Cerca de 60 voluntários trabalham na desobstrução de estradas com pás e enxadas, em Teresópolis, na região serrana no Rio de Janeiro| Foto: Daniel Castellano / Gazeta do Povo

Corpos são enterrados no quintal de casa

Seis dias depois da chuva que devastou cidades da região serrana do Rio, moradores de áreas isoladas estão enterrando parentes e amigos no quintal de casa e o mau cheiro toma conta de boa parte da áreas atingidas.

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Teresópolis (RJ) - Sem a presença de serviços do poder público em muitas situações, moradores atingidos pela chuva na região serrana do Rio de Janeiro decidiram arregaçar as mangas e montar as estruturas que estão faltando. Eles montam centrais de recebimento de donativos, organizam locais de entrega de refeições, chegam a áreas isoladas e até retiram toneladas de lama das estradas apenas com pás e enxadas. E o trabalho "formiguinha" de cada um chega a beneficiar centenas de pessoas no final da cadeia.

Em Teresópolis, por exemplo, moradores do bairro Granja Florestal montaram em uma igreja uma central de recebimento e distribuição de donativos aos atingidos. A estrutura, que conta com 20 voluntários, dá suporte às vítimas que continuam morando na região e beneficia 300 pessoas. "É da comunidade. Não tem nada da prefeitura não", diz o presidente da associação de moradores do bairro, Sirlei Rabello.

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É desta central que saem as refeições para os cerca de 60 voluntários que trabalham na desobstrução das estradas. São moradores que decidiram abrir os acessos usando pás e enxadas. Trabalharam por dois dias seguidos e calculam ter retirado 30 caminhões de terra "no braço". Tanto trabalho gerou reflexo em outro bairro, o Jardim Salaco, que até ontem estava isolado por causa da queda de barreiras. Um acesso foi aberto pelos voluntários e outro pelo poder público.

A reportagem da Gazeta do Povo entrou no Jardim Salaco logo que a estrada foi aberta pelos voluntários. O bairro nem parecia estar isolado. Tinha comida, água e ninguém estava ferido. Helicópteros foram enviados ao local e ajudaram as vítimas. Mas também muito da organização se deve ao trabalho da comunidade.

No dia da tragédia, há uma semana, os responsáveis pela igreja ofereceram abrigo aos moradores que estavam em áreas de risco. De 200 a 300 pessoas foram para a igreja e para a escola. Sem água encanada, buscaram o que havia sobrado nas caixas d’água das casas que não foram atingidas. Pegaram também botijões de gás e receberam alimento fornecido pelo dono do supermercado, local que não tinha sido atingido. As refeições estavam garantidas.

Ao saber da situação dos moradores, motoqueiros se mobilizaram e atravessaram as trilhas para levar donativos. Eles conseguiram chegar no dia seguinte da tragédia. A enfermeira Ana Peixoto, que vive no bairro vizinho, também correu para ajudar os feridos levando utensílios e materiais que tinha em casa. Na igreja ela montou um pequeno hospital de campanha e atendeu tanto feridos leves quanto um senhor com suspeita de enfarte e uma mulher grávida. Onze pessoas foram removidas do local por um helicóptero, que pousava na casa do major reformado do Corpo de Bombeiros João Luis Lincon.

Lincon mora na vizinhança e foi quem organizou a logística. Ele também é engenheiro civil estrutural, acompanhou a situação das casas e orientou os moradores. "Os moradores se uniram muito", diz o cozinheiro Aníbal Teixeira Caldas, diácono da igreja. A casa de Caldas não foi atingida, mas ele quis ficar na igreja ajudando as pessoas, enquanto a esposa está em outra cidade. Ele diz que ainda há muito a ser feito. Os voluntários partem agora para novos desafios.

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