Há três anos, desde que ficou desempregado, o pedreiro Adaílson Silva, 30, mora embaixo do viaduto ao lado da estação Santana do Metrô, na zona norte de São Paulo. “É ruim, mas não falta nada”, diz.
A segurança, a oferta de doações de igrejas no bairro e a estrutura da estação, com banheiros públicos, são considerados pontos positivos por Adaílson e outras dezenas de moradores de rua, que montaram barracas improvisadas no local.
De acordo com a Subprefeitura de Santana e Tucuruvi, houve um aumento na população de rua no bairro -o número passou de 230 em 2014 para 400 em 2015. Não há uma hipótese clara para esse crescimento no local.
Cacau Carla, 27, já passou por outros locais da cidade e prefere dormir sob o viaduto da linha 1-azul. “Na Luz [centro] tinha muita gente oferecendo droga, e eu não uso isso. Saí de lá correndo. Aqui é o melhor lugar”, conta. Em um colchonete a poucos metros de Cacau, Tiago Henrique, 23, confirma a relativa tranquilidade do ponto.
Apesar de dizer ser “viciado em todo tipo de coisa”, ele sai do local quando precisa buscar drogas. “Em Santana não tem muito”, afirma ele, enquanto arruma seus pertences.
Pelo menos três vezes por semana, segundo a subprefeitura, uma equipe de funcionários de limpeza urbana passa no local, acompanhada da Guarda Civil Metropolitana, para retirar o lixo acumulado e obrigar os moradores a desfazer suas tendas. A maioria delas, feitas de cobertores amarrados às grades do metrô, é rapidamente reerguida minutos depois. Cacau, que mora no bairro há dez anos, diz que a fiscalização já faz parte da rotina e não costuma causar muito conflito. “Só dá confusão quando alguém não quer liberar o lugar, aí eles pegam as coisas, jogam no caminhão e levam embora”, afirma.
A subprefeitura argumenta que é preciso deixar espaço para pedestres na movimentada calçada da avenida Cruzeiro do Sul. “Na hora de pico, as pessoas precisam andar pela rua e os carros tiram cada fino... É perigoso”, afirma um dos guardas.
A presença dos moradores de rua parece não incomodar muito os usuários do metrô. A auxiliar de enfermagem Karen Silva, 24, passa diariamente por ali e, mesmo de noite, se sente tranquila. Policiais militares presentes no local afirmam que nunca presenciaram furtos ou assaltos perto das barracas. Segundo funcionários do Metrô, entretanto, alguns usuários registram queixas quando moradores de rua entram na estação para pedir dinheiro, o que ocorre diariamente.
Em dois anos de trabalho como vendedora de esmaltes na estação, Adriana de Lima, 27, lembra de apenas um incidente envolvendo os moradores de rua. “Um roubou a coberta do outro dentro do banheiro e deu briga.”