Rio de Janeiro – Na década de 70, uma típica família de classe média brasileira comprometia 7% da sua renda, equivalente a 25 dias de trabalho por ano, com a aquisição de serviços como educação, saúde, segurança, previdência privada e pedágio. Em 2006, o custo desses serviços, que são normalmente fornecidos pelo Estado e, em grande parte gratuitos, já comia 31% da renda da classe média, ou o equivalente a 113 dias de trabalho por ano. Esses dados podem ser encontrados no Estudo sobre os dias trabalhados para pagar impostos e a ineficiência do governo, um trabalho de maio de 2006 do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). "A grande injustiça é que a classe média, que paga mais impostos, quase não utiliza os serviços públicos", diz Gilberto Luiz do Amaral, presidente do IBPT.

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Segundo Amaral, a classe média é responsável por 60% da arrecadação dos impostos das pessoas físicas no Brasil, embora corresponda a uma parcela muito menor da população. O estudo do IBPT mostra que, em média, o brasileiro que ganha até R$ 3 mil deve destinar, em 2006, uma parcela de 38,83% dos rendimentos para pagar impostos. O grupo com rendimento acima de R$ 10 mil deve gastar 41,53% para o mesmo fim. E a classe média, que fica no meio, dará a maior contribuição proporcional, de 42,58%. No caso da saúde e educação, a classe média tem despesas equivalentes a 24,09% da renda bruta, comparado com 19,2% dos ricos e 8,9% dos que ganham até R$ 3 mil.

O cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio, acha provável que a classe média seja cada vez mais excluída dos serviços e benefícios públicos. "Há uma tendência de os gastos sociais ficarem mais focalizados nas camadas mais pobres", ele diz, citando como exemplo típico o programa Bolsa-Família.

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O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva descartou, por enquanto, a idéia de impor uma idade mínima para as aposentadorias do setor privado, mas os especialistas acham que a medida fatalmente terá de ser tomada no médio prazo. Ismael prevê que, no futuro, o benefício máximo da Previdência pública do setor privado encolha para de 3 a 5 salários mínimos, ficando o restante para ser coberto por planos privados.

Os satisfeitos

O cientista político observa, porém, que há um segmento da classe média relativamente satisfeito, que corresponde aos que estão ligados às estatais e ao serviço público. Depois da era de contenção de salários na máquina do governo e de privatizações, típicas do governo de Fernando Henrique, Lula tem tratado os funcionários públicos e de estatais com mais generosidade, numa tendência que se acentuou neste ano final do seu primeiro mandato.