Diálogo e limite substituem o castigo físico
Para especialistas, é essencial que os pais entendam que deixar de bater nas crianças não significa deixar de dar limites. Educar é uma tarefa importante e os pais precisam dizer não e castigar os filhos quando eles fazem algo errado. Isso também é amor.
O que se discute entre educadores é que há outras formas de fazer isso que não a "palmada pedagógica". "O diálogo pode evitar prejuízos futuros no desenvolvimento da criança", garante o médico e coordenador do Pronto-Atendimento Pediátrico do Hospital Evangélico, Gilberto Pascolat.
Explicar porque a criança está errada e dar castigos simples, como cinco minutos para pensar no que fez ou a retirada do vídeo-game, são ações mais produtivas e saudáveis do que o castigo físico.
Discussão
Na última semana, a "lei das palmadas" gerou polêmica. Confira:
Interferência do estado
O principal argumento dos pais é que a proposta seria uma interferência do Estado na vida familiar. O advogado e professor do Centro Universitário Curitiba Waldyr Grisard Filho afirma que, no caso da lei que proíbe castigos físicos, há uma consonância com a Constituição Federal, que garante às crianças proteção integral contra qualquer forma de agressão, tanto física quanto psíquica.
Educação e mobilização
Outra discussão é que esse tipo de tema deveria ser tratado pela educação e não pela lei. O governo federal argumenta que a existência de um marco legal é recomendada pelas Nações Unidas, que na sexta-feira enviou uma carta ao presidente felicitando a proposta.
O que diz a lei
Projeto muda Estatuto da Criança
O texto enviado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Congresso altera o Estatuto da Criança e do Adolescente e diz que os meninos e meninas têm o direito de serem educados e cuidados pelos pais ou demais cuidadores sem o uso de castigo corporal ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação, ou qualquer outro pretexto.
Não há punição penal no caso de palmadas. Os pais serão encaminhados a tratamento psicológico, por exemplo. Casos de maus-tratos ou tortura são julgados por meio do Código Penal.
Outros 25 países já têm legislações semelhantes, a maior parte na Europa. A Suécia foi o primeiro, em 1979, seguido de Finlândia e Noruega.
Pais curitibanos são contrários ao projeto de lei que proíbe familiares e cuidadores de darem palmadas em crianças e adolescentes. Levantamento feito pelo Instituto Paraná Pesquisas, com exclusividade para a Gazeta do Povo, mostra que 66% dos entrevistados não concordam com a iniciativa. Nove em cada dez pessoas ouvidas disseram já ter apanhado e 70% admitem replicar isso nos filhos. E mais: somente 40% se arrependem. O projeto de lei, apresentado pelo governo federal na semana passada, levantou uma polêmica sobre a forma mais correta de educar crianças. Afinal, a "palmada pedagógica" é mesmo prejudicial?
Apesar de boa parte da população rejeitar a proposta, especialistas ouvidos pela reportagem são veementes em afirmar que o castigo físico não educa. O que ele faz é impor medo aos filhos, mas não os faz entender porque determinado tipo de comportamento é inadequado. Além disso, ensina que a melhor forma de resolver conflitos é a violência. Pesquisas científicas comprovam que crianças que sofreram esse tipo de maus-tratos têm o desenvolvimento comprometido e carregam traumas na vida adulta.
O grande problema nessa discussão são as alternativas para a educação dos filhos. Para especialistas, os progenitores acabam tomando o caminho das "palmadas pedagógicas" porque é mais fácil. Não raro, o castigo físico acontece quando eles estão cansados e estressados. Não conseguem educar os filhos e acabam culpando-os pela falha.
Outro ponto debatido é que a palmada frequentemente evolui para o castigo violento. Uma única palmadinha na mão sem violência não causa traumas, mas como não há diálogo, as chances de a criança repetir o comportamento são grandes. E aí os pais usam o castigo físico de forma cada vez mais recorrente e agressiva, como se fosse a única maneira de educar.
Mudança cultural
A palmada é aceita como medida de educação porque se tornou um hábito replicado por gerações, como mostram os 70% de aprovação dessa prática. "Os pais que fazem isso hoje criticavam esse hábito quando eram crianças", diz Carlos Eduardo Zuma, psicólogo e secretário executivo da Rede Não Bata, Eduque, uma das incentivadoras da criação do projeto de lei. "Há inúmeros exemplos de legislações que não foram aceitos no início e depois foram absorvidos", argumenta. Segundo ele, cinco minutos de castigo e um bom diálogo são mais eficazes do que palmadas e beliscões.
Para a psicóloga e coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Pequeno Príncipe, Tatiana Forte, a alta aprovação das palmadas pelos pais ocorre porque eles fazem uma associação com o fato de também terem apanhado.
Tatiana afirma que o fato de os pais justificarem a violência física em função da desobediência dos filhos é uma inversão de responsabilidades. Os progenitores entrevistados acreditam que as palmadas são necessárias quando os filhos desobedecem (44%) ou são mal-educados (37%). "O pai pune por impossibilidade de resolver a situação. E é incoerente, porque é contrário à legislação justamente por ter medo de uma punição", argumenta. "Se violência fosse critério de educação, as crianças espancadas sempre seriam as mais bem-comportadas" observa Tatiana.
Como exemplo para justificar o projeto de lei, a subsecretária nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, Carmen Oliveira, da Secretaria Especial de Direitos Humanos, usa o futebol. "A agressão física não é tolerada dentro do campo. Se um jogador comete um ato assim, é expulso. Por que banalizar a violência na família?", questiona.
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Interatividade
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