Criada em 1906, fábrica de foices São Pedro chegou a Ponta Grossa 25 anos depois: fábrica já fez 8 mil foices mensais| Foto: Fotos: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Tradição

Mesmos barracão e maquinário

O fundador da fábrica Pedro Werner comprou o barracão situado na Avenida Ernesto Vilela assim que chegou a Ponta Grossa. O local, antes sede de uma empresa que torrava grãos de café, é o mesmo endereço da foiçaria até hoje. Assim como o espaço físico, o mesmo maquinário utilizado no início do século passado continua na ativa. A maioria dos equipamentos veio importada da Alemanha entre as décadas de 30 e 40.

E em pleno século 21, período em que as tecnologias avançam dia após dia, a família Werner prima pela tradição e continua produzindo os seis modelos de foices com o mesmo procedimento adotado no começo do século 20. "Se está dando certo há tanto tempo não tem motivo para mudar. Continuamos com a mesma qualidade", enfatiza Waldemar.

Ele compara a fabricação das foices à criação de uma obra de arte. "É um trabalho estritamente artesanal auxiliado por máquinas", conta Waldemar. Para desenhar e dar espessura e dimensionamento correto à foice, o ferro em brasas ardentes sai de um forno e é colocado em uma máquina, na qual cada batida é controlada pelos pés dos funcionários. Qualquer batida errada danifica o material. O tempo para finalizar esse processo é fator de extrema importância. "O ferro tem que estar bem quente. Em um minuto, o desenho inicial da foice tem que ser concluído", explica ele.

Outras etapas para a finalização do material ainda são realizados a base da mão e do martelo. "São 16 etapas para concluir a foice. A maioria depende do trabalho manual. Demora um dia inteiro para deixar uma peça pronta", conta. Diariamente são produzidas cerca de 70 peças. Entre as décadas de 40 e 60 eram produzidas mais de 8 mil peças mensais com até 30 funcionários. Hoje a produção chega a quase 2 mil foices por mês, com 10 funcionários.

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Entrar no galpão centenário que abriga a fábrica de foices São Pedro, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, é como dar um largo passo ao início do século passado. Maquinários importados da Alemanha no começo dos anos 1900 parecem espiar o cidadão que ‘invade’ o recinto. Enquanto isso, quatro funcionários exalam suor próximos à fornalha utilizada para fundir o ferro. Outros cinco empregados se misturam às faíscas provocadas pela afiação das foices.

No portão da fábrica surge Waldemar Werner, 72 anos, neto de seu Pedro, o fundador da empresa, que acompanhou parte da trajetória da empresa, fundada em 1906. Atualmente, a fábrica caminha para o comando da quarta geração da família. "A satisfação em saber que a tradição começou com meu avô, passou pelo meu pai (Alfredo) e segue até hoje com a mesma família não tem preço, temos um amor por isso aqui que você não imagina. Eu me sinto realizado", conta ele, que divide com o filho Alfredo Werner Neto a responsabilidade em tocar a centenária firma.

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Formado em Direito, Alfredo não quis advogar e nem tentar seguir carreira na área em que se graduou. "Ele se formou porque eu insisti. Uma faculdade é algo essencial nos dias de hoje. Mas ele gosta mesmo é de ficar cuidando e até ajudando na produção de foices. E é ele quem faz os contatos comerciais e viaja para distribuir os produtos", relata Waldemar. A empresa atende cidades do Paraná, do interior paulista, Mato Grosso, Rondônia, Mato Grosso do Sul e Pará.

História

Até encontrar Ponta Grossa como recanto definitivo, a foiçaria dos Werner esteve instalada em outras duas cidades. Natural de Brusque (SC), Pedro Werner, então com 18 anos, resolveu montar, em 1906, uma pequena ferraria em sua cidade natal. Lá ele fazia ferraduras, consertos em armas antigas e esculpia foices e facões. As primeiras foices que forjava, Pedro Werner doava a amigos. "Ele tinha que mostrar que o material era bom. A propaganda é a alma de qualquer negócio", brinca o neto Waldemar.

Seis anos mais tarde, Pedro mudou-se para Tomazina, no norte do Paraná. Lá ele manteve o ofício de ferreiro, sempre se especializando na produção das foices. Com a propaganda de boca em boca, a fama das foices "Pedro Werner" começou a se expandir para outros lugarejos do estado.

De olho em negócios futuros, Pedro já se preparava para mu­­dar novamente de cidade. Ponta Grossa apresentava um crescimento econômico no anos 1900, fortalecido principalmente pela instalação da ferrovia no final dos anos 1890. Ao perceber que o município se desenvolvia rapidamente e era considerado um dos maiores entroncamentos rodoferroviários da Região Sul do Brasil, Pedro não hesitou. Em 1931, um ano após a visita do então presidente da República Getúlio Vargas a Ponta Grossa, o fundador da fábrica São Pedro veio de mala e cuia para a cidade.

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"Aqui ele viu que era um ponto estratégico para a comercialização das foices. Tinha bastante acesso para outras cidades, era e é um pólo agrícola forte, que representa toda nossa clientela. E continuamos aqui até hoje. Se der tudo certo nossa história ainda vai muito longe", diz Waldemar.

Filha mais velha pode assumir os negócios

Já sob administração e tutela da quarta geração da família Werner, a foiçaria São Pedro não deve desaparecer tão cedo da história da cidade. Waldemar, de 72 anos, e o filho Alfredo Neto, de 48 anos, ainda continuam "firmes e fortes" dentro da fábrica. E o objetivo deles é o mesmo: preparar as próximas gerações para que assumam a responsabilidade de dar continuidade à centenária empresa.

Segundo ele, a principal candidata é a filha mais velha de Alfredo. Laís Cristina, de 23 anos, mora em Guarapuava, e é formada em Medicina Vete­­rinária. "Pelo que eu percebo, ela tem jeito para o negócio. Acho que daqui a alguns anos, pela primeira vez, a fábrica estará nas mãos de uma mulher", diz.

Já o filho mais novo de Alfredo, João Paulo tem apenas 17 anos e cursa Odontologia. "Ele ajuda aqui dentro, mas parece que não quer muito isso para a vida dele. Ainda é cedo para dizer algo sobre quem irá assumir as rédeas da empresa."

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