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Segurança pública

Sesp revela escala para rodízio de PMs cedidos ao Gaeco

Atualmente, o Gaeco toca 638 investigações no estado: risco de esvaziamento | Roberto Custódio/ Jornal de Londrina
Atualmente, o Gaeco toca 638 investigações no estado: risco de esvaziamento (Foto: Roberto Custódio/ Jornal de Londrina)

A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) manteve a intenção de substituir os policiais cedidos ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), coordenado pelo Ministério Público (MP) do Paraná, e anunciou ontem uma escala de retorno desses agentes. Até dezembro, 27 dos 37 policiais militares que servem ao grupo serão trocados. Os policiais civis também serão recolhidos em data a ser definida. A decisão, que estremeceu as relações entre MP e Sesp, ameaça esvaziar as ações do grupo, que atualmente realiza 638 procedimentos investigativos.

Segundo o secretário de Segurança Pública, Cid Vasques, o rodízio de agentes é uma política definida com o objetivo de aproveitar a experiência adquirida pelos policiais no período em que serviram ao Gaeco. Desde que ele assumiu a Sesp, em setembro do ano passado, 11 policiais civis e seis militares já haviam sido recolhidos. Hoje, a maioria deles exerce funções diferentes das que desempenhavam no grupo.

A escala da Polícia Mi­litar prevê que, ainda neste mês, quatro dos 27 PMs que estão há mais tempo no Gaeco voltem a seus batalhões de origem. A intenção é que o rodízio ocorra a cada dois anos.

A divulgação do escalonamento acirrou os ânimos dos integrantes do grupo, que ameaçam uma debandada geral. Segundo o coordenador do Gaeco, Leonir Batisti, o trabalho do órgão pode simplesmente parar. "Vai esvaziar o Gaeco. Provavelmente, todos os policiais deixem o grupo", disse.

Para Batisti, a substituição dos policiais é uma represália à atuação do Gaeco, que tem entre suas atribuições o controle externo das polícias. No mês passado, por exemplo, o grupo concluiu a Operação Vortex, que apontou um esquema de corrupção envolvendo delegados e policiais civis.

"Os argumentos [da Sesp] até podem seduzir alguém, mas [o objetivo da mudança] é desestabilizar o nosso trabalho", avaliou Batisti. "Vai haver a interrupção de muitos trabalhos, muitas investigações vão se perder. Outras terão que recomeçar do zero", completou.

Sem retaliação

O secretário de Segu­rança rechaça a tese de retaliação e diz que a substituição dos agentes cedidos ao Gaeco vinha sendo discutida desde o ano passado dentro das polícias. A intenção dele é que os regressos ministrem pequenos cursos e whorkshops aos demais policiais. "Não há intenção de enfraquecer o Gaeco. Pelo contrário. Isso aperfeiçoa a segurança pública", disse. "A interação com o MP vai acabar se multiplicando. Vai ter mais gente trabalhando junto", acrescentou.

Agentes sofrem represálias no retorno à polícia

Policiais que serviram ao Gaeco foram pouco aproveitados após retornarem a suas corporações de origem. O destino dos agentes quase sempre tem sido serviços administrativos, bem distantes das atividades de inteligência e investigativas que desempenhavam no órgão especial. "Nenhum deles voltou a atuar em funções correlatas a que exerceram aqui", assegura o coordenador do Gaeco, Leonir Batisti.

A Gazeta do Povo ouviu quatro agentes que já foram cedidos ao Gaeco – dois ainda atuam no órgão. Eles destacam que não puderam desenvolver ou compartilhar nas polícias os conhecimentos que adquiriram no grupo. Pior: foram preteridos por colegas com menos formação.

"A experiência simplesmente não é transmitida", resumiu um policial civil que cumpre funções administrativas. "Não há preocupação com a capacitação que o servidor recebe. É sempre quantitativo e não qualitativo", afirmou um PM que também serviu ao grupo.

Como ao longo de sua atuação no Gaeco os agentes investigam policiais, quando retornam à instituição de origem, sentem na pele o corporativismo que impregna as forças policiais. "A gente faz o que as corregedorias deveriam fazer. E ficamos marcados por isso", afirmou outro PM. "A discriminação que a gente sofre dentro das polícias é violenta. Somos vistos como X-9 [gíria para dedo-duro]", contou um policial civil.

Em alguns casos, a discriminação se traduz em rejeição, de tal forma que os servidores não conseguem permanecer em um mesmo setor por muito tempo. Sob o rótulo de "traidores", são transferidos constantemente. "Minha experiência no Gaeco não serviu nada, porque virei ‘moeda de troca’ dentro da polícia", conta o policial civil. Ele já foi transferido três vezes desde que deixou o grupo.

O secretário de Segurança, Cid Vasques, confirma que o destino dos policiais que são recolhidos após servir ao Gaeco não era controlado pela Sesp, mas garantiu que vai supervisionar os resultados a partir de agora. "Seria um contrassenso estabelecer uma política com o propósito de aproveitar melhor esses agentes e não fazer o acompanhamento. Vamos cobrar das polícias", prometeu.

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