Nem metrô, nem ligeirão. Essa parece ser a sina dos milhares de passageiros que usam o transporte coletivo para cruzar Curitiba no eixo Norte-Sul, entre os bairros do Pinheirinho e de Santa Cândida. Apesar de prefeitura e governo federal seguirem negociando um reajuste do repasse da União para a obra do metrô, não há qualquer indicação de que o aporte extra será realizado. Se não houver correção, o projeto se torna inviável financeiramente.
A alternativa para melhorar o serviço nesse trecho é o ligeirão – ônibus expresso que para em menos estações. Mas essa proposta também não tem previsão de sair do papel.
O secretário de Planejamento de Curitiba, Fábio Scatolin, afirma que a prefeitura está “otimista” em relação a um possível acordo de reajuste do valor do projeto do metrô. Segundo ele, o projeto já está com a liberação ambiental em dia e com todos os ajustes solicitados pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) e Tribunal de Contas da União (TCU). Mas, de concreto, apenas a aparente disponibilidade da União em conversar, já que o outro parceiro da obra –o governo estadual – não sinalizou a manutenção do aporte financeiro que havia se comprometido.
Sem o metrô, o ônibus segue saturado. Atualmente, os veículos que fazem a linha Santa Cândida/Capão Raso transportam 171.315 passageiros por dia útil. Essa é a linha mais sobrecarregada da capital.O metrô, com capacidade para transportar de 30 mil a 80 mil passageiros por hora em cada sentido, seria adequado para resolver o problema do eixo.
Enquanto o metrô não sai do papel, a solução mais imediata é uma “reforma” do expresso. Segundo Scatolin, há uma possibilidade de retomada do projeto do Ligeirão Norte. Há três fatores, porém, que impedem que os “azulões” circulem nas canaletas do eixo Norte-Sul. A reforma do Terminal Santa Cândida, no Norte da cidade, ainda não foi finalizada. A expectativa é de que a obra termine nas primeiras semanas de fevereiro – mas isso exige novos aportes municipais.
Também será preciso definir onde o ligeirão fará a “curva Sul”, já que o retorno na Praça do Japão, previsto no projeto original, foi descartado pelo prefeito Gustavo Fruet (PDT). As opções são os terminais do Portão ou Capão Raso – que precisariam de adaptações para permitir o retorno dos ônibus. Além disso, depois da praça não houve obras de desalinhamento dos tubos, o que atrapalha a ultrapassagem dos biarticulados pela canaleta. Por fim, há a questão dos veículos: desde 2013, não há renovação de frota em Curitiba. Sem ônibus novos, não há azulão que circule.
O pé no freio dos gastos da União chegou às obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como é o caso do metrô e da Linha Verde Norte. Essa última só está caminhando porque a prefeitura iniciou as obras com recursos financiados pela Agência Francesa de Desenvolvimento. Outro parceiro do executivo municipal para alavancar verbas para obras é o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Eleições 2016
A construção do metrô de Curitiba não é unanimidade entre os pré-candidatos à prefeitura da capital. Nesta semana, a Gazeta do Povo fez uma sabatina com quatro aspirantes ao executivo municipal – outros três pré-candidatos ainda serão ouvidos.Veja o que eles pensam sobre a obra.
“O metrô hoje, pra mim é um processo que ele vai ficar em stand-by. Ele não vai acontecer e se alguém disser que vai fazer eu penso que deve dizer da onde que vem o recurso. Do Governo Federal, que está cortando cem, duzentos, trezentos bilhões de reais nos próximos anos, não vem. E sem recursos do Governo Federal não haverá. E pior ainda, o metrô sem subsídio não existe.”
Tadeu Veneri (PT), deputado estadual.
“Minha proposta continua sendo o veículo leve sobre pneus, muito mais barato do que o metrô. O metrô é inviável no mundo inteiro. Tem que buscar outros modais.”
Ratinho Junior (PSC), secretário estadual de Desenvolvimento Urbano.
“Ter um metrô é sempre bom. Mas vamos aos fatos reais. Nossa cidade tem hoje 25 mil pessoas só na fila para serem atendidas por um ortopedista. Se a cidade não está dando conta nem de atender a demanda dos seus cidadãos que estão doentes, será que esse é o momento para se comprometer com um gasto tão grande como certamente será o gasto para construção do metrô?”
Ney Leprevost (PSD), deputado estadual.
“Não faria [o metrô]. Se tivesse começado, aí iria revisar todos os contratos para ver se são factíveis. Já temos o expresso, que corta os eixos principais de Curitiba. Temos um sistema urbano começado pelo Jaime Lerner muito interessante, do expresso e dos alimentadores.”
Requião Filho (PMDB), deputado estadual.
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