De um lado, o governo federal defende a vinda de médicos do exterior para suprir a demanda por esses profissionais no país; do outro, a classe médica discorda da forma encontrada pelo Ministério da Saúde para resolver o problema. Em meio a essa disputa está a população, que aparentemente já escolheu de que lado ficar.
Levantamento nacional do Instituto Paraná Pesquisas revela que 70% dos brasileiros são favoráveis à chegada dos médicos estrangeiros. Em relação aos profissionais cubanos, 68% defenderam a contratação.
A pesquisa ainda questionou o que os brasileiros pensam do atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS). A maioria (60%) disse considerá-lo ruim ou péssimo. Entre aqueles que se declararam usuários do SUS, 88% disseram que o número de médicos na rede pública é insuficiente.
Para o diretor do Paraná Pesquisas Murilo Hidalgo, o levantamento resume o seguinte pensamento: "É melhor ter um médico, mesmo que estrangeiro, do que não ter". É o que pensa a diarista Áurea Silva, usuária da Unidade de Saúde do Bairro Novo, em Curitiba, que vai receber um dos médicos formados no exterior trazidos pelo programa Mais Médicos. "Eu me consultaria sem problemas [com um estrangeiro]. O importante é ter médico e ser atendido", afirma.
A agente educacional Marilza Aparecida da Costa também se diz favorável ao programa. Ela conta que morou em uma cidade onde não havia médico e que "a situação era triste". Marilza está entre os 83% de brasileiros que conhecem ou já ouviram falar do Mais Médicos. Em relação à polêmica envolvendo o governo e os Conselhos Regionais de Medicina sobre o registro dos estrangeiro, ela afirma que isso "é apenas uma burocracia".
Fiscalização
Para o Conselho Federal de Medicina (CFM), porém, não é bem assim. No início da semana, o presidente do CFM, Roberto Luiz d´Avila, afirmou que informações adicionais como a lotação dos profissionais e os nomes do tutor e supervisor do médico estrangeiro continuarão a ser exigidas para conceder o registro provisório. A argumentação é que essas informações são necessárias para fiscalizar a atuação desses médicos, o que é função dos Conselhos de Medicina.
Segundo Gérson Zafalon, representante do Paraná no CFM, a preocupação é ter segurança acerca da formação do médico que irá atuar no país. "O que batalhamos é que o médico estrangeiro ofereça um atendimento de qualidade. Por isso, insistimos para que fosse feito o Revalida [exame nacional para a revalidação de diplomas médicos expedidos por instituições do exterior] ou outro teste. Se o médico formado no exterior não fez um exame para mostrar seus conhecimentos, eu não sei se ele é bom", explica.
Após avaliação, governo reprova só um dos 682 intercambistas
Folhapress
Depois de três semanas de aulas e avaliações em oito universidades públicas, o governo reprovou apenas um dos 682 médicos intercambistas incluídos os 400 cubanos selecionados na primeira rodada do programa Mais Médicos. Após aulas e avaliações de português e conceitos básicos de saúde brasileira, 670 intercambistas foram aprovados, 11 ficaram em recuperação e um foi reprovado, informou o Ministério da Saúde.
A pasta não soube dizer, porém, de qual nacionalidade é o médico reprovado, que voltará ao país de origem e terá de ressarcir a União pelos gastos com a viagem. Os 11 em recuperação tiveram desempenho entre 30% e 50%, e terão duas semanas de aulas adicionais em Brasília.
Rio Grande do Sul
Em respeito a uma decisão judicial, o Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) liberou ontem os primeiros 19 registros provisórios do país para médicos estrangeiros e brasileiros formados no exterior, tornando-se o primeiro estado a fornecer o documento a profissionais do programa Mais Médicos. Os registros são para cinco brasileiros e três estrangeiros, sendo dois uruguaios e um palestino. Ao todo, o Cremers tem 40 pedidos em análise.
Ontem, a Advocacia-Geral da União informou que estuda ir à Justiça para cobrar dos Conselhos de Medicina os dias parados dos estrangeiros que não tiverem obtido os registros legais até amanhã.