Vacinar ou não: eis a questão
Apesar das recomendações dos órgãos de saúde, tem quem opte por não se vacinar, e nem os filhos. As razões variam de convicções religiosas à descrença na medicina convencional. Nesse sentido, entre os argumentos está o de que nosso organismo possui imunidade interna e natural. Essa capacidade deve ser fortalecida por meio da alimentação e de atividades de desenvolvimento físico e mental.
Por outro lado, a comunidade médica defende que o tratamento responsável e preventivo por meio de remédios não só é eficaz como também necessário para a erradicação de uma série de doenças. Segundo a pediatra Heloísa Giamberardino, os fatores mais impactantes no controle da mortalidade humana são a água tratada, os antibióticos e as vacinas. Ela acredita que o fato de que várias doenças infecciosas foram erradicadas ou estão sob controle por causa da cobertura vacinal incita o questionamento sobre a necessidade de continuar a tomar a vacina. "Vacinar é um ato de cidadania, de colaboração com a saúde pública. Se uma pessoa está suscetível, pode contrair e reintroduzir a doença no seu entorno", diz o presidente da SBIm, Renato Kfouri.
Macrobiótica
Mas há quem acredite que, com um estilo de vida preventivo, o organismo é capaz de gerar imunidade sem precisar de elementos externos. O japonês Tomio Kikuchi, 88 anos, mudou-se para o Brasil em 1955 com o objetivo de difundir a macrobiótica e os princípios da autoeducação vitalícia, ou seja, o fortalecimento e a recuperação da imunidade do organismo se dão principalmente por meio da alimentação. "Remédios são paliativos. A verdadeira imunidade é conquistada através da comida", resume Kikuchi, que criou os cinco filhos sob os preceitos macrobióticos.
Sem remédios
Manoel Pismel conheceu o trabalho de Kikuchi há 32 anos. Os três filhos, de 19, 15 e 11 anos, nunca tomaram remédios ou vacinas, nem as aplicadas após o nascimento, pois nasceram em casa. A única exceção são as vacinas exigidas para viajar, como a da malária. Os filhos tiveram doenças que poderiam ser prevenidas, como sarampo e caxumba, mas Pismel defende que a experiência da doença promove um amadurecimento fisiológico e mental. "A reação à doença é diferente quando se mantém um estilo de vida preventivo. Em uma criança que tem o organismo preparado e fortalecido, a doença é de fácil administração e o organismo fica mais resistente ao fim", explica.
O risco de um surto de sarampo, doença considerada controlada no Brasil, durante a Copa do Mundo preocupa autoridades de saúde do país. Dos 32 países que participam do Mundial, 19 registraram casos de sarampo em 2013.
INFOGRÁFICO: Veja uma tabela de vacinação para crianças e mulheres
No Brasil, entre 2007 e 2009, não houve nenhum registro de sarampo, mas, conforme levantamento do Ministério da Saúde, o número de casos voltou a crescer nos últimos quatro anos em 2010 foram 68; em 2011, 43; e em 2012, só dois. De 2013 até fevereiro deste ano, foram confirmados 192 casos. No Paraná, os últimos dois registros de sarampo são de 2000.
De acordo com o pediatra Renato Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), o surto de sarampo ocorrido no Ceará e em Fortaleza no início deste ano é a evidência de que doenças controladas no país podem ser reintroduzidas em decorrência da intensa movimentação turística. Exames constataram que o genótipo do vírus identificado na epidemia no Nordeste é o D8, bastante comum na Europa.
Conforme dados do Ministério da Saúde, todos os casos notificados desde 2000 foram importados do continente europeu, Ásia, África e América do Norte, ou seja, provocados por vírus não circulantes no Brasil. "O mundo se tornou pequeno. Hoje o controle de doenças tem de ser feito em escala mundial", observa Kfouri.
Campanha
Em vista do risco de epidemias, a Organização Pan-Americana da Saúde lançou no fim de abril uma campanha de vacinação especial para o Mundial no Brasil. Além disso, o Ministério da Saúde coordenará uma rede de informações on-line entre as 12 cidades-sede da Copa e monitoramento nos aeroportos. Um plano de contenção prevê a vacinação de todos que estiverem em contato com doentes.
Proteção
A pediatra Heloísa Giamberardino, presidente da regional do Paraná da SBIm, recomenda, além da vacina contra o sarampo e a rubéola, outras imunizações para se proteger durante a Copa, como contra a gripe e a coqueluche, cujo número de casos também aumentou expressivamente nos últimos três anos.
Obrigatório
Lei determina imunização de crianças e adolescentes
A obrigatoriedade da vacinação é estabelecida pela Lei 6.259/1975, que dispõe sobre a organização das ações de Vigilância Epidemiológica e sobre o Programa Nacional de Imunizações (PNI). O artigo 14 do Estatuto da Criança e do Adolescente também menciona a obrigatoriedade nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias. A dispensa só é possível quando atestada a contra-indicação.
É dever do médico pediatra e profissionais da saúde orientar os pais a cumprirem o calendário vacinal instituído pelo PNI. Em caso de negativa, o caso deve ser encaminhado ao Ministério Público para as medidas cabíveis geralmente com a determinação de um prazo para regularizar a situação sob pena de multa diária ou responsabilização criminal.
"O direito à saúde da criança sobrepõe-se ao pátrio poder, caso este venha a trazer prejuízos à saúde da criança", explica o advogado Martim Afonso Palma, presidente da comissão de Direito à Saúde da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Paraná.
Conforme a Portaria 597/2004, o atestado de vacinação obrigatória deve ser solicitado para o recebimento do salário-família, matrícula em instituições de ensino, alistamento militar, recebimento de benefícios sociais e recomendado também para contratação trabalhista.
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