Em menos de três meses, Santa Catarina vive sua segunda onda de ataques contra prédios públicos, casas de policiais e ônibus. Ontem, o estado catarinense chegou ao sexto dia da escalada de violência com um total de 50 atentados em 16 municípios. Um suspeito morreu em confronto com a polícia e outros 18 foram presos.
Na noite de domingo, uma base da guarda municipal foi atacada por dois homens na cidade de São José, região metropolitana de Florianópolis. Houve troca de tiros entre os suspeitos e um policial militar. Um dos criminosos, atingido por um tiro na perna, foi preso após dar entrada em um hospital da cidade.
Causas
A motivação dos atentados ainda não esclarecida pela polícia, mas especula-se que os casos tenham como estopim um vídeo, gravado no último dia 18 no pátio do Presídio Regional de Joinville, no qual dezenas de presos, nus e rendidos, são alvos de balas de borracha e bombas de efeito moral disparados por agentes do Departamento de Administração Prisional (Deap).
Em nota, Ada Faraco de Luca, secretária de Estado da Justiça e Cidadania, disse estar chocada com as imagens do vídeo divulgado no último sábado pela imprensa catarinense. No texto, o governo informa que os agentes identificados foram afastados de suas funções até que o caso seja apurado.
Com informações do Diário Catarinense.
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Entrevista
Eduardo Guerini, cientista político, professor do programa de mestrado em Gestão de Políticas Públicas da Universidade do Vale do Itajaí (Univali)
"A violência contra sentenciados é generalizada no estado"
Raphael Marchiori, especial para a Gazeta do Povo
Quais são as causas para a retomada dos ataques?
Essa segunda onda é recorrência do mesmo problema [de novembro de 2012]: uma resposta do PGC [Primeiro Grupo Catarinense] às péssimas condições dos presídios e do impedimento da progressão da pena. Ambas ocorreram após denúncias de torturas, primeiro no Complexo Estadual de São Pedro de Alcântara e agora no Presídio Regional de Joinville.
Qual a origem do PGC?
O grupo é de 2003, uma derivação do PCC [Primeiro Comando da Capital, facção criminosa paulista]. A partir daí, Santa Catarina virou laboratório de crimes caixeiros [explosão de caixas eletrônicos], o PGC passou a controlar o tráfico de drogas e dar assistência às famílias de presos.
É possível afirmar que o tratamento dispensado aos presos do Presídio Regional de Joinville é uma prática comum nos demais presídios do estado?
Em maior e menor grau, a prática de abuso de poder, corrupção generalizada e violência contra sentenciados é generalizada.
Quais deveriam ser as estratégias adotadas pelo governo para conter os atentados?
O primeiro passo deveria ser integrar as polícias, o que é um problema político complexo e nacional. Além disso, há falta de investimento. Outro gargalo do sistema catarinense é o controle sobre a comunicação nos presídios, que ocorre livremente.
Essa nova onda de ataques está mais disseminada no estado do que a primeira. O governo disse que isso ocorreu porque o litoral está mais policiado. Essa explicação é factível?
Essa é uma explicação bastante factual. No verão, a orla catarinense sofre um impacto por mais policiais para atender turistas. Com maior intensidade, os atentados ocorreram nas regiões onde se prosperaram as torturas. No caso, agora é Joinville que mais sofre.
Qual o risco desse tipo de crime migrar para estados vizinhos?
Os riscos existem. As transferências para presídios de segurança produzem uma revolta ainda maior e aumentam a comunicação entre os grupos criminosos. De Joinville a Curitiba, por exemplo, já há uma comunicação. Além disso, o isolamento dos presos não existe por completo e a reprodução midiática dos ataques também produz esse efeito.