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Educação Química

Simpósio de Química abandona a disciplina para tratar de feminismo, LGBTs e “resistência”

(Foto: Reprodução / Pixabay)

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“Questões de gênero e de sexualidade na formação de professores de química”. “O ensino de química como resistência: vamos contar outras histórias?”. “Pessoas transexuais (in)visíveis nos debates da educação química”. Esses são alguns temas da 19.ª edição do Simpósio Brasileiro de Educação Química (Simpequi), evento promovido pela Associação Brasileira de Química (ABQ), que será realizado em agosto. Promovido para debater formas de aprendizagem da Química, nenhuma das palestras previstas abordam diretamente soluções para o ensino eficaz da disciplina.

Desde sua primeira edição, em 2003, a pauta identitária nunca havia sido abordada com tão grande protagonismo nas conferências e painéis do evento. Para 2022, porém, foram convidados professores que apoiam abertamente a abordagem de temas identitários em sala de aula.

À Gazeta do Povo, a organização do simpósio defendeu a temática escolhida para este ano e disse que são discussões importantes para a educação química. Uma das responsáveis pelo programa é Anna Maria Canavarro Benite, doutora e mestre em Ciências pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e participante do Grupo de Mulheres Negras Dandaras no Cerrado. Os coordenadores do evento afirmaram ainda que os temas escolhidos são específicos para edição deste ano e que nos próximos anos irão propor outros assuntos, de acordo com as necessidades percebidas por eles.

Hamilton Varela, professor titular do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista para a Gazeta do Povo, afirma que congressos e simpósios acadêmicos são sempre pensados de forma que tratem sobre temas específicos e relevantes para a sociedade e para a academia, mas que, na visão dele, outros assuntos deveriam ser priorizados em um Congresso sobre educação química, disciplina com muitos desafios no Brasil.

Varela participa constantemente de congressos e simpósios da área no Brasil e no exterior, e afirma que a inovação e a excelência no ensino são dois temas que precisam ser tratados com urgência. "Não gostaria de questionar a legitimidade dos temas propostos pelo Simpequi", afirma. "Mas me chama atenção a falta de urgência em abordar outros temas. No Brasil, por exemplo, temos problemas em educar os alunos em sala de aula, temos uma grande evasão nos cursos de licenciatura, e ainda há a necessidade de formação de bons professores para o ensino médio. Tudo isso está ligado à educação em Química. Mas por que não priorizá-los? Afinal, este é um congresso regular e não específico sobre os temas tratados".

O contraste entre a academia e a vida real

Segundo o ranking universitário Research.com, publicado recentemente, as universidades brasileiras estão muito longe das melhores do mundo. A Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, é a universidade brasileira que, na área de Química, é a mais bem colocada e ocupa a posição 108 do ranking mundial, seguida pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na posição 213.

De acordo com o mesmo ranking, são 43 os pesquisadores dessas duas universidades que atingiram o “índice h” (metodologia que se utiliza de métricas objetivas adotada pela instituição) suficiente para serem consideradas pelo ranking. Ao compararmos esses dados com as universidades japonesas do topo da lista (Kyoto University e University of Tokyo), vemos que o número de pesquisadores é quase cinco vezes maior. Esses dados refletem os distintos níveis de qualidade entre as universidades brasileiras e aquelas do restante do mundo.

Para Varela, a prioridade dada na escolha dos temas do Simpequi representa um forte contraste entre o pensamento da academia e as necessidades reais da sociedade. “A população financia todas as pesquisas feitas, e a maior parte dos docentes [do evento] são de universidades públicas”, diz. “Todo congresso precisa escolher uma temática para aprofundar. Eu temo que, ao escolher uma temática tão específica quanto a escolhida pelo Simpequi, nós, da academia, podemos passar a impressão de que estamos de costas para a sociedade”

Temas como gênero, sexualidade e racismo ainda não dominaram os congressos de Química pelo país, mas Varela diz que é cada vez mais comum enxergá-los. E continua: “Não tenho certeza se estes temas passariam pelo crivo da sociedade. Se explicarmos para uma pessoa que paga seus impostos e sustenta as universidades públicas sobre o que é a Química e o que ela pode fazer para ajudar o seu dia a dia, talvez ficasse claro que algumas questões são mais abrangentes e prementes que as, certamente legítimas, discutidas no Simpequi”.

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