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Depois de 50 dias encarcerada numa favela da zona leste de São Paulo, a estilista de 27 anos, vítima do seqüestro mais longo da história do Paraná – solucionado na madrugada de sábado pelo Grupo Tigre da Polícia Civil paranaense – estaria bem fisicamente, mas traumatizada, segundo relato de uma tia. Ela deixou a cidade na companhia da família, que não quer se manifestar sobre o assunto.

De acordo com os especialistas, esse trauma – mencionado com freqüência por pessoas que sofreram ações violentas – deve ser levado a sério. Conforme a personalidade, a ocorrência de doenças pré-existentes, o grau das agressões e/ou ameaças sofridas e o nível de informação, a vítima pode desenvolver o que os psiquiatras e psicanalistas chamam de Transtorno do Estresse Pós-Traumático (PTSD, sigla em inglês).

Tanto que em São Paulo, onde em 2004 foram registrados 112 seqüestros, o Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) criou um grupo de psicoterapia voltado especificamente para vítimas desse tipo de crime. O site do Ambulatório de Ansiedade (Amban), uma das equipes multidisciplinares ligados ao Instituto de Psiquiatria da USP, define o Transtorno do Estresse Pós-Traumático da seguinte maneira: "O PTSD ocorre quando, depois de presenciar acontecimento traumático que envolveu morte, grave ferimento ou ameaça à integridade física própria ou de outros, a pessoa revive persistentemente o evento, na forma de recordações aflitivas, pesadelos, ou passando a agir e sentir como se estivesse ocorrendo novamente".

Ainda de acordo com as informações veiculadas pelo Amban na internet, há sofrimento psicológico intenso quando a pessoa com PTSD é exposta aos indícios do fato ocorrido, além de reações fisiológicas desencadeadas pela lembrança da agressão (suores, tremores etc.). Também são característicos desse transtorno a esquiva persistente aos estímulos associados com o trauma, isolamento, desinteresse, sentimento de desesperança, dificuldades no sono, irritabilidade, hipervigilância e sobressaltos.

O Amban considera o quadro como agudo quando ocorre dentro de um período de até três meses após o trauma, e crônico quando tem maior duração. A reportagem tentou entrar em contato com o coordenador do Amban, o psiquiatra e professor da USP Francisco Lotufo Neto, que assina os textos sobre PTSD no site, mas ele não foi encontrado.

Para a psicanalista paranaense Juliana Radaelli, o PTSD seria "uma tentativa do ego [o eu consciente] de controlar a realidade, que o pegou de surpresa." "Ao relembrar, na mente e no corpo, as sensações de angústia, o ego tenta nos proteger de uma espécie de reatualização da separação da mãe [o objeto de amor], revivida num ato violento como um seqüestro", resume.

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