Brasília O senador José Sarney (PMDB-AP) recusou apelo da cúpula do PT no Senado para suceder Renan Calheiros (PMDB-AL), licenciado da presidência da Casa desde o dia 11 de outubro. Procurado na noite de quinta-feira pelo presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC), e pelo senador Aloízio Mercadante (PT-SP), Sarney foi enfático ao afirmar que não deseja mais presidir coisa alguma. "Tenho 78 anos e estou cansado de ser atacado a vida inteira", confessou, para rebater a insistência dos petistas empenhados em convencê-lo de que o cargo de presidente pertence ao PMDB e o sucessor natural de Renan é ele.
Nem o PMDB de Renan e Sarney, nem o Planalto ou o PT, e tampouco a oposição têm pressa em eleger o peemedebista que comandará o Senado. O governo e seus aliados apostam que a eleição só ocorrerá no ano que vem, depois que os senadores prorrogarem a CPMF. Mas o processo sucessório está em curso e, diante da negativa de Sarney, a alternativa mais forte para o posto de presidente da Casa é o senador José Maranhão (PMDB-PB). "Ele só não será presidente do Senado se não quiser", resumem com a mesma ênfase um dirigente do PMDB e um senador da cúpula do PT. Mas Maranhão não corre sozinho. A novidade posta ontem como "opção de peso" no quadro sucessório do Senado é Edison Lobão (PMDB-MA).
O nome de Lobão, que deixou o DEM, surge na esteira da decisão de quinta-feira do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), definindo que a regra da fidelidade partidária para os detentores de mandatos majoritários, como os senadores, só vale a partir de 16 de outubro. O Tribunal entendeu que o mandato parlamentar pertence ao partido e não ao senador, mas Lobão ingressou no PMDB no dia 9 de outubro, uma semana antes do prazo fatal. Com isto, sua filiação não poderá ser contestada pelo DEM ou pela Justiça e ele não corre risco de ser cassado por conta da troca de legenda.
Mesmo sendo "cristão novo" na bancada peemedebista, Lobão foi recebido com festa pelos 19 senadores do partido e ainda conta com a força do apoio do grupo de Sarney, do qual faz parte há mais de 30 anos. A confiança do amigo e correligionário é capital político de grande relevância, uma vez que todos reconhecem em Sarney o grande eleitor do PMDB. A seu favor pesa também a experiência de quem governou o Maranhão e já presidiu o Senado em tempos de crise, quando Jáder Barbalho (PMDB-PA) licenciou-se do cargo. Lobão tem ainda o perfil do político que transita bem no governo e na oposição. Seu nome é do agrado do Planalto, uma vez que, mesmo na oposição, ajudou o governo o quanto pôde. Por outro lado, deixou grandes amigos no DEM, já que nunca havia trocado de partido antes de se mudar para o PMDB.
