Em 2012, o então deputado Jair Bolsonaro chamou a atenção do país ao protestar contra o 9º Seminário LGBT realizado na Câmara dos Deputados, que naquela ocasião tinha como tema a educação para a “diversidade sexual” na infância. De lá para cá, o seminário continua se repetindo anualmente. E, em 2020, a infância voltou à pauta: um dos principais temas foi a defesa da tese de que existem crianças transgênero, e que os profissionais de saúde nada devem fazer a não ser facilitar o processo de transição desses pacientes.
O evento, que aconteceu entre os dias 8 e 10 de dezembro, contou com o apoio de PSOL, PT, PCdoB e PSB, e teve a participação de deputados como Maria do Rosário (PT-RS) e David Miranda (PSOL-RJ).
O seminário mobilizou dezenas de ativistas, muitos deles com discursos radicais contra o governo e a “onda conservadora”. Júlio César Barbosa, do Coletivo dos LGBT Sem-Terra, protestou contra a “retirada de direitos” enquanto a imagem de sua transmissão exibia, ao fundo, um grande retrato de Fidel Castro pendurado na parede. Entre os convidados, também estava a transexual Indianare Siqueira, apresentada como “prostituta, vegana e militante pelos direitos das mulheres”. Ela chegou a ser presa e condenada na França por exploração da prostituição, e foi expulsa do PSOL em 2019 por um motivo semelhante, antes de se filiar ao PT. Outra participante foi Carolina Iara, eleita “co-vereadora” no mandato coletivo do PSOL em São Paulo. Em sua fala, ela afirmou que o governo não dá a atenção devida aos pacientes com HIV por causa da “política genocida do governo federal de acabar e matar a população LGBT pelo SUS”.
Mas a participação de maior destaque foi a de um garoto de 12 anos que se identifica como garota e foi exaltada pelos participantes como um exemplo positivo. A criança, que participa de competições de patinação e cujo nome a Gazeta do Povo optou por não divulgar, foi saudada como “a nossa grande estrela do dia” por Vivi Reis (PSOL), vereadora de Belém (PA) que participava do debate.
A criança que se identifica como transexual foi criada em um orfanato e adotada por um casal gay quando tinha oito anos de idade. Pouco tempo depois, adotou a identidade de menina. Agora, aos 12, passou a tomar bloqueadores de puberdade, que impedirão o desenvolvimento natural do organismo. Ao lado do pai na videoconferência, falou pouco: ele tomou as rédeas e se queixou, dentre outros problemas, das dificuldades para que pudesse competir como garota e usar o banheiro feminino. “O ambiente da patinação e extremamente heterocisnormativo”, reclamou.
Outro participante do seminário foi o médico Alexandre Saadeh, coordenador do Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual, do Hospital das Clínicas da USP. Ele defendeu que, para ser transexual, basta que a criança afirme sê-lo. Aos pais e médicos, cabe apenas aceitar e não questionar - mesmo que, mais adiante, a criança mude de ideia. “Tem crianças e adolescentes que vão fluir de um polo binário para o outro o tempo todo. E essa é a história daquela criança. Não sou eu que vou decidir se ela vai ser menino ou menina. É ela que vai dizer para a gente sempre quem ela é”.
O médico também defendeu que a “assistência” à transição de gênero em crianças e adolescentes seja oferecida já nas unidades básicas de saúde. E saudou a criança transgênero que participava do debate: “Eu sou fã dela, sempre fui, continuo sendo. Você brilha muito. Você é muito especial. Você tem um papel importantíssimo." Nem o médico nem os outros participantes do seminário trataram das muitas evidências científicas de que a maior parte das crianças que acredita ser transgênero acaba mudando de ideia com o tempo, e que os tratamentos hormonais, como os bloqueadores de puberdade, deixam sequelas que não podem ser revertidas.
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