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Patrimônio

Se as paredes falassem...

Na sala de jantar, detalhes da pintura decorativa: casa mudou os padrões de construção na Lapa |
Na sala de jantar, detalhes da pintura decorativa: casa mudou os padrões de construção na Lapa (Foto: )
No corredor, estêncil ganha outras formas: paredes faziam alusão às pessoas que frequentavam os espaços |

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No corredor, estêncil ganha outras formas: paredes faziam alusão às pessoas que frequentavam os espaços

Se o ditado popular fosse colocado em prática, as paredes de uma casa da Lapa teriam muito a dizer. A começar pela beleza da pintura que as decora e a terminar pela história das famílias que viveram na residência. Sem deixar de lado o fato de ter sido ali perto que o general Gomes Carneiro foi baleado durante o Cerco da Lapa, 19 anos antes de as paredes tomarem forma.A casa foi construída em 1913 e recebeu pinturas decorativas que eram exceção à época – somente famílias abastadas costumavam recorrer a esse tipo de decoração. Era a maneira de ornamentar a casa e deixá-la mais elegante e diferente das outras. Na Lapa, a casa é provavelmente uma das poucas, se não a única com esse tipo de pintura. Em Curitiba, outros imóveis também receberam a pintura chamada de estêncil: o Paço Municipal, o Castelo do Batel e a Casa Klemtz – sem falar de algumas igrejas. Foi no fim do século 19 e início do 20 que a pintura decorativa chegou ao Brasil. "Ela surge como inovação, apesar de esta pintura mural (ou parietal) vir desde o tempo clássico. Gregos, romanos e egípcios já usavam o recurso em abundância, mas eram afrescos", explica a arquiteta Nanci Valente, professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Padrão

A pintura estêncil costuma manter alguns padrões. A parte inferior da parede é pintada com retângulos que são uma alusão aos antigos lambris – eram pedaços de madeira recortados e afixados na parte inferior da parede. Estes quadrados pintados ora imitam esta madeira (que normalmente era nobre), ora parecem almofadas ou mármores italianos. Logo acima deles estão os murais cheios de detalhes feitos normalmente em moldura. Para finalizar, cada painel recebe como acabamento uma faixa separada. "Como o pé direito destas construções era alto, essa faixa ajuda a diminuir a sensação de altura", explica Nanci. Se a parede fazia parte de uma sala de jantar, por exemplo, a faixa poderia ser ornamentada com desenhos de frutas e aves, que faziam referência à refeição. No quarto das mulheres, poderiam aparecer desenhos de laços cor-de-rosa, por exemplo. "Os motivos vão se alternando para fazer analogia às pessoas que habitam o espaço", conta Nanci.

Na casa da Lapa, a suíte e os quartos dos três rapazes foram decorados com motivos pintados em azul. O corredor tem desenhos vermelho terra e o quarto da única filha do casal que construiu a casa é cor-de-rosa. A sala de jantar recebeu um tom esverdeado para os desenhos emoldurados. Trata-se de uma casa eclética que mudou os padrões construtivos da Lapa na época, pois a cidade tinha apenas residências em estilo colonial português. "O tombamento da casa levou em consideração o fato de as pessoas que moraram ali terem cuidado do imóvel, por isso o grau de proteção é o número um, extremamente rigoroso", explica Rosina Parchen, chefe da coordenação do patrimônio cultural da Secretaria de Estado da Cultura. Assim como o seu entorno, a casa é tombada pelo patrimônio histórico estadual.

A pintura decorativa deixou de ser usada principalmente depois da Revolução Industrial: o pré-fabricado e as edificações construídas rapidamente são reflexos do período. A pintura estêncil perdeu o pouco espaço que tinha e, hoje, são poucos os locais que conseguiram preservar a pintura na sua originalidade.

Serviço:

A residência fica no centro histórico da Lapa, na Rua Barão do Rio Branco, 1.614. O atual proprietário pretende abri-la ao público em breve, para que as pessoas conheçam a história da casa e dos médicos que ali viveram.

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