Componentes químicos presentes na água, fatores climáticos característicos de uma determinada região e herança genética podem explicar ou até desencadear algumas doenças. Essa relação entre meio ambiente e saúde foi discutida ontem em Curitiba, durante o Simpósio Ciência e Tecnologia na Geomedicina, promovido pelo Complexo Pelé Pequeno Príncipe. Participaram cerca de 250 pessoas de diversos estados do Brasil e palestrantes do Paraná, França e Estados Unidos.
A intenção do encontro foi informar e convidar outros pesquisadores a participar do projeto de Geomedicina desenvolvido pelo Pequeno Príncipe em parceria com a UFPR, Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia e Mineropar (vinculada à Secretaria de Estado da Indústria, Comércio e Assuntos do Mercosul).
O diretor do Instituto Pelé Pequeno Príncipe, José Álvaro Carneiro, explica que o projeto, inédito na América Latina, nasceu da necessidade de se levantar dados concretos sobre a influência de fatores ambientais na saúde humana.
Sabe-se, por exemplo, que o câncer de córtex adrenal (presente em uma glândula acima do rim), com grande incidência nas crianças paranaenses, possui influência genética. "Queremos descobrir se essa e outras anomalias genéticas podem ser também fruto de modificações no ambiente", diz Carneiro. A forte miscigenação no Paraná, bem como a utilização de uma grande variedade de produtos químicos na agricultura são fortes candidatas a exercer esse tipo de influência.
Segundo Carneiro, 90% das crianças que desenvolvem o câncer de córtex adrenal morrem. Teste de DNA oferecido gratuitamente aos recém-nascidos em 70% das maternidades de Curitiba e região metropolitana visa a diagnosticar precocemente os portadores da doença, fazer acompanhamentos freqüentes e tratamento adequado, reduzindo assim os índices de morte.
Além da teoria discutida durante o simpósio, testes práticos serão realizados em 736 pontos de bacias hidrográficas do estado. A intenção é analisar os componentes químicos presentes na água e relacioná-los com os índices das principais doenças de cada região do Paraná.
O simpósio foi também uma forma de lembrar e homenagear o cientista curitibano César Lattes, indicado duas vezes ao Prêmio Nobel de Física. Exposição de painéis, projeções, palestras de ex-colegas do cientista e atividades culturais completaram a programação.