Vídeo:| Foto: Reprodução TV Tem - Bauru

Uma família de proprietários rurais da Região Centro-Oeste do estado denunciou ontem que há cerca de seis meses a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) vem descumprindo uma decisão judicial por determinação do comandante da pasta, o secretário Luiz Fernando Delazari. A ordem de reintegração de posse da Fazenda Santa Maria, no município de Santa Maria do Oeste, foi expedida pela comarca de Pitanga no dia 8 de agosto do ano passado, um dia após a propriedade ser invadida por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). Até agora, os invasores continuam no local. Segundo os proprietários, por inoperância da Sesp e interferência direta da superintendência regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

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A última operação para reintegração de posse estava marcada para 6 de fevereiro, mas não foi cumprida a pedido do ouvidor do Incra no estado, Nilton Bezerra Guedes, que tentou negociar uma retirada pacífica das famílias do local. Depois disso, a proprietária da fazenda, Neide Alves Torres, 49 anos, e sua filha, Juliana Torres, 27 anos, estiveram duas vezes na Sesp para conversar com o coronel da Polícia Militar Daniel Alves de Carvalho, coordenador de Análise e Planejamento Estratégico da Secretaria. Juliana gravou as conversas, como mostrou ontem a segunda edição do telejornal Paraná TV, da Rede Paranaense de Comunicação (RPC). Em uma delas, Carvalho admitiu que a ordem para adiar a operação de 6 de fevereiro foi dada diretamente por Delazari.

Na conversa com Neide e Juliana, o coronel revelou que o secretário telefonou na manhã do dia 6, dizendo que o Incra tinha pedido o adiamento da operação até que os sem-terra colhessem o feijão que tinham plantado na propriedade. "O secretário me ligou (e disse) ô Daniel... O Incra me ligou e disse isso e isso (...). Vamos suspender a operação."

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Questionado pela proprietária sobre a nova data da desocupação, o coronel respondeu: "Não posso mudar a decisão do secretário. Vocês têm noção de escala de valores, de escala de autoridade. Eu não posso dizer ‘secretário, aquela ordem que o senhor deu, o senhor volte atrás’".

Desde que os sem-terra invadiram a Fazenda Santa Maria, a família Torres diz que vem levando uma vida de sem-teto. "Estamos na rua, morando de favor", afirmou Juliana. "Não podemos mais entrar em casa porque invadiram a sede. Já destruíram quase tudo." Segundo ela, a fazenda pertence à família há 23 anos e é produtiva. "Plantamos milho, feijão, trigo. São 10 mil sacas de soja por safra", disse. "Esperávamos mais das autoridades, mas esse governo não tem pulso firme."

Por meio de sua assessoria, a Sesp informou ontem que, desde que recebeu a ordem de reintegração de posse, colocou a fazenda Santa Maria na lista de imóveis rurais invadidos a serem desocupados. O atraso na operação teria sido motivado pelo Incra, que estaria tentando comprar a área. Como a possibilidade de venda foi negada pela família, a Sesp planeja uma nova operação de desocupação para este mês.

No fim da tarde de ontem, a assessoria do Incra em Curitiba informou que Nilton Guedes estava em reunião e não poderia atender a reportagem. Segundo a assessoria, o Instituto procura mediar os conflitos, para que as desocupações sejam pacíficas, e não impede operações de reintegração de posse. A assessoria informou ainda que as propostas para a compra de áreas destinadas a assentamentos não podem partir do órgão e sim dos proprietários.