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Segundo Gutierrez, os maiores problemas da corporação hoje são, na ordem, salário, presos em delegacias e efetivo | Hedeson Alves/ Gazeta do Povo
Segundo Gutierrez, os maiores problemas da corporação hoje são, na ordem, salário, presos em delegacias e efetivo| Foto: Hedeson Alves/ Gazeta do Povo

Após oito anos da gestão anterior – em que o último dos três mandatos teve a legitimidade questionada pela classe –, o agente André Luiz Gutierrez, 48 anos, assumiu no último dia 15 de setembro o cargo de presidente do Sindicato das Classes de Policiais Civis do Paraná (Sinclapol) já cobrando o governo. A classe está em indicativo de greve e vota amanhã se paralisará as atividades.

Gutierrez tem 26 anos de polícia, no cargo de agente de operações policiais (cargo semelhante a um investigador, mas com conhecimentos de informática e telecomunicações, para o qual foi extinto o concurso em 2002). Nesse período, passou pelas delegacias de Furtos e Roubos, de Furtos e Roubos de Veículos, Centro de Operações Po­­liciais Especiais (Cope), Subdivi­são de Foz do Iguaçu e Delegacia de Alto Ma­­racanã, em Colombo, na região metropolitana de Curitiba.

O seu mandato co­­meça com a Polícia Civil em que condições?

A gente tem de falar a verdade: armamento existe, armas boas e novas. Tivemos reclamação em relação aos coletes à prova de bala. O governo se movimentou e adquiriu 3 mil, que serão distribuídos inicialmente aos policiais novos e, depois, os coletes antigos serão trocados. Viatura também não falta. É uma ou outra sem rádio, mas parece que isso vai ser sanado. A estrutura está boa. Os principais problemas são os mesmos há tempos: salário, presos em delegacias e efetivo, nessa ordem.

Qual é o problema em termos salariais?

O policial civil hoje precisa ter nível superior. Então, o justo seria a isonomia com outras carreiras do estado de nível superior. Tomamos por parâmetro o segundo tenente, que é a primeira carreira de nível superior da Polícia Militar e que recebe aproximadamente R$ 3,9 mil, enquanto que a primeira carreira da Polícia Civil, que é o investigador da quinta categoria, recebe R$ 1.955. Não é questão de o governo ter favorecido um ao outro. Mas queremos a isonomia.

A disparidade é muito grande entre o salário dos delegados e da base (escrivães e investigadores)?

É imensa. Antigamente o investigador chegava a 65% do salário de delegado de primeira classe. Hoje, ele entra na polícia ganhando aproximadamente 20% do salário do delegado de primeira classe. E ambas as carreiras são de nível superior. Muitos novatos desistem, porque têm outra formação que inclusive facilita conseguir um emprego na iniciativa privada, ganhando mais que na polícia. O profissional de segurança pública que ganha bem também diminui o risco de ser cooptado pelo crime organizado. O salário baixo explica a corrupção, mas não a justifica, vamos ressaltar. A secretaria tem agido bem contra a corrupção, mas não é melhor resolver o problema na raiz, melhorando os salários?

Qual é o déficit de policiais civis hoje?

Nos últimos 20 anos, a defasagem sempre ficou em torno de 50% do previsto em lei. São entre 3,3 mil e 3,4 mil policiais civis. E a lei prevê 6,4 mil. Foi feito concurso recentemente e neste governo foram quatro turmas formadas. Mas, como é histórico, o governo tem de continuar fazendo novas seleções para suprir o déficit. Em contrapartida, tem de resolver o problema dos presos em delegacias. Hoje, com o efetivo que temos, se houvesse uma mágica que esvaziasse as delegacias de presos, haveria uma quantidade satisfatória de policiais. Se tirarem os presos das delegacias, a Polícia Civil volta a ter condições de trabalhar. Toda ela, não só as delegacias especializadas, onde normalmente já não ficam presos.

As celas modulares são mesmo a solução da superlotação nas celas das delegacias de Curitiba e região metropolitana?

Ajudaram, mas não são a solução. A solução seria a construção de presídios com 10 mil vagas provisórias, pelo menos. As delegacias estão abrigando mais da metade dos detentos do estado. A lei afirma que o preso fica com a Polícia Civil somente durante o interesse da investigação. Acabou o procedimento, ele tem de ir para o sistema prisional. Precisamos de uma prisão provisória no estado, em Curitiba ou onde quer que seja, que receba essas pessoas.

Os policiais estão com indicativo de greve...

Sim, No dia 24 (amanhã) nos reuniremos para consultar a classe. Temos compromisso do governo de que eles nos passarão o projeto de modernização da Polícia Civil. E também concordamos que antes do dia 24 eles nos sinalizariam uma proposta. Mas uma proposta sólida, não uma promessa. Aí marcaremos nova assembleia, porque é preciso avisar o governo 72 horas antes. Se nessa assembleia for decidida a greve, devemos começar na outra semana.

Qual é, exatamente, a pauta de reivindicação?

Salário. E o plano de carreira, cargos e salários, que a diretoria antiga do Sinclapol alardeava muito, mas que o próprio go­­verno disse não existir. O que existe é um projeto de modernização da Polícia Civil. Mas não está concluído, não tem tabela de salário, não tem definição sobre aposentadoria especial.

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