Entrar no galpão centenário que abriga a fábrica de foices São Pedro, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, é como dar um largo passo ao início do século passado. Maquinários importados da Alemanha no começo dos anos 1900 parecem espiar o cidadão que invade o recinto. Enquanto isso, quatro funcionários exalam suor próximos à fornalha utilizada para fundir o ferro. Outros cinco empregados se misturam às faíscas provocadas pela afiação das foices.
No portão da fábrica surge Waldemar Werner, 72 anos, neto de seu Pedro, o fundador da empresa, que acompanhou parte da trajetória da empresa, fundada em 1906. Atualmente, a fábrica caminha para o comando da quarta geração da família. "A satisfação em saber que a tradição começou com meu avô, passou pelo meu pai (Alfredo) e segue até hoje com a mesma família não tem preço, temos um amor por isso aqui que você não imagina. Eu me sinto realizado", conta ele, que divide com o filho Alfredo Werner Neto a responsabilidade em tocar a centenária firma.
Formado em Direito, Alfredo não quis advogar e nem tentar seguir carreira na área em que se graduou. "Ele se formou porque eu insisti. Uma faculdade é algo essencial nos dias de hoje. Mas ele gosta mesmo é de ficar cuidando e até ajudando na produção de foices. E é ele quem faz os contatos comerciais e viaja para distribuir os produtos", relata Waldemar. A empresa atende cidades do Paraná, do interior paulista, Mato Grosso, Rondônia, Mato Grosso do Sul e Pará.
História
Até encontrar Ponta Grossa como recanto definitivo, a foiçaria dos Werner esteve instalada em outras duas cidades. Natural de Brusque (SC), Pedro Werner, então com 18 anos, resolveu montar, em 1906, uma pequena ferraria em sua cidade natal. Lá ele fazia ferraduras, consertos em armas antigas e esculpia foices e facões. As primeiras foices que forjava, Pedro Werner doava a amigos. "Ele tinha que mostrar que o material era bom. A propaganda é a alma de qualquer negócio", brinca o neto Waldemar.
Seis anos mais tarde, Pedro mudou-se para Tomazina, no norte do Paraná. Lá ele manteve o ofício de ferreiro, sempre se especializando na produção das foices. Com a propaganda de boca em boca, a fama das foices "Pedro Werner" começou a se expandir para outros lugarejos do estado.
De olho em negócios futuros, Pedro já se preparava para mudar novamente de cidade. Ponta Grossa apresentava um crescimento econômico no anos 1900, fortalecido principalmente pela instalação da ferrovia no final dos anos 1890. Ao perceber que o município se desenvolvia rapidamente e era considerado um dos maiores entroncamentos rodoferroviários da Região Sul do Brasil, Pedro não hesitou. Em 1931, um ano após a visita do então presidente da República Getúlio Vargas a Ponta Grossa, o fundador da fábrica São Pedro veio de mala e cuia para a cidade.
"Aqui ele viu que era um ponto estratégico para a comercialização das foices. Tinha bastante acesso para outras cidades, era e é um pólo agrícola forte, que representa toda nossa clientela. E continuamos aqui até hoje. Se der tudo certo nossa história ainda vai muito longe", diz Waldemar.
Filha mais velha pode assumir os negócios
Já sob administração e tutela da quarta geração da família Werner, a foiçaria São Pedro não deve desaparecer tão cedo da história da cidade. Waldemar, de 72 anos, e o filho Alfredo Neto, de 48 anos, ainda continuam "firmes e fortes" dentro da fábrica. E o objetivo deles é o mesmo: preparar as próximas gerações para que assumam a responsabilidade de dar continuidade à centenária empresa.
Segundo ele, a principal candidata é a filha mais velha de Alfredo. Laís Cristina, de 23 anos, mora em Guarapuava, e é formada em Medicina Veterinária. "Pelo que eu percebo, ela tem jeito para o negócio. Acho que daqui a alguns anos, pela primeira vez, a fábrica estará nas mãos de uma mulher", diz.
Já o filho mais novo de Alfredo, João Paulo tem apenas 17 anos e cursa Odontologia. "Ele ajuda aqui dentro, mas parece que não quer muito isso para a vida dele. Ainda é cedo para dizer algo sobre quem irá assumir as rédeas da empresa."
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Interatividade
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