Fazia somente quatro dias que o imperador Dom Pedro II estava na então Província do Paraná. Após passar por Paranaguá e Antonina, a comitiva imperial chegou a Curitiba no dia 21 de maio de 1880. O foguetório correu solto para recepcionar o imperador. No dia seguinte, a empolgação em torno de Dom Pedro II continuou e ele foi o convidado mais importante no evento inaugural do prédio da Santa Casa de Misericórdia, que completou 135 anos de existência nesta sexta-feira (22). Foi o primeiro hospital de grande porte edificado em Curitiba.
A capela para a missa que marcou o primeiro dia do então Hospital de Caridade estava lotada. A solução foi o povo se aglomerar do lado de fora . Estima-se que perto de duas mil pessoas tomaram a frente do hospital para presenciar esse dia histórico. Foram 12 anos para que terminasse a construção iniciada em 1868. A construção do então Hospital da Caridade foi decisiva para a urbanização do chamado Campo do Olho d’Água, local que era inabitado e hoje é a Praça Rui Barbosa, no centro de Curitiba.
A ideia do hospital da Santa Casa partiu do médico José Cândido da Silva Murici. Segundo Carlos Ravazzani, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, o ‘doutor’ Murici foi o responsável por bancar financeiramente a obra. “Mas ele não viveu para ver o prédio concluído. Morreu um ano antes”, conta Ravazzani. Para não deixar o prédio inacabado, coube ao genro de Murici, que também era médico, Antonio Carlos Pires de Carvalho e Albuquerque, assumir as rédeas e finalizar as obras.
Durante o evento de inauguração, além de Dom Pedro II outras 161 pessoas assinaram a ata histórica que marcou o primeiro dia de funcionamento Hospital da Caridade.“Foi o prédio mais importante para a história do Paraná durante muitos anos”, constata o pesquisador, também médico.
Quando se deu a inauguração do espaço, o edifício contava com o hall de entrada, onde também ficava a sala de administração, quatro enfermarias, farmácia, cozinha, necrotério e a capela. “Ainda não tinha uma sala cirúrgica. Faziam-se pequenos procedimentos nas próprias enfermarias”, comenta Ravazzani. Ele relata que as principais ampliações aconteceram em 1909 e 1924. “Depois foram realizados outros ‘puxadinhos’ menores”, diz.
Pioneira
Não bastava ser o primeiro hospital de grande porte na então capital provincial. A Santa Casa foi também pioneira no ensino médico no Paraná. Antes da fundação da então Universidade do Paraná, em 1912, a Santa Casa já funcionava como Centro de Aperfeiçoamento para os médicos do Paraná e de Santa Catarina. De acordo com Ravazzani, o curso de medicina começou a funcionar na Universidade em 1914 e dois anos depois, a Santa Casa franqueou suas enfermarias para o ensino prático aos alunos, situação que permaneceu até 1961, quando o Hospital de Clínicas foi inaugurado.
Mas a missão de ensinar não havia encerrado. A cooperação e atuação conjunta entre o Hospital da Santa Casa de Curitiba, a Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Católica e a Escola de Enfermagem Madre Léonie iniciaram-se em 1957. A partir dessa data, a Santa Casa acolheu, e continua acolhendo, os estudantes da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).