Brasília – O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) parece decidido a se manter no cargo, e o Conselho de Ética ainda pode levar tempo para decidir seu caso, mas a sucessão à presidência do Senado já está em marcha. Nas conversas no plenário, no cafezinho, nos gabinetes e em jantares, os senadores avaliam o que fazer caso Renan tenha de renunciar ao cargo em decorrência da investigação de seus negócios agropecuários. Consenso não existe, mas já estão claras as estratégias: PMDB e Planalto querem um nome forte do partido para manter a força governista; a oposição, apoiada por setores do PMDB, defende senadores de menor projeção nacional para tentar enfraquecer o governo.

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Os mais experientes avaliam que, se Renan cair, seu sucessor sairá do PMDB, embora haja candidatos em todas as legendas. O ex-presidente da República e do Senado José Sarney (PMDB-AP) é o nome forte da vez. Seria o melhor dos mundos para o presidente Lula. Mas o senador nega que seja candidato.

"Não vou de jeito nenhum! Não há o menor risco de isso acontecer. Não quero nem a presidência da ABL, imagine a do Senado", diz Sarney, explicando que está prestes a se despedir de sua carreira política, o que pretende fazer, segundo ele, daqui a dois anos e meio, quando completar 80 anos.

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Derrotado na disputa pela presidência do Senado em fevereiro, o líder do DEM, Agripino Maia (RN), foi apontado como candidato natural, mas negou a candidatura. Justificou a declaração argumentando que o fazia para que não dissessem, ao fim, que ele inventara a jornalista Mônica Veloso, que tem uma filha com Renan, e foi o estopim da crise.

O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), é citado mas é cauteloso, porque a oposição pretende influir na escolha. "O governo terá que se entender profundamente com a oposição", afirma Virgílio.

Pedro Simon (PMDB-RS) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), da ala do partido não alinhada ao governo, dizem não acreditar em disputa no caso da queda de Renan, e que o cargo é do PMDB, maior bancada. Essa visão é compartilhada por aliados do governo – o difícil é um nome que agrade a todos.

Sarney teria votos da maioria do PMDB, da base aliada e até de parte da oposição. Mas Simon e Jarbas, como a oposição, não acham que seja a melhor alternativa. Preferem nomes mais independentes – ou mais fracos.

Outro nome que surge num grupo mais restrito – e seria a glória para Sarney – é o da líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA). Mas suas chances são mínimas: além de ter restrições pela função atual, ela é nova no PMDB.

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Solução

Para o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), a crise que tomou conta do Senado por causa das denúncias contra Renan Calheiros, só tem uma solução: o afastamento imediato dele da presidência. O ex-governador de Pernambuco diz que uma comissão de senadores deveria exigir a saída imediata de Renan, sem esperar pela decisão do Conselho de Ética. Para ele, o presidente do Senado tem que deixar de tratar com sua tropa-de-choque para enfrentar esta comissão. Jarbas acha que Renan defendeu-se com segurança e com farta documentação, mas não conseguiu dar explicações definitivas. Para ele, o caso trouxe danos à instituição. "O Senado está arranhado e sangrando. Mas ele tem como estancar isso. E procurar o caminho da transparência", diz.