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tragédia no rs

Santa Maria: boate estava com 2 vezes mais pessoas do que a capacidade máxima

O advogado Jader Marques, que defende Elissandro Spohr, o Kiko, um dos donos da boate Kiss, garantiu nesta quarta-feira (30) que não havia mais de 650 pessoas dentro da danceteria na noite do incêndio que matou, até agora, 235 pessoas. Já o tenente coronel do 1º Batalhão dos bombeiros em Porto Alegre, Adriano Krukoski Ferreira, respondendo ao advogado, afirmou que, segundo depoimentos, havia no local entre 1.200 e 1.500 pessoas.

"Parece-me claro que o PPCI (Plano de Prevenção Contra Incêndio) foi aprovado e que 691 pessoas era o que os bombeiros autorizaram. Os depoimentos obtidos até agora relatam que o público era entre 1.200 e 1.500 pessoas na hora do acidente. Um levantamento de fotos anteriores à tragédia vai ajudar a levantar o número de pessoas que efetivamente estiveram lá para nos dar uma certeza. Mas, se houve gargalo nas portas, 691 pessoas teriam abandonado o local em dois minutos", disse ele. A norma legal estabelece que um estabelecimento deste tipo tem que ser evacuado em, no máximo, 3 minutos.

Apesar de ter afirmado que a casa não estava superlotada, o advogado, em entrevista coletiva na manhã desta quarta-feira, admitiu que foram impressos mais convites para a festa "Agromerados" do que o quantidade permitida. Segundo o "Diário de Santa Maria", Jader Marques contou que 850 ingressos estavam disponíveis para a venda, sendo que 700 foram entregues a representantes dos universitários.

"Há uma dinâmica muito comum nos estabelecimentos deste gênero: deixar entrar um certo número de pessoas, que permitam um ambiente agradável", o que na avaliação de Kiko fica em torno de 600 a 700 pessoas - "e, quando se atinge esse número, as portas são trancadas e novas entradas só são permitidas quando pessoas deixam o local", disse ele. "Segundo o Kiko, era uma noite fraca, é certo de que não havia mais de 650 pessoas na casa."

O defensor culpou o trabalho do Corpo de Bombeiros pela morte de 235 pessoas na madrugada de domingo. Marques disse que os bombeiros pediram ajuda para as pessoas que estavam na rua e que a primeira ligação para relatar o incêndio não foi atendida.

"O trabalho de salvamento dos bombeiros foi desastroso. Não tinham equipamentos adequados nem treinamento", afirmou o defensor. "Um bombeiro não pode colocar um civil numa atividade de salvamento. Eles ainda jogaram um jato d'água na rota de saída das pessoas e isso pode ter feito com que elas se dirigissem para o outro lado.

Para o tenente corobel Adriano Krukoski Ferreira, a primeira ligação aos bombeiros foi feita às 2h16m. No mesmo minuto o caminhão saiu do local e, em 3 minutos, já estava em frente à boate.

"Eu entendo a posição do advogado, mas os fatos são outros", disse ele, que ainda afirmou que o segurança do estabelecimento só ligou às 3h.

Ainda nesta quarta-feira, o advogado rebateu a declaração do delegado regional, Marcelo Arigony, de que a Kiss não tinha condições de estar aberta. "Ao contrário do que disseram, a boate tinha, sim, condições de funcionar", disse.

Ele garantiu que a documentação da boate era regular. O licenciamento dos bombeiros estava vencido desde agosto, mas, em outubro, a casa pagou a taxa para pedido de renovação.

"A casa aguardava a vistoria. Os bombeiros encontrariam lá a mesma situação do ano anterior", afirmou Marques. Segundo Marques, Kiko se apresentou espontaneamente à polícia ainda na madrugada da tragédia. O defensor também negou que seguranças da boate tenham impedido a saída de clientes no momento do incêndio.

Em entrevista coletiva na tarde desta terça-feira, em Santa Maria, o subcomandante do 4º Comando Regional do Corpo de Bombeiros, major Gérson da Rosa Pereira, disse que a população "deveria ter cuidado com o lugar que frequenta" e afirmou que temos "mais sorte que juízo", referindo-se aos riscos em casas noturnas. Após as declarações, Pereira afirmou para a reportagem do jornal "Zero Hora" ter recebido um telefonema do governador Tarso Genro proibindo-o de falar com a imprensa.

Já o delegado Marcelo Arigony, que coordena as investigações, disse, nesta terça-feira, que a boate Kiss não tinha condições de estar funcionando. Ele enumerou pelo menos cinco irregularidades passíveis de impedir o funcionamento da casa: recebia frequentemente mais público do que o alvará permitia; a saída de emergência era insuficiente para o tamanho da movimentação; o PPCI (Plano de Proteção e Combate a Incêndio) estava vencido desde 10 de agosto de 2012; o alvará sanitário tinha perdido a validade em 31 de março de 2012; e a planta baixa havia sido modificada e estava em desconformidade com o alvará de localização.

Para o Ministério Público, os depoimentos e provas recolhidos sobre a tragédia na boate Kiss revelam contradições entre o que dizem os donos da casa noturna, a banda e os frequentadores do local. Os investigados tentam afastar as suspeitas contra si, o que já é esperado pela polícia.

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