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Cassino clandestino

Secretário nega crise na Polícia Civil, mas condena ação de policiais

O secretário estadual da Segurança Pública, Reinaldo de Almeida César, negou nesta segunda-feira (30) que haja uma crise na Polícia Civil do Paraná. Em entrevista coletiva para apresentar os dados estatísticos sobre a violência no estado, César afirmou que não haverá represálias aos envolvidos na operação que culminou com a invasão de uma casa de luxo no bairro Parolin, onde funcionava um cassino clandestino.

"A polícia tem o dever de prender [quando há flagrante delito], então não há por que temer represálias", afirma o secretário. Sem a presença de um delegado, policiais invadiram a mansão na noite de quinta-feira (26), prenderam três pessoas e apreenderam 40 máquinas de caça-níqueis. A operação teria sido um protesto dos policiais pela aprovação do Estatuto da Polícia Civil.

César ainda concordou com a avaliação feita como comando da Polícia Civil, que classificou a operação como miliciana e política. "Sou delegado da Polícia Federal, acompanhei várias operações de vulto e nunca vi policiais precisarem estar encapuzados. Isso é muito grave. Isso é mais próprio de organizações paramilitares ou de milícia", afirmou. Ainda de acordo com o secretário, boatos de que agentes novatos e aposentados teriam participado da ação estão sendo apurados pela secretaria.

Crise

A invasão do cassino clandestino teria aberto uma crise na Polícia Civil do estado. A crítica surgiu porque a ação dos oito policiais não havia sido comunicada a um delegado nem ao 2º Distrito Policial, responsável pela região. A Corregedoria deve investigar o caso.

Na ação, 40 máquinas de caça-níqueis, dois gabinetes de computador e uma máquina de cartão de crédito foram apreendidos no local. A casa também seria utilizada para prostituição. As três pessoas apontadas como as responsáveis pelo local foram levadas ao 2º Distrito Policial, onde assinaram Termo Circunstanciado. Eles vão responder pela prática de jogo ilegal.

A ação teve início por volta das 23 horas de quinta-feira, mas um delegado compareceu ao local somente por volta das 9 horas desta sexta-feira (27). O delegado-adjunto da Divisão da Capital, Sebastião Ramos dos Santos Neto, afirmou que houve uma falha da comunicação, e por isso um delegado do 2º Distrito Policial esteve no local somente nesta manhã. Os policiais tiveram de passar a madrugada no imóvel. "A operação não tinha um coordenador e por isso houve essa falha na comunicação", afirmou Santos Neto.

Protesto

Informações extraoficias dão conta de que a operação foi uma forma de protesto dos policiais. A categoria quer a publicação do novo Estatuto da Polícia Civil, que, entre outras coisas, pretende modernizar a administração do órgão e fazer uma recomposição de salários, e negocia com o governo do Paraná. O delegado-adjunto afirmou que recebeu essa informação, mas o que foi passado a ele era de que se tratava de uma falha na comunicação.

As três pessoas apontadas como as responsáveis pela residência foram conduzidas ao 2º Distrito Policial, onde assinaram Termo Circunstanciado. Eles deverão responder pela prática de jogo ilegal, previsto no Artigo 50 da Lei de Contravenções Penais.

Críticas

Em nota, a direção da Polícia Civil criticou duramente a operação. "Alguns policiais, em forma de milícia e encapuzados, agiram sem que estivessem respaldados da coordenação de um delegado de polícia. (...) Assim, sem a devida oficialização da Polícia Civil, não houve preparo estrutural para o transporte dos materiais apreendidos, que somente pela manhã foram encaminhados e armazenados na sede do 2º Distrito Policial da Capital", diz um trecho da nota. O delegado geral da Polícia Civil, Marcus Michelotto, entendeu que a apreensão teve objetivo político. "Foi uma balbúrdia para desgastar o departamento (chefia da polícia civil) e as negociações que o governo tem mantido com os policiais", afirmou. Segundo ele, 20 policiais foram identificados com algum interesse político dentro da corporação e estariam associados a partidos políticos ou a sindicatos de oposição. Dois deles seriam pré-candidatos a vereadores neste ano. "Não aprovamos a ação da maneira como ela foi realizada. Os policiais que participaram se comportaram como milicianos, escondendo o rosto e não respeitaram os padrões de hierarquia e disciplina da corporação", completou o chefe da Polícia Civil.

Desconfiança

O presidente do Sindicato dos Investigadores da Polícia Civil (Sipol), Roberto Ramires, disse que ação dos oito policiais foi "normal e legal" e disse desconfiar dos motivos que levam a direção da Polícia Civil criticar a operação. "Foi um serviço correto e honesto. Agora me admira que as autoridades estejam lidando como se esse local fosse um templo sagrado e inviolável. O que será que tem por trás disso?", questiona.

Ele defendeu a legalidade da apreensão. "Tanto é legal que os materiais apreendidos foram para o segundo distrito e lá foram tomadas as medidas cabíveis", argumentou. O Sipol disse ainda que acompanha o desdobramento da operação desde a manhã para proteger os investigadores de retaliações da direção da polícia. Ramires negou que a apreensão tenha conotação política ou relação com as reivindicações da categoria.

"Crise de moralidade"

Um investigador da Polícia Civil que participou da ação disse que a abordagem à mansão faz parte de uma operação-padrão. O ato seria uma forma de pressionar pela reforma do estatuto da corporação e de se manifestar contra o que chamou de uma "crise de moralidade" na instituição.

"Se um investigador faz um relatório sobre determinado crime ou contravenção, as investigações são barradas lá na frente. A verdade no Paraná é a seguinte: ao pobre vale o Código do Processo Penal; ao rico, o Código do Processo Civil", disse.

De acordo com o policial, os agentes que participaram da operação cobriram o rosto com medo de retaliações. "Três companheiros já tiveram sua transferência determinada pelo departamento. Temos que nos proteger", explicou.

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