Ouça este conteúdo
O criminoso de 25 anos que, nesta quinta-feira (1°), baleou dois policiais após reagir a uma abordagem na Zona Leste de São Paulo era procurado pela Justiça por não ter retornado à prisão após receber o benefício da saída temporária em 2020. O rapaz havia sido condenado por tráfico de drogas e antes de ser contemplado com a chamada “saidinha” cumpria pena em regime semiaberto no Centro de Progressão Penitenciária de Mongaguá, no litoral paulista.
O infrator foi preso horas depois da tentativa de assassinato dos policiais, escondido em um bar junto com um menor de idade. O dono do estabelecimento, que ofereceu esconderijo à dupla, era igualmente foragido da Justiça por tráfico de drogas e furto e também foi preso. Todos foram encaminhados ao 49° Distrito Policial. A audiência de custódia do autor dos disparos contra os agentes de segurança está agendada para esta sexta-feira. Ele responderá por quatro crimes: tentativa de duplo homicídio, associação criminosa, corrupção de menor e receptação.
Já os policiais baleados seguem hospitalizados e não correm risco de morte, entretanto um deles foi alvejado no rosto e deverá ser submetido a uma cirurgia plástica para a reconstituição da face. Ele se encontra em coma induzido e nesta sexta-feira (2) passará pelo procedimento de traqueostomia. O outro, que foi alvejado duas vezes nas pernas e uma no abdômen, fará uma cirurgia para desalojar um dos projéteis, que fraturou seu fêmur.
Nesta quinta-feira, o governador Tarcísio de Freitas se manifestou sobre o caso e pediu punição severa ao autor dos disparos. Já o secretário de segurança pública de São Paulo, capitão Guilherme Derrite, visitou os agentes nesta sexta-feira. “Conversei com os familiares, reafirmando o compromisso de que enfrentaremos juntos esse momento difícil. A SSP e a PMESP irão apoiá-los em tudo o que precisarem. Continuem em orações”, disse o secretário.
Criminoso só parou de atirar porque carregador da arma caiu no chão
Os dois soldados abordaram o rapaz, que estava de posse de um celular roubado, por volta das 9h no bairro São Mateus. Após identificarem que o homem constava como foragido da Justiça e lhe dar voz de prisão, o criminoso entrou em luta corporal contra os policiais. Ele conseguiu retirar a arma do coldre de um dos agentes e atirou contra ambos. Um deles caiu imediatamente no chão após ser alvejado no rosto, enquanto o outro permaneceu em combate até levar os primeiros disparos. Conforme apurado pela Gazeta do Povo, o criminoso só parou de atirar porque o carregador da arma caiu no chão.
Vídeo de “negociação” para rendição do autor dos disparos gera revolta entre policiais
A prisão do criminoso foi feita por uma equipe especial da Corregedoria da Polícia Militar chamada PM-Vítima, que investiga delitos contra agentes da corporação. Um vídeo gravado por parentes do autor dos disparos gravado dentro da casa da família com a presença dos policiais que efetuaram a prisão gerou críticas por parte de outros policiais. O motivo é que supostamente houve uma “negociação” para que o homem se rendesse ao invés de ter ocorrido simplesmente a detenção em flagrante, seguida da condução à delegacia. Dentro da casa, ao dialogar com os policiais, o criminoso estava fumando um cigarro.
No vídeo, os policiais tentam convencer a mãe do infrator para que ele se entregasse à equipe da Corregedoria. “A gente está para ajudar vocês. Está um alvoroço forte. Está um alvoroço danado. Vai ser pior para ele [não se entregar] e vai expor a família.”
Na avaliação do ex-policial militar Luiz Paulo Madalhano, que pediu desligamento da PM de São Paulo no ano passado, a equipe da Corregedoria pode ter recorrido à espécie de negociação por temer a ocorrência de um confronto armado, já que havia muitas viaturas por perto à procura do rapaz. Apesar disso, para ele o protocolo de negociação causa estranheza uma vez que havia o flagrante e não existiam reféns.
“Essas negociações acontecem muito quando há ocorrências com reféns, o que não é o caso. A partir do momento em que o infrator é identificado deve ser detido, algemado e conduzido à delegacia. O policial que faz a detenção lê os direitos constitucionais e informa à família o motivo pelo qual ele está sendo detido e a delegacia para onde será conduzido. Somente isso. O PM-Vítima faz um ótimo trabalho de elucidação de crimes, mas desconheço esses procedimentos usados. Nunca vi nada do tipo”, afirma.
Madalhano também questionou o fato de, em sua avaliação, integrantes da Corregedoria empregarem um tratamento a um criminoso capturado em flagrante divergente da forma como são tratados policiais da corporação suspeitos de infrações. As corregedorias das corporações de Polícia Militar nos estados têm a função de apurar eventuais abusos de conduta exercidos pelos agentes.
“O que tem gerado muita revolta entre os PMs com esse vídeo, e que eles não podem externar, é que quando se trata do público interno que são os próprios policiais, o tratamento pela Corregedoria é totalmente diferente: autoritarismo, ameaças veladas e até mesmo diretas”, pontua.
A Gazeta do Povo pediu à Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) um posicionamento em relação ao procedimento empregado pelos agentes da Corregedoria que efetuaram a prisão. Em resposta, o órgão encaminhou a seguinte nota:
"Todas as circunstâncias relativas aos fatos são investigadas pela Polícia Militar. Após o fato, foi iniciada a Operação Escudo para identificação e prisão dos envolvidos. Durante a ação, o homem que atirou contra os PMs foi preso. Ele cumpria pena por crime de tráfico de entorpecentes no Presídio de Mongaguá, sendo beneficiado com saída temporária em 2020. Um adolescente, que estava na mesma abordagem, foi apreendido e um terceiro suspeito, encontrado com a arma do policial, era foragido da Justiça e também foi preso. Os dois maiores passaram por audiência de custódia nesta sexta-feira (2) e tiveram a prisão convertida em preventiva. Já o menor de idade, foi encaminhado à Fundação CASA".