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desastre químico

“São Chico” busca vida normal após três dias sob fumaça

Com a fumaça debelada, comércio começou a abrir as portas na sexta-feira | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Com a fumaça debelada, comércio começou a abrir as portas na sexta-feira (Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo)
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Ônibus fretado levou moradores de volta. Maria de Lurdes foi recebida com festapelos cachorros |

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Ônibus fretado levou moradores de volta. Maria de Lurdes foi recebida com festapelos cachorros

Nenhum feriado, por mais prolongado que fosse, faria os moradores de São Francisco do Sul torcerem com tanta vontade para que dê praia neste fim de semana. O sábado e o domingo serão cruciais para a cidade litorânea do norte de Santa Catarina voltar ao normal após o incêndio químico de fertilizantes que obrigou 20% da população a abandonar a cidade, fechou o comércio e deixou a maioria das ruas deserta durante três dias. A combustão foi controlada no fim da manhã de sexta-feira. Persistia no local do acidente apenas uma fumaça rala – vapor da água atirada sob as chamas. A partir de então, as autoridades começaram a chamada de volta à normalidade. A presença de turistas será o sinal definitivo da calmaria.

Depois do almoço, alguns pontos comerciais voltaram a funcionar, porém quase sem clientes. Derci Moreira da Silva, 58 anos, caminhava pela praça central da cidade à procura de apostadores dispostos a investir R$ 5 na loteria regional que ela revende. "Costumo vender 300 bilhetes por semana, mas nessa não vou passar de 50", lamentou. Na terça, ela havia se refugiado em um abrigo da prefeitura e, a partir do dia seguinte, se hospedado na casa de parentes em Joinville.

Às 15 horas, o Exército levantou o último bloqueio, que se reduzia então a um raio de 400 metros do galpão. Os bairros Rocio Pequeno e Paulas, próximos à empresa Global Logística, foram totalmente liberados. Janelas reabriam, embora muitas casas ainda permaneciam fechadas. Vizinhos que não se viam havia dias se reencontravam em rodas de conversa à beira da rua. Apesar do incômodo provocado, eram capazes de fazer piadas, demonstrando o jeito catarinense de enfrentar adversidades. É a segunda em uma semana. No fim de semana passado, as fortes chuvas – que também caíram sobre o Paraná – provocaram enchente em municípios do Vale do Itajaí.

O governador ca­tarinense, Raimundo Colombo, visitou o local do incêndio no fim da tarde. Na entrevista coletiva junto ao cordão de isolamento, destacou a tomada de controle da situação. "As praias estão a 16 quilômetros daqui e não há qualquer risco para o turista", disse. Porém, foi evasivo quanto à apuração de responsabilidade. "[A perícia] vai levar o tempo necessário".

Os abrigados começaram a voltar para casa logo depois, em ônibus fretados pela prefeitura. O maior desses abrigos, montado em uma escola agrícola na vizinha Araquari, mantinha 375 pessoas. Uma delas era a cuidadora de idosos Maria de Lourdes de Paula, 63 anos, que havia fugido de casa na terça após alerta dos bombeiros. "A gente ouviu barulho de sirene, abriu a janela e viu aquele clarão. Só deu tempo de pegar uma roupa." Ao chegar em casa, ela e a filha foram recebidas com festa pelos três cachorros. "Tinha uma história de que eles iam morrer com a fumaça. Ainda bem que era falsa."

Cidade viveu dias iguais a um estado de sítio

Durante três dias, a frota de veículos rodando por São Francisco do Sul foi composta sobretudo por veículos oficiais. Polícias Militar e Ambiental, Exército e Marinha, Defesa Civil, bombeiros, Ibama, Petrobras, Vale e, a partir de sexta, a Polícia Federal, a pedido da presidente Dilma Rousseff. A operação de combate ao incêndio, evacuação dos habitantes e proteção do meio ambiente contou com 150 pessoas de diferentes órgãos.

A cidade viveu algo parecido a um estado de sítio, com o Exército assumindo o controle sobre o trânsito, a entrada em prédios públicos e o movimento no entorno do galpão. Enquanto isso, os bombeiros catarinenses eram orientados por técnicos da Vale especialistas em fertilizantes. A estratégia definida foi o encharcamento do produto à base de nitrato de amônia.

Usando uma câmera detectora de calor, bombeiros atacaram os pontos mais críticos. A carga absorveu parte da água, como um sagu ao ser cozido, e interrompeu a reação química que provocou a combustão e a fumaça. A outra parte da água, que escorreu pelo chão do galpão, foi drenada e retirada por caminhões-pipa. Será feito um tratamento antes de dispensá-la de volta ao solo. "Nosso trabalho termina quando retirarmos a última carga. Das 10 mil toneladas de fertilizante, metade está fora", informou o tenente coronel Sérgio Murilo Melo, comandante dos bombeiros.

Calendário

A vida da cidade tem hora programada para retornar. As aulas, suspensas desde quarta-feira, reiniciam na segunda. As escolas vão repor os dias perdidos. A coleta de lixo e o transporte público voltaram ao normal na sexta, menos nos três quarteirões próximos ao galpão, ainda isolados pelo Exército. A América Latina Logística (ALL) reiniciou as atividades, de forma parcial, também na sexta. A partir deste sábado voltaria a operar normalmente. O mesmo ocorre com o Porto de São Francisco do Sul, que ficou dois dias fechado pela Capitania dos Portos. Somente no primeiro dia, dez navios deixaram de atracar. No Porto de Itapoá, do outro lado da Baía da Babitonga, a interrupção foi de apenas seis horas na quarta-feira, por precaução.

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