Ter por perto um cemitério pode ser sinônimo de problema, mas a realidade é bem diferente dos filmes de terror. O que coloca medo em cientistas e engenheiros é o impacto ambiental provocado por esses locais. Na tentativa de diminuir efeitos como contaminação de lençóis freáticos, o primeiro Simpósio Nacional de Engenharia de Cemitérios analisa, até amanhã, alternativas e a importância da adequação aos regulamentos estabelecidos pelo poder público.
A engenheira agrônoma Elma Romanó, do Instituto de Engenharia do Paraná (IEP), coordena o evento. Ela também é chefe do escritório de Ponta Grossa do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e foi responsável, há duas semanas, pela interdição de um dos cemitérios da cidade, o São Sebastião. Lá, o cenário era digno de uma cena do clássico "Poltergeist": a erosão provocada pela água da chuva chegou a deixar à mostra caixões abertos.
Elma explica que a decomposição dos corpos produz dois ácidos potentes. Sem impermeabilização adequada, eles podem descer até os lençóis freáticos fontes de água para a população. Outras fontes de contaminação podem ser os metais pesados de caixões e a radioatividade em pessoas que morreram de câncer e passaram por tratamentos de radioterapia. "Ainda pode haver problemas com mau cheiro e até o impacto psicológico de morar ao lado de um cemitério", completa.
"Existe uma resolução de alcance federal com regras para cemitérios, mas o governo do Paraná a achou insuficiente e emitiu uma regulamentação mais restritiva", explica Elma. No entanto, o prazo de 90 dias para os cemitérios irregulares solicitarem licença ambiental, e de 180 dias para os regularizados pedirem exame ambiental, já expirou há muito tempo, sem resultados. "O provável é que demos novo prazo", diz a engenheira, acrescentando que a maioria dos 24 cemitérios de Curitiba, inclusive públicos, está irregular.
Elma aponta como modelo o Cemitério Vertical de Curitiba. "Se eu fosse escolher um local para ser enterrada, seria lá", diz. Ela conta que os caixões são colocados sobre um recipiente de PVC, que impede a passagem dos ácidos da decomposição. "Quando há impermeabilização, não existe impacto ambiental", resume. Como contraste, a engenheira comenta a situação do Cemitério Santa Cândida, também na capital, em que havia 3 mil corpos em área de várzea. O problema está sendo corrigido pela prefeitura. Ela estima que seriam necessários pelo menos R$ 20 mil por cemitério para que todos estivessem de acordo com a regulamentação.
Os temas do seminário incluem aspectos legais, geológicos e químicos relativos ao impacto ambiental de cemitérios. A bioquímica e farmacêutica Célia Wada, das Secretarias Municipais de Saúde e do Verde e Meio Ambiente de São Paulo, pretende levar a idéia para a capital paulista em poucos meses. "Em São Paulo, o problema é muito grave. O evento é importante para abrir os olhos dos responsáveis", diz. O fim definitivo da preocupação, para Elma, passa por uma solução não de cinema, mas de novela. "O ideal seria que ninguém morresse", brinca. "Como isso não é possível, a cremação seria uma alternativa, mas entendo que muitos possuem restrições de ordem religiosa", completa a engenheira.
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