Marcado pela presença de um grande número de policiais, o segundo protesto contra o aumento da tarifa de ônibus em Curitiba ocorreu de maneira pacífica no fim da tarde e na noite desta sexta-feira (10). O ato foi organizado pelo grupo CWB Resiste em conjunto com outros movimentos sociais e reuniu um número menor de manifestantes do que o registrado na última segunda-feira, quando houve confusão, atos de vandalismo e prisão de oito pessoas.
De acordo com os organizadores, cerca de 500 pessoas participaram da ação que percorreu todo o Calçadão da Rua XV de Novembro. Já a Polícia Militar contabilizou algo próximo de 150 manifestantes. Eles percorreram todo o trajeto da Praça Santos Andrade até a Boca Maldita gritando palavras de ordem e distribuindo panfletos para quem passava pela via. Dezenas de policiais acompanharam a movimentação do grupo.
A presença em massa da PM foi o que mais chamou a atenção antes mesmo do início do protesto. Cerca de 30 policiais monitoravam o movimento em frente ao prédio histórico da Universidade Federal do Paraná enquanto outros rondavam a praça em motos e viaturas. Um helicóptero chegou a sobrevoar a região em alguns momentos. Manifestantes que chegavam de mochila eram revistados.
De acordo com o tenente coronel Wagner Lúcio dos Santos, o objetivo da ação ostensiva foi coibir os excessos por parte dos manifestantes. “Estamos aqui para garantir o direito de livre manifestação das pessoas, mas sem permitir ilicitudes, como pichações e depredação de patrimônio”, disse. Na última segunda-feira, mascarados quebraram vidraças de bancos, picharam prédios e até agrediram uma cobradora. Desta vez, não havia ninguém ocultando o rosto.
O grande contingente da PM foi uma das razões apontadas pelos organizadores do ato como um dos motivos para a redução no número de participantes. Segundo Ana Carolina Spreizner, uma das lideranças do protesto, o medo afastou muita gente, seja membros de movimentos sociais ou da população em geral. “A sociedade civil já participa pouco e a repressão da última manifestação afastou ainda mais”, conta.
Mudança de estratégia
Na ação desta sexta-feira, os manifestantes adotaram uma estratégia diferente da utilizada no início da semana. No lugar de trancarem ruas, eles optaram por entregar panfletos e conversar com a população que passava pela Rua XV. “Os atos não são feitos apenas com protesto de rua. É também um trabalho de conscientização”, afirma Ana Carolina. “O objetivo é fazer um diálogo com as pessoas, com os trabalhadores que são afetados pelo aumento”.
E o que se viu ao longo de todo o trajeto foi uma recepção mais positiva em relação às demandas da manifestação. Várias pessoas paravam para acompanhar o avanço da marcha e alguns se juntaram ao grupo, seja na passeata ou nos gritos contra o aumento de R$ 3,70 para R$ 4,50.
A secretária Priscila Gouvea disse ser a favor de atos assim, sem violência e em que as pessoas exigem os seus direitos e expressam sua indignação. “Todos concordam com o protesto, mas alguns têm medo. Então tem que se manifestar, mesmo — mas sem quebrar nada”, afirma.
Bate-boca
Uma pequena confusão teve início ao fim do protesto, quando boa parte dos manifestantes já começava a dispersar. Dois homens que participavam do ato começaram a trocar xingamentos por questões ideológicas em plena Boca Maldita em frente aos policiais militares. Eles se acusavam de “massa de manobra da esquerda” e “membro do MBL”. Ambos protestaram contra o aumento na tarifa. No entanto, apesar do bate-boca e da tensão surgida, a situação logo foi apaziguada pelos próprios manifestantes.
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