Silenciosa e de sintomas discretos até resultar em complicações graves, a diabetes é hoje um problema de saúde pública mundial: são 422 milhões de pessoas com a doença no planeta, segundo o primeiro relatório global da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre a enfermidade.
Associada sobretudo à obesidade, o relatório mostra que a diabetes não é mais uma doença predominante nos países ricos, mas aumenta de modo geral e de forma mais pronunciada em países com renda intermediária. Para se ter ideia, o número de adultos diagnosticados quadruplicou desde 1980 e hoje afeta 8,5% dos adultos de todo o mundo.
No Brasil, que figura na quarta posição do ranking mundial de países com maior número de diabéticos da Federação Internacional de Diabetes (IDF), são 11,9 milhões de pessoas com a doença – cerca de 600 mil no Paraná. No Plano Nacional da Saúde 2012/2016, a diabete consta como a primeira causa de hospitalização do SUS, ao lado da hipertensão; e como a quarta causa principal de mortalidade para o sexo feminino.
Diagnóstico tardio é desafio de saúde pública
De acordo com a endocrinologista Rosângela Réa, médicos e pacientes lutam duas batalhas contra a doença: o diagnóstico tardio e a dificuldade de implementação adequada dos tratamentos.
Chegar ao diagnóstico não é complexo. Um simples exame de sangue pode revelar a diabetes: com uma gotinha de sangue e três minutos de espera, já é possível saber se há alguma alteração na taxa de glicemia. Para confirmar o resultado, o médico deve solicitar o teste oral de tolerância à glicose, mais conhecido como Curva Glicêmica.
A personalização do tratamento também é problemática. Hoje, existe uma boa variedade de medicamentos para a diabetes que, mais modernos, minimizam os danos provocados pela doença e promovem a perda de peso e o controle da pressão arterial. No entanto, a maioria dessas novidades está disponível apenas na rede privada.
Pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e pelo programa Farmácia Popular são fornecidas as insulinas NPH e regular e os hipoglicemiantes (orais) básicos: metformina (age melhorando a ação da insulina no fígado); a glibenclamida e a gliclazida (estimulam o pâncreas a produzir mais insulina). Segundo o Ministério da Saúde, só pelo Farmácia Popular, 2,7 milhões de brasileiros buscam os remédios mensalmente.
“Hoje, o maior desafio no Brasil é conhecer o paciente e desenvolver um programa terapêutico adaptado e que seja seguido. Entre 40% e 50% dos portadores de diabete desconhecem sua condição e muitos dos que sabem ignoram ou retardam o tratamento”, observa Rosângela.
Base do tratamento é disciplina
Diabetes é uma doença difícil. Na avaliação da endocrinologista Rosângela Réa, falta conscientização e disciplina por parte do paciente. “É uma doença de poucos sintomas iniciais e que exige muita disciplina. Isso desestimula. O tratamento está diretamente vinculado à dieta e à prática de exercícios, o que também é uma barreira”, explica a médica.
“Alguns pacientes dizem que preferem morrer a usar insulina. O tratamento existe, há uma gama enorme de terapias seguras, mas em contrapartida há uma educação deficiente do próprio paciente, que muitas vezes recusa o tratamento”, conta Adriano Mehl, médico responsável pelo Ambulatório de Feridas e Pé Diabético no Hospital Pilar.
Retardar o diagnóstico e o tratamento, no entanto, é temeroso. Quando sob controle, a convivência com a doença requer disciplina, mas não implica muitas restrições. No entanto, as complicações podem alterar drasticamente a rotina do portador: perda de visão, insuficiência renal, amputação de membros e problemas cardiovasculares (infarto e acidente vascular cerebral) estão entre os desdobramentos mais comuns. Em menos de 10 anos as primeiras complicações podem surgir se o tratamento não for seguido à risca.