Servidores do Planalto fazem “vaquinha” para pagar viagem de lavrador

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Brasília – Um dia depois de ter saído algemado do Palácio do Planalto após uma frustrada tentativa de invasão, o agricultor Ângelo de Jesus, 37 anos, foi recebido ontem pelo chefe-de-gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho. Visitou a sala na qual trabalha o presidente, tirou fotos e ganhou dinheiro para voltar de ônibus a Pindobaçu, cidade onde mora, na Bahia.

O dinheiro foi coletado numa "vaquinha" entre funcionários do gabinete, informou a Presidência.

Ângelo disse ter vindo a Brasília para "salvar a Bahia" e denunciar a corrupção de prefeitos. "Queria reclamar (ao presidente) para ele fiscalizar mais a Bahia". Ele vestia jeans, camiseta e chinelos. Usava uma tipóia porque tem um problema no braço – sofre de hanseníase.

Ângelo disse ter passado quatro dias sem comer na jornada, de carona, que o trouxe até Brasília. "Valeu a pena, graças a Deus", disse, ressaltando: "Sei que ele (Lula) vai entender".

O agricultor não recebe verba de programas sociais do governo. Ontem, a Presidência ficou com sua documentação para ver se pode enquadrá-lo entre os portadores de hanseníase beneficiários.

O lavrador tentou invadir na quinta-feira o Palácio do Planalto para conversar com o presidente Lula. Seis seguranças precisaram segurá-lo e retirá-lo do hall de entrada do edifício.

Por diversas vezes, repetiu que só poderia falar com o presidente e gritava "presidente, socorre eu". Aos policiais, afirmou: "só sei falar com o presidente". Ao ser rendido, disse: "policial, você tem mãe? Eu não sou bandido" e que pobre sofria muito. Os seguranças tentaram acalmá-lo, sem sucesso, e o lavrador foi levado para uma ambulância dos bombeiros.

Ao saber do incidente, Lula ficou sensibilizado com o protesto e ordenou que um médico fosse visitá-lo no hospital em que ficou internado. Determinou que prestasse cuidados a Ângelo. Ontem ao deixar o Planalto, o lavrador pediu desculpas aos seguranças pela atitude da véspera.