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"O Cafu é quem sabe", avisa o italianíssimo Vílson Burbello, 56 anos, ao ser perguntado sobre as origens da Sociedade Recreativa Umbará, da qual é membro vitalício e faz-tudo. Cafu, no caso, é Altevir Burbello, 52 anos, primo de Vílson. Ambos são membros de uma das 20 famílias mais tradicionais do bairro por onde circulam Zontas, Scroccaros e Rossis Borguezanis. A sociedade – uma espécie de clube à moda antiga – tem campo de bocha, amplo salão de baile e, claro, uma churrasqueira com capacidade para um boi inteiro, mais dez porcos e 50 galinhas.

Mas, segundo Altevir, faz tempo, não tem festa tão grande na charmosa Sociedade Recreativa Umbará, criada em 1956, durante uma conversa de bar entre moradores da redondeza, todos enfastiados com a falta de ter o que fazer nos fins de semana. No quesito passado, quem sabe das coisas é Abílio Zanon, 79 anos, que estava lá na fundação e atravessa a rua para contar como tudo aconteceu.

Àquela altura, os principais bairros de Curitiba já tinham suas sociedades beneficentes – boa parte delas encabeçadas por operários ou por italianos, quando não pelos dois. O Umbará foi atrás da sua – chegando a 500 sócios, número que hoje caiu pela metade. Em oito anos, a vistosa sede com 15 mil metros quadrados de área ficou pronta e por quase três décadas, além dos umbaraenses, o salão e o campo de bocha receberam visitantes de Cachoeirinha e Mandirituba, além de desfrutar das parcerias com a Sociedade 25 de Julho, do Xaxim, e a D. Pedro II, na Água Verde, também sucursais da Itália no Brasil. "Era bom aquele tempo", suspira Abílio, cuja paixão pela Recreativa acabou lhe custando a expulsão da paróquia local, onde era congregado mariano. Os padres viam com desconfiança a criação de um clube em que se podia beber e jogar.

Abílio – cujo apelido é inexplicavelmente Nelson, desde os tempos em que era um sem-sociedade – cura a saudade com um remediozinho caseiro. Todo santo dia, atravessa a rua e joga um carteado, no velho clube, com os amigos de sempre. Sua rotina não muda, mesmo que o Umbará já tenha gangues, rachas de carros na Avenida Nicola Pellanda e problemas de infra-estrutura em suas divisas com a Fazenda Rio Grande e o Sítio Cercado. "A Recreativa não vai acabar", garante o veterano, apoiado por Vílson e Altevir. O trio nostalgia mal sabe, mas faz coro com um pequeno exército de resistentes distribuídos pelos quatro costados de Curitiba. Não falta aqui e ali quem tente encontrar um futuro para as associações – apesar de terem perdido o "beneficente", mudado de nome, de razão social, de endereço e de finalidade nos últimos 40 anos.

Exatamente – 40 anos. Quando a Sociedade Recreativa Umbará nasceu, o modelo já tinha feito bodas de ouro. A Operária surgiu em 1883, mesmo ano da Garibaldi (leia matéria ao lado). Logo depois veio a Rio Branco – ou melhor: Handwerker Unterstuetzungs-Verein, nome pela qual não ficou conhecida. Como o tal fim custa a chegar, é provável que o sábio Abílio tenha razão. Vai ter sempre alguém atravessando a rua para jogar um quatrilho num sábado à tarde, desafiando as profecias e o milhão de ofertas de entretenimento da cidade grande.

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