Estiagem na capital federal e "nevasca" na Grande São Paulo. O inverno brasileiro mostrou ontem as suas variações com a ocorrência de fenômenos climáticos surpreendentes, mas perfeitamente naturais para um país com dimensões continentais como o nosso. Enquanto a capital Brasília passava pelo primeiro dia em situação de emergência por causa da seca, a cidade de Guarulhos (SP) foi surpreendida por uma forte chuva de granizo que cobriu casas, carros e ruas de branco.
"Chover granizo nesta época do ano é normal, mas não com a força que teve hoje [ontem], disse o meteorologista Michel Pantera, do Centro de Gerenciamento de Emergências da prefeitura de São Paulo. A previsão inicial de chuva em Guarulhos, segundo fontes meteorológicas, era de cinco milímetros (mm). No entanto, a tempestade de granizo, que começou por volta das 16 horas e durou cerca de uma hora, foi de 27 mm cinco vezes mais.
Distante mil quilômetros, o Distrito Federal completou 118 dias sem chuva. A baixa umidade relativa do ar, inferior a 20%, tem causado incêndios recordes em parques e áreas de proteção. A situação levou o governador Rogério Rosso a decretar emergência ambiental, que deve vigorar por 60 dias.
Apenas na madrugada de ontem foi controlado o fogo no Parque Nacional de Brasília, após destruir uma área de 13,5 mil hectares, o equivalente a pouco mais de 32% da área. O Corpo de Bombeiros investiga se o incêndio foi causado por uma "rave" na vizinhança do parque. Segundo nota oficial, uma perícia será feita na região da Granja do Torto, em busca de pistas sobre a origem do fogo. Ontem, cerca de 50 brigadistas do Instituto Chico Mendes continuavam o trabalho de rescaldo.
Em Goiás, um incêndio ainda fora de controle e que completou ontem quatro dias consumiu mais de 26 mil hectares da vegetação da Chapada dos Veadeiros, em Alto Paraíso. A área atingida equivale a cerca de 30% da reserva, que ocupa 66 mil hectares de Cerrado. Segundo Paulo Carneiro, coordenador de Proteção Ambiental do Instituto Chico Mendes, somente um dos três focos de fogo foi controlado. O parque goiano é maior que o do Distrito Federal (possui 66 mil hectares) e conta com um quinto do efetivo deslocado para o combate às chamas em Brasília. O local, porém, sofre com uma dificuldade adicional: o vento forte, que impede a operação de dois aviões e um helicóptero usados no trabalho.
Amazonas
A Defesa Civil do Amazonas deve começar até o fim desta semana a ajuda emergencial a 27.947 famílias atingidas pela seca nas calhas do Rio Solimões e seu afluente, o Rio Juruá. São mais de 122 mil pessoas em 18 municípios que já decretaram situação de emergência e mais de metade está isolada sem acesso sequer por canoas às comunidades.
O Rio Negro, que banha Manaus, continua descendo, mas o Solimões está subindo cerca de 30 centímetros por dia desde a semana passada. Não é suficiente ainda, contudo, para normalizar a vida dos ribeirinhos. "Só em até três semanas o efeito da subida das águas do Solimões poderá ser sentido nas águas do Rio Negro", disse o superintendente do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) no Amazonas, Marco Oliveira.
Na última segunda-feira, o Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas emitiu parecer favorável à consulta do governo estadual para a ajuda aos ribeirinhos, por causa da proibição de distribuição de bens à população em período eleitoral. A lei já prevê a exceção em situação de emergência, mas como o governador Omar Aziz (PMN) é candidato à reeleição, a administração julgou necessária a consulta.