Curitiba Ele ganhou. E de virada. O deputado federal paranaense Osmar Serraglio (PMDB) não esconde o sorriso ao assumir a primeira-secretaria da Câmara dos Deputados, um dos cargos mais cobiçados da Casa. Após vencer resistências dentro do próprio partido, inicia suas atividades na posição com a promessa pública de tentar reverter a péssima imagem de corrupção do Congresso.
O parlamentar desconversa quando questionado sobre o apoio do PMDB a Arlindo Chinaglia (PT- PR), candidato de preferência dos envolvidos no famoso escândalo do mensalão a compra de votos de parlamentares por deputados governistas descoberto em 2005 prática combatida por ele enquanto relator da CPI dos Correios, comissão responsável pela investigação do caso no último mandato. Para Serraglio, o importante agora, disse em entrevista à Gazeta do Povo, é garantir a aprovação de projetos importantes para o desenvolvimento do país, como a reforma tributária e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Gazeta do Povo Sua vitória foi de virada. O que aconteceu?Osmar Serraglio Penso que a turma que era Hermes (Parcianello, PMDB-PR) no primeiro turno, votou em mim no segundo. Também acredito que a Câmara tenta recuperar o prestígio e escolhe pessoas relacionadas a essa nova imagem que busca, já que trabalhei na CPI dos Correios. Recebi esses votos como uma demonstração de confiança.
Como foi a articulação para manter a candidatura até o fim, mesmo tendo como concorrente o próprio líder do partido na Câmara?Uma tarefa árdua. É bom lembrar que antes de sair candidato eu consultei o próprio Wilson, que depois foi o meu adversário. Na época, comentei que caso ele fosse candidato, eu me lançaria para a liderança do partido. Ele garantiu que não seria. Na última hora, poucos dias antes da eleição, o Wilson antecipou em um dia uma reunião que estava marcada, com a ausência de 30 deputados reeleitos, e lançou sua candidatura. Na mesma oportunidade comuniquei a todos a decisão de continuar mesmo assim.
Em algum momento o senhor teve medo de retaliações dentro do PMDB?Não. Agora, com a vitória na mão, menos ainda.
Com essa vitória a bancada paranaense vai se fortalecer?Antes de tudo é bom lembrar que ela não tem sido inexpressiva. Os paranaenses têm sido representantes em comissões importantes da Câmara, como o Hauly (Luiz Carlos, PSDB) na de Tributação, o Alex (Canziani, PTB), na de Turismo, o Sciarra (Eduardo, PFL) na do Orçamento, o Moacir Micheletto (PMDB) na da Agricultura e até a da Justiça, da qual participo. Isso posto, a bancada deve se fortalecer sim com esse quadro.
Na sua visão, por que Arlindo Chinaglia (PT-SP) venceu na disputa pela presidência da Câmara?A minha visão política é que o equívoco do Aldo (Rebelo, PC do B-SP) foi se aproximar do PFL. Dessa forma, tirou a opção do PMDB de ser o partido preferencial do presidente, caso ele vencesse. Quando o PMDB percebeu que nesse cenário ele seria apenas o terceiro da lista, partiu para a candidatura de Chinaglia, para ser a principal legenda depois do PT.
Por que a terceira via não vingou?Essa turma dos 30 deputados da terceira via, o Jungmann (Raul Jungmann, PPS-PE), o Gabeira (Fernando Gabeira, PV-RJ), flertaram primeiro com o PMDB porque nós éramos o partido que daria sustentação jurídica a essa tentativa de um terceiro nome. Como maior partido, estaria de acordo com o pré-requisito da proporcionalidade. Eles procuraram o Temer (Michel Temer, PMDB-SP) e a mim para tentar esse caminho, mas nós não aceitamos.
Por quê?Porque já existia um quadro desenhado. Era uma eleição perdida. Alguns paranaenses olham os votos dos deputados do Paraná e não entendem porque eles não foram junto do Gustavo (Fruet, PSDB-PR). Mas se eles apoiassem o Gustavo, estariam fora dessas duas grandes forças, é uma situação irrealizável e estariam fora do jogo político.
Depois da batalha contra a corrupção na CPI dos Correios, não é uma incoerência do PMDB estar junto de um candidato como o Chinaglia, que tem o apoio do grupo do mensalão? Tudo pelos ministérios?O PMDB fez uma opção política. Queria ser o preferencial no governo federal. O apoio a Chinaglia não é uma aprovação ao mensalão e ao grupo do José Dirceu, mas ao governo de coalizão do presidente Lula. Não votaram na pessoa de Chinaglia, mas na coalizão.
O que precisa ser aprovado com urgência nos próximos quatro anos?Sem reforma tributária, não existe federação nesse país. Desde 1988 até agora, a União dobrou sua receita enquanto que os outros que integram essa relação federativa, que são os estados, estão deficitários. Sou contra o fim da lei de responsabilidade fiscal, mas é preciso fazer uma reforma tributária que equilibre melhor essas forças.
Como avalia a mensagem que o presidente Lula enviou para o Congresso, uma espécie de pedido de apoio aos seus projetos como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)? Quais são as chances de governabilidade do presidente?Penso que a oposição vai brigar, mas não inviabilizar medidas interessantes para o Brasil. O apoio do PFL ao Aldo, que é Lula, e o do PSDB no segundo turno ao Chinaglia, que é Lula, comprova essa tese.