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Comportamento

Seja sustentável na hora de comer

 | Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
(Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo)

Não desperdiçar alimentos, comprar somente o necessário, exigir produtos certificados, ser criativo e diminuir o tamanho das porções de carne. Parece pouco, mas os especialistas garantem: é o suficiente para amenizar – e muito – os danos ao meio ambiente. Segundo pesquisa da ONG internacional Oxfam, os brasileiros sabem disso: 86% dos entrevistados disseram saber que suas escolhas causam impacto na natureza.

O problema é que, na prática, a história parece bem diferente: quase 70% não demonstram interesse em saber como os alimentos são produzidos, apenas 57% se importam quando desperdiçam comida e 63% não abririam mão de um bife uma vez por semana se soubessem que isso faria bem ao meio ambiente.

Para o professor do pro­­grama de pós-graduação em Gestão Ambiental da Universidade Positivo Klaus Sautter, sair do discurso e promover pequenas mudanças no dia a dia, como comprar menos e aproveitar melhor os alimentos, é fundamental para as pessoas consumirem de maneira mais sustentável.

"Se cada um se propusesse a produzir 30% menos resíduos e desperdiçar 20% menos alimentos, individualmente, não teria qualquer efeito. Mas o Brasil tem 200 milhões de habitantes. Se todos mudassem sua postura, imagine o impacto que isso teria", diz.

Segundo o pesquisador da área de sustentabilidade e diretor da unidade de São José dos Pinhais do Fae Centro Universitário, Marcus Vinicius Guaragni, a sustentabilidade na alimentação vai além da questão do meio ambiente e também envolve a preocupação com a própria saúde. Os produtos industrializados, por exemplo, exigem um gasto grande de energia e água para serem produzidos e têm corantes e conservantes que fazem mal ao organismo.

"Se a pessoa tiver oportunidade de fazer um suco de laranja da fruta em casa já é sustentável pelo fato de fugir do suco de caixinha, que é cheio de conservantes. Se as laranjas forem orgânicas, muito melhor. O ponto central é pensar que todas as opções, prontas, rápidas e práticas não são as mais saudáveis."

Para o professor de Eco­­nomia da Pontifícia Uni­versidade Católica do Paraná (PUCPR) Fábio Araújo, as mudanças realmente surtiriam efeito, mas é preciso não se iludir. "Nada vai mudar de um dia para o outro. Isso só funciona a longo prazo e se reunir uma grande quantidade de pessoas."

Desperdício

No caso dos alimentos, o principal problema é o desperdício que ocorre em toda a cadeia, desde a produção até o consumo. Segundo dados da Oxfam, um terço do que é produzido no mundo é desperdiçado, o que aumenta a importância de se pensar duas vezes antes de jogar algum alimento no lixo. "É o ensinamento mais básico: colocou no prato, tem que comer. É comum a pessoa se servir e, ao final da refeição, deixar restos ou jogar fora a maçã inteira se ela tem um amassado num dos lados, por exemplo. Comportamentos assim precisam acabar", diz Sautter.

Além de ambientalmente correta, a atitude ainda garante uma economia no fim do mês, já que, se você desperdiça menos, poupa mais. "Na soma de um ano, acaba fazendo muita diferença no orçamento", diz Araújo.

Parar de consumir carne não resolve

Parar de comer carne bovi­­na é a solução definitiva para acabar com os problemas do meio ambiente, certo? A história não é bem assim. Segundo o especialista em Gestão Am­­biental da Universidade Po­­sitivo Klaus Sautter, a produção de carne de vaca é reconhecida como a atividade mais poluente, pelo alto con­­sumo de água e nutrientes e pela emissão de metano, mas as pessoas não preci­­sam se sentir culpadas por comer um bife algumas vezes na semana.

"Porcos e galinhas também produzem metano, mas em uma quantidade bem menor, e a pesca predatória é muito danosa para o meio ambiente. Então, a solução não é eliminar, mas reduzir o consumo e tornar a ingestão balanceada. Se a pessoa varia as carnes que ingere na semana, já ajuda a diminuir os impactos."

O professor também reco­­menda que os consumidores exijam que a carne seja rastreada, como já ocorre na Eu­­ropa. Com esse mecanismo, cada animal é identificado e sabe-se quando e onde ele nasceu, se está com as vacinas e remédios em dia, se tem boa saúde, se foi tratado com pasto ou era confinado e se recebia ração.

Com maior poder aquisitivo, Brasil vive dilema ao se alimentar

Com a renda do brasileiro cada vez maior, os especialistas acreditam que o país chegou a um impasse no consumo, principalmente na alimentação: a população vem consumindo alimentos mais caros, como carnes e produtos industrializados, mas que não são necessariamente ecológicos, como forma de exibir status social.

Para o pesquisador da área de sustentabilidade Marcus Vinicius Guaragni, a situação só pode ser resolvida com educação ambiental. "Se a pessoa tiver consciência dos limites, mesmo que cresça sua renda, ela vai se organizar para não consumir além do necessário e alocar seus recursos com qualidade. Com educação ambiental, ela vai perceber que pode gastar de maneira sustentável e que não precisa consumir de maneira desenfreada para pertencer ao grupo."

Para o professor, o ideal seria seguir a lógica vigente em outros países. "Aqui, fartura na mesa é sinal de importância. Na Europa, os restaurantes servem pratos feitos, em porções individuais, e nas casas, a comida é sempre feita para não sobrar. Aqui, os rodízios e bufês dominam os estabelecimentos e ainda precisamos aprender a cozinhar de maneira que não gere desperdício."

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