"Tudo vai dar certo"
Guilherme Voitch
O 12 de janeiro havia sido um bom dia para a freira Rosângela Altoé, 56 anos. O encontro dela e de Zilda Arns com religiosos do Haiti superara as expectativas.
Acesso a cemitério será restrito à família
Gladson Angeli
Um esquema especial será montado pela Guarda Municipal e pela Diretoria de Trânsito de Curitiba (Diretran) no Cemitério Municipal Água Verde, hoje, para o enterro de Zilda Arns. A cerimônia está marcada para as 17 horas e, ao contrário do velório, que foi aberto ao público, será acompanhada apenas por familiares.
De acordo com a prefeitura, para evitar tumulto e aglomeração de pessoas nas proximidades, as portas laterais do cemitério ficarão fechadas desde o início da manhã de hoje. Além disso, a entrada pelo portão principal será controlada por guardas municipais, que darão apoio à segurança posicionada dentro do cemitério.
A Diretran fará o bloqueio da Rua Professor Assis Gonçalves, no trecho entre a Avenida Água Verde e a Rua José Cadilhe, atrás do cemitério. Agentes de trânsito ficarão na região para orientar os motoristas. A Diretran também ajudará no cortejo que sairá do Palácio das Araucárias, no Centro Cívico (onde o corpo está sendo velado), em direção ao Cemitério Municipal Água Verde.
Maria Olina Aparecida, 70 anos, foi a primeira pessoa a chegar para o velório do corpo de Zilda Arns na manhã de ontem. Ela acordou às 5h30, tomou banho, café da manhã, caminhou até o ponto de ônibus e, antes das 8 horas, já estava na rampa de acesso ao Palácio das Araucárias, onde ocorreu a cerimônia de despedida da fundadora da Pastoral da Criança.
Há 12 anos, Maria Olina é coordenadora da pastoral no Alto Boqueirão. Ela viu Zilda apenas uma ou duas vezes e apenas a distância. Ontem, porém, ela foi a primeira pessoa a passar pelo caixão. Deixou uma rosa vermelha no chão. Mais tarde, já do lado de fora do palácio, Maria Olina tinha uma expressão de serenidade em seu rosto. E ela não era exceção: assim como ela, muitas outras pessoas que foram se despedir de Zilda Arns não estavam com os olhos marejados. O sentimento, mais do que de desespero, parecia ser o de admiração por alguém que cumpriu sua missão.
Caroline Arns, que falava em nome da família, lembrou que, em 2003, Zilda Arns perdeu a filha Silvia, que tinha 30 anos. Na ocasião, recorda Caroline, Zilda disse que a morte é um momento de reflexão e serenidade. "Na morte, temos de agradecer pelo dom da vida. É isso o que a minha tia Zilda costumava dizer quando alguém morria", contou a sobrinha, filha do senador Flávio Arns, diante do caixão coberto com a bandeira do Brasil.
Maria Neusa Rosas, 58 anos, passou quatro vezes diante do caixão. E contou que passaria dezenas de vezes se fosse possível. Ela foi a quarta pessoa a chegar, na manhã de ontem, para o velório de Zilda. Maria estava enrolada em uma bandeira do Brasil, tinha um lenço na cabeça e as unhas das mãos pintadas com as cores verde, amarelo, azul e branco. Ela disse que, por meio de sua indumentária, fazia uma homenagem àquela que melhor representou o país pelo mundo, "mais até do que os políticos".
Rene Antonio Filardo, 53 anos, veio de Governador Celso Ramos (SC) para acompanhar a despedida de Zilda. Atualmente, ele trabalha com serviços gerais, mas já foi segurança em Curitiba. Filardo lamenta que "tem muita coisa ruim no mundo", e Zilda era um exemplo de alguém que viveu para melhorar a vida entre os homens. Ele não deixou de reparar que as 400 pessoas que esperavam para entrar no Palácio das Araucárias, mesmo antes de as portas abrirem, estavam com o semblante suave. "Assim como era suave olhar para dona Zilda. Bastava olhar para ela para ficar melhor, no mesmo instante", disse Filardo.
O corpo de Zilda Arns chegou ao Aeroporto Afonso Pena às 10h19, dentro de um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), e seguiu em cima de um caminhão do Corpo de Bombeiros até o Palácio das Araucárias. Uma hora depois, até a garoa fina cessou, e um silêncio marcou a descida do caixão, que foi levado por oficiais militares até um dos saguões da sede do governo do Paraná.
Às 12h30, a segurança liberou, aos poucos, o acesso. A fila começou a andar. Um pouco antes, às 11h40, as quatro centenas de pessoas que esperavam para entrar no Palácio das Araucárias rezaram, em coro e em seguida, o Pai Nosso (uma vez) e a Ave Maria (quatro vezes). Entre os que rezavam estava Dejair Passos da Silva, 37 anos. Ele é o coordenador da Pastoral da Pessoa Idosa da Paróquia Nossa Senhora da Paz, no Boqueirão. Silva conheceu Zilda Arns no dia 7 de novembro do ano passado, durante a comemoração de cinco anos da Pastoral da Pessoa Idosa, na sede da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
Silva recorda que, naquele encontro, Zilda mencionou o trabalho no Haiti, onde, de acordo com a médica e sanitarista, era mais do que necessário realizar ações para ajudar pessoas necessitadas.
Ninguém podia imaginar que a tentativa de levar a pastoral ao Haiti seria o último gesto de Zilda. Aos 75 anos, a médica catarinense, nascida em Forquilhinha, encerraria sua vida na tragédia que arrasou o país. Sua fé e as duas décadas e meio à frente da pastoral, no entanto, fizeram com que ninguém visse esse último esforço como perdido. Talvez seja por isso que, apesar da emoção, houve tantos rostos serenos na despedida a Zilda Arns.
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