no mundo é a catarata, problema que atinge 50% da população acima dos 65 anos no Brasil, segundo estimativas. A catarata é uma lesão ocular que atinge e torna opaco o cristalino (parte do olho). Não existe nenhum método efetivo para evitar a opacificação com o passar da idade. No entanto, a catarata é a única causa de cegueira que pode ser curada. “A catarata senil está presente em muitos indivíduos idosos, mas as técnicas atuais permitem boa recuperação visual em qualquer idade. Por outro lado, o glaucoma, a retinopatia diabética e a degeneração macular devem ser tratados nas fases iniciais, visto que quando o paciente tarda em procurar auxílio especializado, a doença já avançou muito trazendo danos irreversíveis para a visão”, explica Carlos Moreira Júnior, professor titular de Oftalmologia da Universidade Federal do Paraná e chefe do Serviço de Retina do Hospital de Olhos do Paraná. (WB)
De olho no seu olho
Conheça as doenças que, caso não sejam diagnosticadas precocemente e tratadas a tempo, levam à cegueira irreversível.
GLAUCOMA
Grupo de doenças oculares que provocam danos irreparáveis no nervo óptico através da elevação da pressão ocular.
- Sintomas: Raramente apresenta sintomas. Os sinais só vão surgir nos glaucomas agudos, quando o paciente sofre fortes dores de cabeça, fotofobia, enjoo e dor ocular intensa.
- Risco: Idade acima dos 60 anos ou acima dos 40 (para o caso de glaucoma agudo), cor negra, histórico familiar, diabetes, problemas cardíacos, hipertensão, hipertireoidismo, alguns tipos de tumores, uso excessivo de medicamentos à base de corticosteroides.
- Tratamento: Há três tipos: uso de colírios, aplicações de laser e cirurgia. O uso de medicamentos é o tratamento inicial mais frequente. O objetivo é reduzir a pressão intraocular, seja pela diminuição da produção do humor aquoso, ou pelo aumento da saída desse líquido do olho. Dessa forma, haverá proteção do nervo óptico e a manutenção da visão. A cirurgia também pode ser uma opção dependendo do caso.
- Prevenção: Não existe, mas podesse evitar a perda da visão, por meio da consulta periódica ao oftalmologista (especialmente se o paciente apresentar fatores de risco).
- Alerta: Principal causa de cegueira não curável do mundo. Estima-se até 2020 serão 79,6 milhões de portadores que, sem o diagnóstico, perderão a visão por glaucoma no mundo, sendo 1,45 milhões no Brasil.
DEGENERAÇÃO DA MÁCULA RELACIONADA À IDADE
Envelhecimento das células da retina que formam a mácula, ou seja, a parte da retina mais especializada em enxergar formas e cores com nitidez.
- Sintomas: Em geral, a pessoa observa "borramento" no centro da visão ou até mesmo tortuosidade de linhas e letras, dificultando a leitura e o reconhecimento do rosto de pessoas que estão mais distantes.
- Risco: As causas exatas para os dois tipos da degeneração da mácula não estão completamente esclarecidas. No entanto, a genética, dieta, tabagismo, luz solar intensa, doença cardiovascular e hipertensão arterial são considerados como possíveis fatores de risco para a doença.
- Tratamento: Depende do tipo da degeneração da mácula. São dois. A degeneração seca ou atrófica e a degeneração úmida ou exsudativa. A DMRI seca ocorre pela atrofia das células da retina e tem evolução lenta e progressiva. Já a DMRI úmida ocorre devido ao crescimento de neovasos no espaço em baixo da mácula, causando sangramento ou edema, por isso, chamada de DMRI úmida. Esta última acontece de forma súbita e a perda visual é mais grave.
- Prevenção: Consultar-se regularmente, manter uma alimentação balanceada com frutas e legumes e pouca gordura; controlar o peso, pressão arterial e colesterol; não fumar; usar óculos escuros (protegendo a retina da radiação ultra violeta).
- Alerta: A prevenção mais indicada é manter os níveis de glicemia sob controle, bons níveis de pressão arterial e das taxas de colesterol, além de realizar exames oftalmológicos com avaliação da retina.
RETINOPATIA DIABÉTICA
Perda da visão ocasionada pelo diabetes não controlado. É a principal causa de cegueira em pessoas com idade produtiva em países desenvolvidos.
- Sintomas: Visão embaçada e a condição pode progredir para a perda parcial ou mesmo total da visão.
- Risco: O tempo de duração do diabetes mellitus é o fator de risco mais importante para a retinopatia diabética. Um segundo fator de risco é o grau de hiperglicemia. Outros fatores de risco são a hipertensão arterial e a nefropatia.
- Tratamento: Depende do grau de progressão em que o paciente se encontra. Nas fases iniciais dificilmente uma intervenção se faz necessária. Geralmente é necessário apenas um acompanhamento periódico com o oftalmologista especialista em retina. Na retinopatia diabética proliferativa (mais grave), é indicado o tratamento por fotocoagulação a laser.
- Prevenção: A prevenção mais indicada é manter os níveis de glicemia sob controle, bons níveis de pressão arterial e das taxas de colesterol, além de realizar exames oftalmológicos com avaliação da retina.
- Alerta: Estima-se que o Brasil tenha 13,4 milhões de pessoas tipo 1 e tipo 2. Destes, 90% dos portadores do tipo 1 e 60% dos portadores do tipo 2 podem desenvolver retinopatia diabética, que, se não tratada, pode evoluir para a cegueira irreversível.