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Apesar dos sargentos Giovani Moscatelli e Marcelo Salles Corrêa, que aparecem na filmagens sofrendo agressões, afirmarem que tudo não passou de uma brincadeira, a declaração de um deles deixa transparecer uma espécie de pacto de silêncio, respeitado inclusive por quem já deixou o Exército. "Trabalhamos numa instituição pública e nem sempre podemos fazer o que bem entendemos", disse um deles.

Um ex-sargento que serviu no 20.º Batalhão de Infantaria Blindada, na década de 90, e que prefere não ser identificado, admite que os trotes eram comuns dentro da unidade. "Nunca fiquei sabendo de nada tão violento como o que foi mostrado, mas os trotes sempre existiram", conta. Segundo ele, os trotes aconteciam quando o militar era promovido ou quando, há pouco tempo no cargo, cometia um erro.

As vítimas recebiam o chamado "chá de manta" ou "pacote", ou sejam, eram embrulhadas em uma coberta, ficando imobilizadas. Passavam o dia sem comer e recebiam mordidas nas nádegas. Pagar um jantar para os veteranos também era lei para os novatos. Banhos gelados no inverno eram uma outra espécie de punição, assim como colocar os recém-chegados em cima do armário e fazê-los uivar como lobos. "Era normal, quem entrou passou por isso e depois que virou veterano fez outra pessoa passar e ninguém fala nada", diz.

"Treinamento"

Para outro ex-militar, que também não quer se identificar, o pacto de silêncio ultrapassa a questão do corporativismo. De acordo com ele, muitos soldados se sentem bem ao conseguir passar por um trote ou até por situações mais violentas porque acreditam que isso ajuda na sua formação. "Eles acreditam que isso faz dele um bom soldado. Mas engana-se quem pensa assim. No Exército tive meu limite de frio, fome, sede e medo testado, mas sem violência", explica. (AA)

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