Antes de o concreto dominar a paisagem, os animais nativos imperavam. Agora, vez ou outra dão as caras e lembram que moram em Curitiba. Foi assim com o macaco bugio capturado no início do mês no quintal de uma casa no bairro Uberaba e com uma capivara que surgiu do nada em uma bela manhã de novembro passado na Rodoferroviária.
Mesmo que as visitas ao ambiente urbano pareçam esporádicas, os animais nativos de Curitiba vivem mais perto dos humanos do que se imagina. É fácil encontrá-los na região próxima ao Zoológico do Parque Iguaçu, onde uma faixa de vegetação é preservada às margens do rio, ou nos Parques Barigui e Passaúna. É em nichos onde ainda há árvores típicas da flora curitibana, como a araucária e a imbuia, que vivem bugios e capivaras, e uma fauna variada, entre pássaros, mamíferos, peixes, répteis e insetos.
"Locais longe dos ruídos da cidade, onde há vegetação e rios são ideais para animais nativos. Geralmente, eles aparecem em áreas urbanas próximas ao local onde vivem em grupo", explica o biólogo e diretor do Museu de História Natural de Curitiba, Vinícius Abilhoa.
Muitos dos animais deixam seu espaço e enfrentam a selva urbana quando são expulsos pelo grupo, procuram comida ou acabam se machucando. Se parecem saudáveis e não estão em situação de risco ou causando perigo, devem ser deixados em paz para que retornem ao hábitat natural sozinhos.
Caso estejam debilitados, são apreendidos por órgãos ambientais e encaminhados ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) da PUCPR, em Tijucas do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba. Lá, passam por tratamento e exames. Nem sempre são liberados para voltar à natureza. "Se o animal está muito acostumado a ser alimentado por humanos ou pode transmitir alguma doença para o grupo, é encaminhado a criadores ou zoológicos", afirma a coordenadora do Cetas, Ana Carolina Fredianelli.
Entretanto, há espécies nativas que estão se tornando raras. "A cutia já não é mais avistada com tanta frequência e o veado há anos não é mais visto", explica a bióloga Betina Ortiz Bruel.
Aves raras são objeto de desejo
Registrar uma coruja da espécie caburé-acanelado em Curitiba é objeto de desejo para ornitólogos e fotógrafos observadores de pássaros. A ave de coloração amarelada com detalhes em preto é considerada raríssima tanto que só foi vista quatro vezes na cidade.
A pequena coruja, antiga moradora do Bosque do Papa João Paulo II e do Parque Barigui, é uma das 414 espécies de aves que vivem em Curitiba. A variedade de pássaros na cidade que sobrevive ou se adapta ao ambiente urbano chama a atenção de especialistas. Pode ser observada na capital quase a metade do total encontrado em todo o Paraná (744). "A localização de Curitiba permite esta variedade. Está próxima aos Campos Gerais e ao Litoral, além de preservar área verde", explica o ornitólogo Fernando Straube.
Straube participou da elaboração da segunda edição do livro As Aves de Curitiba a ser lançada este ano , onde são detalhadas as 414 espécies. Para ele, as áreas verdes ainda precisam ser mais valorizadas em Curitiba. "É preciso interligar os espaços onde há vegetação, como o Zoológico e o Passaúna, com bosques."
Peça ajuda ou denuncie maus-tratos
Se encontrar um animal silvestre, acione a Força Verde pelo telefone 3299-1350 ou a Guarda Municipal pelo 156. Não se aproxime e não tente capturar o animal se o bicho estiver saudável espere que retorne sozinho para a natureza.
Maus tratos a animais inclusive cães e gatos também podem ser denunciados para a Guarda Municipal, mas a recomendação é de que sejam embasados com fotos e vídeos. Cerca de 40% dos mais de 20 atendimentos diários são de denúncias que não se confirmam.