Em 54 anos de existência, o Hospital Universitário Evangélico de Curitiba já enfrentou alguns percalços, mas talvez nenhum tão impactante quanto as denúncias envolvendo a médica Virgínia Helena Soares de Souza. As acusações do envolvimento da médica na morte de pacientes da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) geral da instituição, que vieram à tona em fevereiro, foram mais um golpe no hospital, que já sofria com problemas financeiros: só no ano passado, o centro médico pagou R$ 30 milhões em dívidas.
As denúncias de assassinato ocasionaram a troca de uma equipe completa. Segundo o presidente da Sociedade Evangélica Beneficente de Curitiba, mantenedora do hospital, João Jaime Nunes Ferreira, a sindicância interna aberta pelo Evangélico para investigar as denúncias está parada, porque os prontuários dos pacientes foram levados ao Ministério Público e não voltaram.
O Evangélico é o maior hospital particular do Paraná. Só no ano passado, foi quase 1,5 milhão de atendimentos prestados, sobretudo para usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Esses atendimentos podem crescer ainda mais em 2013. Isso porque o governo do Paraná negocia com o hospital um convênio para prestação de serviços para o Sistema de Atendimento à Saúde (SAS), que dá cobertura ambulatorial e hospitalar aos servidores estaduais. Em entrevista à Gazeta do Povo, Ferreira e o diretor-geral do hospital, Jurandir Marcondes Ribas Filho, falaram sobre a situação da instituição.
Como está o andamento da sindicância interna aberta pelo hospital?
Ferreira: A sindicância, infelizmente, não está funcionando. Foi instaurada, mas está parada porque não tivemos acesso aos prontuários, que foram levados ao Ministério Público, mas não voltaram. Também creio que as demais sindicâncias, pelo menos a do CRM [Conselho Regional de Medicina], estão na mesma situação.
Ribas Filho: A instituição, antes que haja orientação das comissões de sindicância, não pode se manifestar. Em relação a esse aspecto pontual da UTI, no qual foi envolvida a doutora que é conhecida hoje nacionalmente, essa é uma das quatro UTIs do hospital. Quase 20 mil pessoas no último ano passaram pela terapia intensiva e aconteceram esses problemas. Estatisticamente não é significante.
O hospital trocou parte da equipe?
Ribas Filho: Essa equipe é uma em uma das quatro UTIs. Hoje nós temos cerca de 600 doentes internados e 620 leitos no hospital. Os erros devem ser cobrados, os culpados devem ser punidos, mas se fala muito no erro médico, no erro da saúde. Embora não seja uma obrigação, ninguém fala no acerto. Em 2012 foram quase 27 mil internamentos, mais de 200 mil consultas eletivas, quase 5 mil partos e cesáreas, a UTI atendeu quase 20 mil pessoas.
Reportagens da Gazeta mostraram diferenças no atendimento do Evangélico em relação a outros hospitais de mesmo porte, com a realização de procedimentos mais invasivos e complexos nos primeiros dias de internação. Existe alguma orientação específica do hospital nesse sentido?
Ribas Filho: Procedimentos médicos são mundialmente discutidos. Muitas vezes você pode ter uma conduta mais agressiva, menos agressiva, mais humana, todas baseadas em protocolos. A medicina tem condutas que são divergentes e são aceitas perante o Código de Ética, até perante o Conselho de Medicina.
A Associação de Medicina Intensiva Brasileira diz que a doutora Virgínia Helena Soares de Souza não tem registro de intensivista. Ela era a responsável técnica pela UTI?
Ribas Filho: Ela não era a coordenadora da UTI. Confesso que não tenho os detalhes em relação a toda sua titulação, mas o que eu posso garantir é que ela era uma pessoa que tinha uma experiência na área de terapia intensiva, haja vista que não trabalhou como terapeuta intensiva só aqui. Ela já tinha trabalhado no Hospital Santa Cruz, que também é referência na área privada. Existem maneiras diferentes de outorgar títulos de especialistas que não só da sociedade especializada e não podemos esquecer da experiência do profissional. O próprio CFM não exige que o profissional de UTI seja titulado pela associação.
O convênio com o SAS, do governo do estado, deve vir para o Evangélico. Como estão as negociações?
Ferreira: Temos condições de atender o SAS, ele nasceu no Hospital Universitário Evangélico e foi muito bem. Ainda estão sendo acertados os detalhes da negociação e devemos resolver isso nos próximos dias. Somos referência em muitas áreas e o Estado e os usuários do sistema reconhecem isso.
É sabido que todos os hospitais beneficentes enfrentam dificuldades financeiras no país. Qual a situação do Evangélico?
Ferreira: O Sistema Único de Saúde é muito desatualizado, falando em termos de tabelas. Isso levou a grande maioria de instituições beneficentes a uma crise muito séria. No caso da Sociedade Evangélica não é diferente, também temos problemas, de longa data. Nosso hospital atende fundamentalmente ao SUS e nós precisamos reposicionar isso, rever isso. Estamos trabalhando nesse sentido, buscando alternativas de receitas e também junto à própria administração municipal, ao Ministério da Saúde. Nós temos algumas qualidades que muitas outras instituições não têm, como nosso pronto-socorro, que não fecha. O atendimento é ininterrupto e isso tem o seu valor.
Ribas Filho: Nosso hospital é responsável hoje por quase um quarto do atendimento à população do Sistema Único de Saúde de Curitiba e região metropolitana. A importância social da nossa instituição é extremamente significativa.
Quanto o hospital recebe e quanto gasta?
Ferreira: Em linhas gerais, para cada real gasto, o hospital recebe 65 centavos de remuneração do SUS na baixa e média complexidade. Na alta complexidade, ele tem uma rentabilidade diferente. Esse mix de serviços gera um resultado que, no nosso caso, é positivo. O fluxo de caixa hoje é positivo e temos pagado a conta de anos anteriores. Nosso problema é o acumulado até 2011. Essa dívida acumulada leva, escoa e sangra o hospital em boa parte das receitas.
Dá para precisar os valores?
Ferreira: Nós temos um custo financeiro mensal em passivos da ordem de R$ 3 milhões e isso é muito dentro da nossa receita mensal. Se não tivéssemos essa questão bancária, teríamos R$ 3 milhões por mês para investir no hospital e remunerar corretamente o corpo clínico e os funcionários.
Ferreira: Em 2012, nossa instituição pagou de dívidas financeiras mais de R$ 30 milhões. Isso faz ver o vigor da instituição, que, apesar das muitas dificuldades, continua operando e honrando seus compromissos.
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