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RIO

Saúde pública ou crime ambiental: campanha para não alimentar pombos causa polêmica

 | Hugo Harada/Gazeta do Povo
(Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo)

A prefeitura do Rio lançou na terça-feira uma campanha com objetivo de orientar cariocas a não alimentarem os pombos da cidade. Batizada de “Criptococose: não seja cúmplice”, a ação, organizada pela Vigilância Sanitária do município, tenta informar sobre os riscos que a superpopulação dessas aves pode provocar à saúde, além de oferecer alternativas para afastá-las e diminuir os riscos. A decisão de incentivar a população a não dar comida às aves, no entanto, foi alvo de críticas. A ONG SOS Aves e Cia acusa a prefeitura de crime ambiental e pretende denunciar o caso ao Ministério Público Estadual.

“Estou estarrecido. Não posso acreditar que isso seja verdade. É um absurdo porque, na verdade, nas entrelinhas, eles vão levar a ave à morte. O pombo é animal domesticado, que não sabe se alimentar sozinho. Está sendo cometido um crime ambiental. Há outras formas de controle populacional”, afirmou Paulo Maia, da ONG SOS Aves e Cia.

De acordo com a Vigilância Sanitária, entre as principais zoonoses que o pombo provoca está a criptococose. A doença é considerada a mais grave porque ataca as vias respiratórias: o ser humano inala a poeira das fezes ressecadas do pombo, que são carregadas de fungos prejudiciais à saúde. As outras doenças provocadas pelo contato com as fezes são histoplasmose, clamidiose, salmonelose, dermatites e alergias. A Secretaria Municipal de Saúde informa que não tem estatística de contaminação, pois as doenças não são de notificação compulsória.

“A critococose é causada por um fungo, cryptococcus neoformans, encontrado nas fezes do pombo. Quando essas fezes ressecam e as partículas ficam suspensas, há risco de contaminação. O ser humano que inalar essas partículas pode desenvolver meningite por fungo ou problemas pulmonares graves”, alerta o veterinário da Vigilância Sanitária Silvio Pimentel.

Apesar de alimentar pombos não ser proibido por lei, a campanha quer que a população deixe de dar comida e abrigo às aves. Segundo o órgão, a “abundância de alimentos e a facilidade de acomodação” fazem com que os animais se reproduzam rapidamente, levando a um descontrole e ao surgimento de zoonoses (doenças que os animais transmitem aos homens).

Segundo a Vigilância, a campanha “Criptococose: não seja cúmplice” também orienta a não maltratar os animais e dá dicas para afastá-los sem machucá-los, como, por exemplo, manter os locais em que eles pousam inclinados, instalar produtos para dificultar o pouso (como graxas) e fechar com tela os espaços usados como abrigos.

O presidente da ONG SOS Aves e Cia, Paulo Maia, afirmou estar chocado com a estratégia adotada pela prefeitura. Ele afirma que há outras formar de controle populacional da ave, como a instalação de pombais em praças públicas.

“Além disso, a prefeitura esquece de dizer à população que todas estas doenças não são causadas apenas por pombos. O fungo da driptococose, por exemplo, pode estar em frutas podres ou em chão de serrarias”, afirmou.

Paulo Maia critica o fato de a prefeitura não ter procurado especialistas para pedir sugestões para o problema. “A exemplo do que acontece em cidades como Paris e Berlim, nossa ONG implantou um projeto-piloto de um pombal na Fonte da Saudade há cerca de três anos. Foi um sucesso: reduzimos a população daquela praça de 600 para 100 pombos. Todos os dias higienizávamos e recolhíamos os ovos excedentes nos ninhos, o que levou a um controle da colônia. Infelizmente, o pombal foi roubado e a prefeitura abandonou o projeto. Porque não nos pediram ajuda e retomaram a ideia?” , indagou.

Casos de superpopulação de pombos podem ser informados à prefeitura, que providenciará a ida de técnicos da Vigilância Sanitária ao local. A visita pode ser solicitada pela central de atendimento 1746. Somente em 2016, os técnicos já atenderam 257 denúncias. Em 2015 foram 778.

De acordo com a Vigilânia Sanitária, o problema da superpopulação de pombos atinge todo o município.

“Há uns três anos, tínhamos cinco bairros em que havia maior concentração: Botafogo, Copacabana, Flamengo, Méier e Jacarepaguá. Hoje, a realidade é que em toda a cidade houve um crescimento desordenado da população de pombos”, afirma o veterinário, ressaltando que a prefeitura condena o extermínio das aves.

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