Vídeo:| Foto: RPC TV

Sem holofote - Suplente de Roriz pode tomar posse nesta terça

O suplente do ex-senador Joaquim Roriz, que renunciou ao mandato para não responder processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética, Gim Argello (PTB-DF), pode tomar posse hoje. Sua assessoria informou ontem que o futuro senador está preparando a documentação para que ele possa tomar posse no fim da tarde.

Até ontem à noite, Argello não havia entregue na Secretaria Geral da Mesa a documentação necessária à sua posse. Mas a entrega e a posse podem ocorrer no mesmo dia.

Entre os documentos necessários para a posse estão cópia da Declaração do Imposto de Renda de 2007, relativo ao exercício de 2006, e a cópia de sua diplomação pelo TRE do Distrito Federal na condição de suplente na chapa de Roriz.

O futuro senador continua fugindo dos holofotes. Por isso, seus assessores informaram que Argello tomará posse no final do dia, após a ordem do dia, quando o plenário já deverá estar completamente esvaziado. Se a posse não ocorrer durante o dia de hoje, Argello também poderá ser empossado a partir de amanhã, quando começa o recesso parlamentar, mas, neste caso, em cerimônia fechada no gabinete da presidência do Senado.

Argello vai assumir o mandato correndo o risco de ser investigado pelo Conselho de Ética do Senado. O corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), já declarou que examinará os fatos apurados pela Operação Aquarela, realizada pela Polícia Civil de Brasília, onde há indícios e suspeitas de seu envolvimento na partilha de um cheque de R$ 2,2 milhões, emitido em favor do empresário Nenê Constantino, dono da Gol e de empresas de transporte coletivo.

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Brasília – Ensaiada nos últimos dias, a manobra para atrasar o aprofundamento das investigações contra o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), perdeu força. Hoje, a Mesa Diretora do Senado reúne-se para decidir sobre o envio à Polícia Federal (PF) do pedido de perícia detalhada nos documentos apresentados por Renan para, supostamente, comprovar ganhos de R$ 1,9 milhão com a venda de gado nos últimos quatro anos. Ele é acusado de ter despesas pessoais pagas pelo suposto lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior. Um mês e 15 dias depois que estourou o escândalo, Renan decidiu, finalmente, considerar-se, formalmente, impedido de qualquer iniciativa relacionada ao processo por suposta falta de decoro parlamentar.

Num movimento que sinalizou recuo no uso do arsenal de intervenções, o presidente do Congresso enviou ontem ao presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), ofício em que pede que "qualquer expediente" relacionado ao caso seja encaminhado ao primeiro vice-presidente da Casa, Tião Viana (PT-AC).

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Ao mesmo tempo, telefonou para integrantes da Mesa Diretora afirmando que não há manobra para adiar mais uma vez o processo.

Na quinta-feira passada, Renan surpreendeu aliados e oposição ao remarcar para hoje o encontro da Mesa. Ele alegou que precisava dar tempo para os advogados dele e do PSol, autor da representação ao Conselho de Ética e Decoro, tomarem conhecimento do pedido à PF.

Em represália, a oposição abandonou o plenário. Ontem, o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), voltou a ameaçar boicotar as votações caso o presidente do Senado articulasse alguma manobra protelatória na reunião, como um eventual pedido de vistas (mais prazo para analisar o caso) encomendado a um aliado do presidente.

"Se houver pedido de vistas, terá sido orientação do Palácio do Planalto. Não vamos aceitar isso. Em nome da credibilidade do Senado, não vamos aceitar votar nada sob a presidência de Renan Calheiros. Vamos nos retirar do plenário", disse Agripino. O senador Magno Malta (PTB-ES), quarto secretário da Mesa, negou ontem que tenha feito qualquer articulação para favorecer Renan. "Jamais pediria vistas ao processo", afirmou. O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), divulgou uma nota alertando que o partido "estará vigilante e confiante em que será resgatado, ainda que com juros de mora políticos, o acordo da semana passada, para que sejam repassados à Polícia Federal os elementos necessários à investigação dos documentos apresentados pela defesa". No comunicado, Virgílio afirmou que quer que o processo contra Renan tenha andamento. "Quem espera firmeza não se decepcionará com os senadores do PSDB e da oposição", disse.

"Agrado"

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Na tentativa de evitar a cassação do mandato, Renan não mede esforços para conquistar os colegas com pequenos agrados. No último sábado, ele incorporou o papel de "corretor" de gabinete – telefonou para o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) e ofereceu uma sala bem mais ampla e melhor localizada no Senado.

Eleito em 2002, o pedetista já tentou, pelo menos duas vezes, mudar de gabinete, sem sucesso. Cristovam não quis, no entanto, ocupar o espaço oferecido, que pertencia ao seu adversário político Joaquim Roriz (PMDB-DF), que renunciou ao mandato de senador, há duas semanas, para fugir da abertura de processo por quebra de decoro parlamentar.

Mas a ligação telefônica de Renan para Cristovam não foi em vão. O pedetista aproveitou o telefonema e acertou uma ida até a residência oficial da presidência do Senado para uma conversa. "Ele não deu sinais de que vai deixar o cargo. Mas eu o senti menos firme do que antes", contou Cristovam. "Para mim, ele admitiu que talvez tenha sido um erro não ter se afastado."

Defesa

Pela segunda vez em menos de um mês, o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini, defendeu Calheiros.

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"Não aceitamos linchamento público nem constrangimento para forçar o presidente do Senado a se licenciar da função ou a renunciar", afirmou.

Berzoini disse que ele "merece apreço" do PT porque sempre foi aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A defesa, porém, foi mais cautelosa do que das outras vezes.

"Ninguém está acima das investigações", ressalvou. "Cabe aos senadores verificar o que há de justo ou injusto nas acusações contra o senador e não há razão para termos um ponto de vista partidário sobre esse assunto."

O chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci, insistiu que Renan precisa ter "direito de defesa", mas evitou entrar no mérito das denúncias contra ele, sob a alegação de que só pode haver conclusão ao fim do processo.