Curitiba Em plena quarta-feira, em meio ao período de convocação extraordinária, só um dos 33 parlamentares paranaenses (30 deputados e três senadores) esteve trabalhando em Brasília na tarde de ontem. As justificativas para a ausência em um dia que, teoricamente, seria de trabalho normal, variam. Nos gabinetes, muitos funcionários dizem que os chefes estão "visitando as bases" ou seja, em contato com seus eleitores. Outros dizem que os parlamentares estão trabalhando em seus escritórios locais ou simplesmente descansando.
O trabalhador solitário é Osmar Serraglio (PMDB), relator da CPI dos Correios, que ficou em Brasília tratando de assuntos internos da comissão.
"Para mim é até bom. Nosso trabalho interno, de análise de documentos fica mais tranqüilo sem a correria do plenário", explica.
O sub-relator Gustavo Fruet ficou na capital federal até a terça-feira, quando foram tomados três depoimentos. O senador Álvaro Dias, que também integra a CPI, não esteve presente à sessão de terça.
Os deputados e senadores que não estavam em Brasília não estão cometendo nenhum crime. Na verdade, sua ausência foi autorizada pela mesa diretora do Congresso. Explica-se: a primeira sessão plenária de 2006 foi marcada para o dia 16 de janeiro. Até lá, reuniriam-se apenas as comissões e o Conselho de Ética. Quem não fizesse parte de nenhum deles estaria, portanto, dispensado de apresentar-se. Como quem manda na agenda das comissões são os seus presidentes, ninguém marcou reuniões para esta semana. Nem a Comissão de Orçamento, cujo trabalho é fundamental para que o Executivo bata o martelo quanto aos gastos de 2006, nem o Conselho de Ética da Câmara, que precisa analisar processos disciplinares de 13 deputados.
O problema, portanto, não é legal, mas ético: os parlamentares, mesmo os que não deram a cara no Congresso, receberão dois salários a mais pelo trabalho extra entre 16 de dezembro e 14 de fevereiro, o mais caro da história do país, com um custo estimado em R$ 100 milhões.
Dos 33 paranaenses, dois devolveram o pagamento e seis devem destinar o dinheiro para entidades filantrópicas (veja quadro ao lado). O deputado Íris Simões (PTB), um dos parlamentares que dispensaram o dinheiro tem uma interpretação que coloca a culpa pelo absenteísmo parlamentar em uma arapuca baseada na opinião pública. Diz que seu partido era contrário à idéia de chamar os parlamentares para a hora-extra, mas rendeu-se ao ambiente desfavorável. "Se nós não aprovássemos a convocação, iriam dizer que a gente parou a CPI", explica-se.
Há quem classifique a recusa em receber o pagamento de "demagogia". "Estive em Brasília até 31 de dezembro, estou trabalhando até o dia 14 atendendo prefeitos e agricultores no meu escritório. Por que vou deixar de receber esse salário?", questiona o deputado Moacir Micheletto (PMDB).