Só na prancheta
Cidades saudáveis ainda são um sonho distante
Segundo Maria Figols González, ainda é difícil apontar exemplos de bairros e cidades saudáveis, muito pela falta de vontade empresarial e política. "Isso depende de interesse das administrações. É mais fácil falar de casas saudáveis", explica. Ela acrescenta que, embora os estudos científicos sobre o assunto já tenham mais de duas décadas, esse tipo de construção não é do interesse de grandes empresas. "O amianto, por exemplo, já era visto como um material perigoso, mas só foi proibido depois de 20 anos. É uma fibra extremamente prejudicial ao pulmão. O mesmo ocorre com os pesticidas, que foram usados por muito tempo."
Para Ormy Hütner Junior, quando se trabalha com cidades, é fundamental pensar na relação entre pessoas. "Uma postura sustentável exige comunidades sustentáveis. Tem a ver com postura, comportamento, educação. Muitas vezes, a pessoa não conhece nem os vizinhos." Ele acrescenta que a sustentabilidade e a "saudabilidade" das construções deveriam andar de mãos dadas. "Ainda há muita construção sustentável que traz prejuízos à saúde, por desconhecimento mesmo."
Pensar uma casa saudável do zero é mais fácil, o que não torna impossível transformar uma edificação já existente, a partir de uma boa avaliação do que precisa ser mudado, conforme explica Maria. Já os bairros podem se transformar em lugares mais saudáveis pelo uso de espaços públicos. Ela cita como exemplo o projeto que transformou solares vazios em bairros pobres de Zaragoza, na Espanha, em espaços coletivos de cidadania, com jogos de mesa.
Você sabia que a forma como uma casa foi construída tem influência direta sobre a saúde e o bem-estar dos moradores? Embora já se pense muito na sustentabilidade de edificações e projetos urbanos com foco em aspectos econômicos, ambientais e sociais , pouco ou quase nada se fala sobre o efeito de casas, bairros e cidades sobre a saúde das pessoas. "Segundo a Organização Mundial da Saúde, 30% dos edifícios no mundo causam doenças nas pessoas", diz o presidente do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas no Estado do Paraná (SindArq/PR), Ormy Hütner Junior. Para trazer o assunto à pauta, a entidade promoveu o encontro Cidades Saudáveis e Sustentáveis: os efeitos da ocupação desordenada no bem-estar da sociedade, encerrado ontem em Curitiba.
"Existe muita bibliografia sobre sustentabilidade, mas o que é saudável ninguém discute", reforça Hütner Junior. Segundo ele, a influência das edificações na saúde dos moradores é mais conhecida no hemisfério norte, onde o frio obriga a existência de construções mais fechadas. A engenheira de edificações e técnica em arquitetura Maria Figols González, de Zaragoza (Espanha), recorda que o corpo humano é um organismo que, ao longo do tempo, se adaptou às condições naturais. "É preciso que ele funcione da maneira mais natural possível, sem influências externas que possam prejudicá-lo. E há muitas tecnologias de alta frequência, substâncias tóxicas e outros elementos que trazem danos a nós e ao meio ambiente."
Além da parte física (que observa elementos como radiação, radioatividade), uma construção saudável tem foco em aspectos biológicos (umidade, mofo e proliferação de bactérias, que podem ser sinal de mau planejamento da obra) e químicos (que tipo de materiais e tintas serão usadas em paredes e mobiliários). "Se você compara com uma casa feita com os materiais mais baratos do mercado, o custo é realmente mais alto. Mas, nesta conta, não estão os gastos futuros com médico", pondera Maria. A ideia, diz ela, não é aumentar a longevidade do morador, mas proporcionar-lhe uma vida mais tranquila. "A casa é o lugar de regeneração, descanso. O objetivo é buscar o bem-estar e a felicidade."
Bioconstrução
Durante o evento, Maria falou sobre princípios da bioconstrução, aplicados aos bairros, o que pressupõe o comprometimento dos moradores. "É uma arquitetura reconciliadora, que busca harmonizar cultura, ser humano e natureza, respeitando as realidades locais." Na hora do planejamento, além da escolha de locais sem perturbações naturais no solo ou proximidade com fontes de ruídos, é importante garantir proximidade de serviços e transporte público de qualidade.
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