Áurea Silva, diarista; Lourival Souza, aposentado e Gil Silveira, dona de casa, com o filho Natan| Foto: Fotos: Antonio More/ Gazeta do Povo

71% discordam do repasse de salários a Cuba

Da mesma forma que concorda com a vinda dos médicos cubanos, a maior parte dos brasileiros é contra a forma como esses profissionais serão remunerados. Pelo acordo entre os governos do Brasil e de Cuba, os R$ 10 mil referentes à bolsa paga a cada um desses profissionais serão repassados ao país de Raul Castro. O governo caribenho enviará aos profissionais parte desse dinheiro – o equivalente ao salário que receberiam se estivessem na ilha.

"Se eles estão trabalhando aqui, têm de receber o pagamento deles direto aqui", diz a dona de casa Gil Silveira. A opinião dela é refletida pelo levantamento do Paraná Pesquisas, que mostra que 71% dos entrevistados não concordam com a forma de pagamento dos médicos cubanos. Na avaliação do diretor do Instituto, Murilo Hidalgo, esse é o principal ponto de crítica da população ao programa federal. "Isso passou a impressão de se estar ajudando o governo cubano, o que não foi bem aceito", avalia.

O governo federal argumenta que o acordo com a administração cubana segue o padrão do que já foi feito em outros países onde médicos de Cuba atuaram. Ressalta ainda que os profissionais receberão auxílio moradia, alimentação e transporte das prefeituras das cidades em que vão atuar. Além disso, terão emprego garantido quando voltarem a Cuba.

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Tira dúvidas

Respostas a algumas dúvidas sobre a atuação dos estrangeiros e cubanos dentro do programa Mais Médicos:

Quanto os médicos cuba­nos vão receber de salário?

O Ministério da Saúde considerou as mesmas condições fixadas pelo edital do Mais Médicos – de R$ 10 mil. O valor, porém, será repassado ao governo cubano, que decidirá quanto vai mandar para cada médico considerando diversos aspectos. Fala-se em algo em torno de R$ 2,5 mil e R$ 4 mil.

Cubanos e demais estran­geiros terão direito a férias?

Sim. Além disso, podem se licenciar por motivos de saúde, licença maternidade e paternidade, convocação do país de origem ou falecimento de pessoa da família.

Como está sendo verifi­cada a documentação dos estrangeiros?

Os médicos estrangeiros precisam entregar os documentos legalizados previstos na medida provisória do Mais Médico na representação consular, que verifica a veracidade da documentação.

Como será feita a fiscalização do trabalho desses profissionais?

Tutores e supervisores vão acompanhar a atuação dos médicos estrangeiros. Já os Conselhos Regionais de Medicina terão a atribuição legal de fiscalizar os profissionais.

Como são selecionados os tutores dos profissionais estrangeiros?

O responsável pela seleção é o Ministério da Educação, que publicou portaria no Diário Oficial da União com as regras para adesão das instituições de ensino interessadas em participar do programa e para a indicação dos tutores.

Fontes: Redação e Ministério da Saúde.

Tutor

A Universidade Federal do Paraná vai acompanhar a atuação dos estrangeiros no estado. O médico Edevar Daniel, professor da UFPR, será o tutor desses profissionais. Segundo ele, ainda serão indicados os supervisores, que vão fazer o acompanhamento mais próximo desses médicos. Será observada a atuação dos médicos e feita orientações, com reuniões periódicas para a discussão de casos e assuntos técnicos.

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30 médicos formados em outros países devem começar a atuar no Paraná neste mês. O início das atividades estava prevista para a próxima segunda-feira, mas eles ainda não conseguiram o registro provisório no Conselho Regional de Medicina (CRM). No começo da semana, o CRM do Paraná informou que não iria conceder nenhum dos 20 registros já solicitados por problemas na documentação e falta de informações adicionais.

Opiniões

"O importante é ter médico e ser bem atendido. Se os daqui não querem atender, então que venham os de fora."

Áurea Silva, diarista.

"Acho bom que venham mais médicos, mesmo que estrangeiros. Não é que o médico brasileiro não seja bom, mas com a concorrência pode ser que eles fiquem melhores."

Lourival Souza, aposentado.

"Sem problemas ser atendido por um médico de fora. Se eles vêm para melhorar a situação, então é uma boa ideia."

Gil Silveira, dona de casa, com o filho Natan.

De um lado, o governo federal defende a vinda de médicos do exterior para suprir a demanda por esses profissionais no país; do outro, a classe médica discorda da forma encontrada pelo Ministério da Saúde para resolver o problema. Em meio a essa disputa está a população, que aparentemente já escolheu de que lado ficar.

INFOGRÁFICO: Confira a opinião dos brasileiros sobre a vinda de médicos estrangeiros para o Brasil

Levantamento nacional do Instituto Paraná Pesquisas revela que 70% dos brasileiros são favoráveis à chegada dos médicos estrangeiros. Em relação aos profissionais cubanos, 68% defenderam a contratação.

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A pesquisa ainda questionou o que os brasileiros pensam do atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS). A maioria (60%) disse considerá-lo ruim ou péssimo. Entre aqueles que se declararam usuários do SUS, 88% disseram que o número de médicos na rede pública é insuficiente.

Para o diretor do Paraná Pesquisas Murilo Hidalgo, o levantamento resume o seguinte pensamento: "É melhor ter um médico, mesmo que estrangeiro, do que não ter". É o que pensa a diarista Áurea Silva, usuária da Unidade de Saúde do Bairro Novo, em Curitiba, que vai receber um dos médicos formados no exterior trazidos pelo programa Mais Médicos. "Eu me consultaria sem problemas [com um estrangeiro]. O importante é ter médico e ser atendido", afirma.

A agente educacional Marilza Aparecida da Costa também se diz favorável ao programa. Ela conta que morou em uma cidade onde não havia médico e que "a situação era triste". Marilza está entre os 83% de brasileiros que conhecem ou já ouviram falar do Mais Médicos. Em relação à polêmica envolvendo o governo e os Conselhos Regionais de Medicina sobre o registro dos estrangeiro, ela afirma que isso "é apenas uma burocracia".

Fiscalização

Para o Conselho Federal de Medicina (CFM), porém, não é bem assim. No início da semana, o presidente do CFM, Roberto Luiz d´Avila, afirmou que informações adicionais – como a lotação dos profissionais e os nomes do tutor e supervisor do médico estrangeiro – continuarão a ser exigidas para conceder o registro provisório. A argumentação é que essas informações são necessárias para fiscalizar a atuação desses médicos, o que é função dos Conselhos de Medicina.

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Segundo Gérson Zafalon, representante do Paraná no CFM, a preocupação é ter segurança acerca da formação do médico que irá atuar no país. "O que batalhamos é que o médico estrangeiro ofereça um atendimento de qualidade. Por isso, insistimos para que fosse feito o Revalida [exame nacional para a revalidação de diplomas médicos expedidos por instituições do exterior] ou outro teste. Se o médico formado no exterior não fez um exame para mostrar seus conhecimentos, eu não sei se ele é bom", explica.

Após avaliação, governo reprova só um dos 682 intercambistas

Folhapress

Depois de três semanas de aulas e avaliações em oito universidades públicas, o governo reprovou apenas um dos 682 médicos intercambistas – incluídos os 400 cubanos – selecionados na primeira rodada do programa Mais Médicos. Após aulas e avaliações de português e conceitos básicos de saúde brasileira, 670 intercambistas foram aprovados, 11 ficaram em recuperação e um foi reprovado, informou o Ministério da Saúde.

A pasta não soube dizer, porém, de qual nacionalidade é o médico reprovado, que voltará ao país de origem e terá de ressarcir a União pelos gastos com a viagem. Os 11 em recuperação tiveram desempenho entre 30% e 50%, e terão duas semanas de aulas adicionais em Brasília.

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Rio Grande do Sul

Em respeito a uma decisão judicial, o Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) liberou ontem os primeiros 19 registros provisórios do país para médicos estrangeiros e brasileiros formados no exterior, tornando-se o primeiro estado a fornecer o documento a profissionais do programa Mais Médicos. Os registros são para cinco brasileiros e três estrangeiros, sendo dois uruguaios e um palestino. Ao todo, o Cremers tem 40 pedidos em análise.

Ontem, a Advocacia-Geral da União informou que estuda ir à Justiça para cobrar dos Conselhos de Medicina os dias parados dos estrangeiros que não tiverem obtido os registros legais até amanhã.

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