Curitiba
Capital é menos desigual, mas há problemas
Se o Paraná ocupa a 12ª posição entre os estados com maior desigualdade entre médicos da rede privada e os da rede pública, Curitiba ocupa melhor posição, ficando em 18º lugar entre as capitais brasileiras, com "apenas" 2,5 vezes mais médicos atendendo planos de saúde em relação ao atendimento do Sistema Único de Saúde.
Apesar de ter uma desigualdade menor que a médica nacional (3,9 vezes), e menor que a do Paraná, (5,5 vezes), e ter 4,85 médicos por grupo de mil habitantes, a carência de médicos ainda pode ser vista no atendimento público na cidade.
Seis horas
No começo de novembro, uma funcionária do Centro Municipal de Urgências Médicas (CMUM) do Sítio Cercado, na capital, foi agredida por uma mulher que aguardou atendimento das 18 às 22 horas. A paciente reclamava da demora. O coordenador-técnico do serviço de urgência e emergência, Luís Girardello, disse à época que pacientes em risco de morte eram atendidos em até 5 minutos e quando o caso pode comprometer algum órgão, a espera poderia levar até 1 hora.
Entretanto, o Sindicato dos Médicos do Paraná (Simepar) rebateu dizendo que a população estava revoltada por esperar horas por atendimento. A entidade afirmou que havia situações em que as escalas de trabalho ficavam incompletas e que o atendimento nas unidades 24 horas poderia demorar até seis horas.
Usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) têm quatro vezes menos médicos do que o setor privado, revela levantamento feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp). O trabalho mostra que para cada 1 mil usuários de planos de saúde no país há 7,6 postos de médicos ocupados. O índice cai para 1,95 quando se faz a relação entre postos ocupados e população dependente do SUS.As desigualdades são encontradas em todas as regiões. Nos serviços públicos do Nordeste, por exemplo, há 1,42 posto de trabalho médico preenchido por cada 1 mil habitantes. Bem menos do que os 9,62 por mil encontrados nos serviços privados. A maior diferença é constatada na Bahia. Um cidadão com plano de saúde tem 12 vezes mais médicos do que aqueles que dependem apenas do Sistema Único de Saúde. O Rio, por sua vez, exibe a menor desproporção: 1,63 mais médicos na rede particular do que na pública.
"Os números mostram que o problema não está na quantidade de médicos, mas na distribuição inadequada", afirma o vice-presidente do CFM, Aluísio Tibiriçá. O coordenador do trabalho, o pesquisador Mário Scheffer, destaca que em algumas regiões do país a relação de médicos e pacientes é menor do que registrada em países africanos e, em outros, superior a de países da União Europeia. "É preciso haver uma política para fixar profissionais nas regiões", avalia.
Na avaliação de Scheffer, a relação entre profissionais de saúde e população é muito menos importante do que a de postos de saúde disponíveis. Para ele, esse método pode ser útil para um diagnóstico preliminar, mas deixa muito a desejar quando se leva em conta as disparidades. As afirmações foram feitas justamente na data da publicação de resolução do Conselho Nacional de Saúde em que se recomenda a realização de estudos para determinar o número de médicos especialistas necessários para atender a população.
Para o presidente do Cremesp, Renato Azevedo Júnior, mais importante do que abertura de novas escolas e a formação de mais médicos, projeto anunciado pelo governo, seria o investimento maior no setor público. "É preciso ampliar a oferta de vagas, tornar a atividade mais atrativa com salários adequados e boas condições de trabalho."
Além de analisar a distribuição de médicos, o trabalho, chamado Demografia Médica na Brasil, traz ainda uma análise do perfil do profissional que atualmente está no mercado. O estudo identifica que a profissão é exercida predominantemente por jovens. O grupo de médicos de até 39 anos representa 42,5% dos profissionais da ativa.
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